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O Google Chrome não pode ganhar para sempre

por Miguel Magalhães (Texto) | 23 de Novembro, 2021

Comprar uma guerra que não se pode vencer é algo que pode ser visto como uma péssima decisão, mas para algumas empresas tecnológicas é um risco que vale a pena correr dada a oportunidade de ser o browser do futuro. Resta saber se o imperador da indústria, o Google Chrome, vai deixar que isso aconteça.

O título pode soar algo estranho. Afinal, como é que pode haver uma guerra quando quase todos usamos o Chrome para ter trinta janelas abertas enquanto tentamos completar todas as tarefas que temos num dia de trabalho?

É verdade que a plataforma da Google domina quase 70% do mercado, mas se há algo que a sua própria história indica é que nada dura para sempre. É que, em 2008, poucos meses depois de ser lançado, o Chrome tinha apenas 0.3% de todos os utilizadores online e o espaço era dominado por um tal de Internet Explorer que, nos anos seguintes, foi progressivamente caindo no esquecimento até desaparecer.

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A Google venceu introduzindo com a sua plataforma uma nova maneira de olhar para o browser: este não tinha de ser apenas uma ferramenta para visualizar página web (como era o caso do Explorer) e podia ser um ecossistema de aplicações que facilitavam a navegação e a colaboração do utilizador com outros. Atualmente, o poder do Chrome é tão grande que algumas aplicações só funcionam a 100% no browser e alguns dos seus principais rivais utilizam a sua plataforma open-source Chromium, para desenvolver os seus próprios produtos.

Então o que leva alguém a achar que tem uma hipótese de vencer a Google no seu próprio jogo?

  • Na era do trabalho remoto, a colaboração e a experiência do utilizador tornaram-se mais essenciais do que nunca e existem empresas que acreditam que podem pegar no modelo do Chrome e torná-lo ainda mais eficiente.
  • A oportunidade de negócio é imensa pois os criadores dos browsers ditam as regras de navegação online: decidem os anúncios que aparecem e os formatos em que são inseridos, colecionam dados dos utilizadores relevantes para vários anunciantes e agem em nome dos utilizadores numa série de dinâmicas.
  • As criptomoedas, a blockchain e o metaverso estão a revolucionar a forma como nos comportamos digitalmente e isso tem um impacto na forma como consumimos, comunicamos e operamos com o nosso browser de eleição. No estado atual das coisas, o Chrome é perfeito, mas será que conseguirá sobreviver num mundo em que, no nosso dia-a-dia, optamos por aplicações descentralizadas ou por utilizar óculos de realidade virtual para navegar online?

As outras Big Tech estão à espreita

No caso da Microsoft, a reputação no mundo dos browsers e motores de pesquisa está longe de ser a ideal, mas a empresa não quer baixar os braços e está disposta a utilizar todas as táticas disponíveis. O novo Windows 11 torna mais difícil para os utilizadores fazer a transição da opção default Microsoft Edge para o Chrome e inclusive bloqueia o download de aplicações que permitam instalar o Chrome de uma forma alternativa. Tudo isto para aumentar a utilização do Edge e levar as pessoas a utilizar o motor de pesquisa Bing (mesmo que seja para pesquisar por Google que é o termo mais pesquisado na plataforma). Contudo, a empresa deu uns passos importantes para se tornar numa referência no metaverso e talvez isso seja aquilo de que o Bing precisa para se tornar relevante.

No caso da Apple, a situação é um pouco mais favorável devido à predominância no mundo dos smartphones. Tem uma quota de mercado de 19% graças aos milhões de iPhones que são vendidos todos os anos, onde a utilização do seu browser Safari acaba por ser a regra. É por isso que a Google paga milhares de milhões de dólares por ano à Apple para ser o motor de pesquisa padrão nos seus telefones e é por isso que a empresa lançou uma nova política de privacidade que prejudica a posição dos seus mais diretos rivais. No entanto, ainda tem muito a fazer no que diz respeito a plataformas de colaboração e a colocar um pé no mundo da blockchain e do metaverso.

E algumas startups também

  • Brave – a startup promete que o seu browser é 3x mais rápido que o Chrome e permite maior proteção de todas as Big Tech, com cuidados extra na forma como utiliza os dados dos seus utilizadores para efeitos de publicidade. Além disto incluí no seu browser não só feeds de notícia, como carteiras digitais de criptomoedas. Muito promissor.
  • The Browser Company – o objetivo desta startup é construir uma melhor forma de utilizar a Internet, reimaginando a experiência do utilizador para combater o excesso de janelas abertas e para aumentar a sua produtividade. A intro minimalista do seu site é muito bem pensada.
  • Sidekick – esta empresa tem a comunicação do seu browser especialmente focada no trabalho e na facilidade de colaboração entre trabalhadores e entre aplicações. É utilizado por empresas como o Slack e a Uber.
  • Mighty – a startup não tem problema em comparar-se desde o princípio com Chrome, informando potenciais utilizadores de que faz o mesmo que o browser da Google, de forma mais rápida e ocupando 10x menos memória.
  • Ghost – construído no Chromium, o browser está destinado a aumentar a produtividade online. O objetivo não passa por concorrer diretamente com as funcionalidades do Chrome, mas sim de dar uma melhor forma de as integrar nas rotinas de trabalho.

As grande questões 

  • Há alguém melhor do que o Chrome para construir “o próximo Chrome”?
  • Conseguirão estas startups aguentar tempo suficiente para apresentar uma ameaça ou acabarão por ser adquiridas por uma das Big Tech?