Em Portugal, não só há uma grande falta de literacia financeira, como há até mesmo um tabu cultural em torno do dinheiro.
Não é novidade que a atração e retenção de talento é cada vez mais competitiva, especialmente quando se fala num país como Portugal, onde os jovens, a geração mais qualificada da história, estão em busca de oportunidades no exterior. Atualmente, são os profissionais que escolhem para que empresas querem trabalhar e, por isso, as propostas de valor que estas oferecem têm de ser cada vez mais atrativas.
Nos últimos anos, as empresas começaram a oferecer aos colaboradores seguros de saúde para promover o seu bem-estar físico e mental (especialmente após a pandemia). No entanto, o elefante na sala que os líderes evitam enfrentar e não estão a ser capazes de dar resposta é a promoção e o auxílio no bem-estar financeiro dos seus profissionais num contexto em que o custo de vida e as taxas de juro sobem a um ritmo acelerado.
Embora tenha nascido em Lisboa, nos últimos 12 anos, passei por países onde tive a oportunidade de experienciar diferentes abordagens financeiras e ver realidades onde este tema é muito mal e muito bem gerido. Passei pelo Brasil, onde receber o salário à semana é prática comum e as empresas que pagam mensalmente não são atrativas; por Singapura e Dubai, onde falar sobre investimentos é conversa de café; ou ainda Holanda, dos países da Europa com maior literacia financeira, onde falar de salários no trabalho é normal. Estas experiências fizeram-me notar que em Portugal, não só há uma grande falta de literacia financeira, como há até mesmo um tabu cultural em torno do dinheiro. Foi esta perceção que me fez querer regressar ao país para desenvolver uma solução como a Paynest.
De acordo com o último estudo do BCE, Portugal, um país onde não se fala de finanças na escola, nem em casa, nem no trabalho, ocupa a última classificação no ranking da literacia financeira entre os países da Zona Euro. A grande maioria das pessoas não sabe sequer o salário dos seus pais e é nestes moldes que vamos crescendo. Pode-se compreender que ignorar não é a solução e que não falar do assunto não ajuda a tomar as melhores decisões financeiras.
O próprio modelo de remuneração praticado continua, na grande maioria das empresas da Europa, a ser o tradicionalmente praticado há mais de 100 anos. O pagamento mensal do vencimento acontece ainda desta forma porque é um processo mais fácil para as empresas, enquanto nos EUA o pagamento on-demand já é mais comum ao ponto de ser regulamentado. A tecnologia evoluiu e podemos tirar partido das finanças integradas para revolucionar a relação com o dinheiro e esta relação financeira entre empresas e colaboradores.
Portugal, um país onde não se fala de finanças na escola, nem em casa, nem no trabalho, ocupa a última classificação no ranking da literacia financeira entre os países da Zona Euro. A grande maioria das pessoas não sabe sequer o salário dos seus pais e é nestes moldes que vamos crescendo.
Todos os setores evoluíram para o tempo real, podemos encomendar comida para o conforto de casa em minutos, ver um filme em plataformas de streaming com apenas um clique, mas só somos pagos 30 dias depois. O salário pode ser tão instantâneo como tudo o resto, dado que a tecnologia já existe e o mundo deverá evoluir em direção a uma economia gig, onde a gratificação instantânea é cada vez mais procurada.
Numa altura em que as dificuldades económicas são transversais à grande maioria dos portugueses, este entrave cultural intensifica a complexidade em falar sobre as dificuldades financeiras. Por ser um tema tabu e por se sentirem desconfortáveis para tal, os profissionais raramente pedem adiantamentos aos seus chefes ou aos Recursos Humanos. Se existisse um intermediário neste processo, como a Paynest, esta fricção empresa-colaborador poderia ser ultrapassada. Em situações onde surgem despesas inesperadas, as pessoas veem-se obrigadas a recorrer a microcréditos e a colocarem-se numa situação que gera uma bola de neve de endividamento. A nossa experiência é de que existem mais colaboradores com incumprimentos nos seus empréstimos do que com pedidos de adiantamento.
Ter um papel ativo na gestão de finanças pessoais traz inúmeros benefícios. Não só cria a oportunidade de impactar positivamente a vida dos trabalhadores, melhorando a sua saúde mental, mas também contribuir para a produtividade da organização, já que as preocupações financeiras afetam negativamente a sua concentração e desempenho. A disponibilização de benefícios como o salário flexível ou o acesso a programas de literacia financeira podem melhorar este contexto, aumentando também a sua satisfação no trabalho e a sua lealdade ao empregador.
Conscientes da fricção que existe em falar de assuntos financeiros, a solução para o papel que as empresas deverão ter na promoção do bem-estar financeiro dos seus colaboradores deverá passar pela escolha de opções que permitam fazer esta gestão de forma prática, simples, rápida e, principalmente, sem tabus, e é aí que entra a Paynest.