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Samsung causa pânico à Google (e a culpa é do Bing)

por Abílio dos Reis (Texto) | 18 de Abril, 2023

É o assunto que marcou este domingo: a Samsung pode estar a considerar substituir o Google pelo Bing como o motor de busca pré-definido nos seus dispositivos. A notícia apanhou o mundo de surpresa e no seio da Google há uma palavra que, segundo o New York Times, espelha o estado anímico dos engenheiros da empresa: pânico.

Em matéria de pesquisa online, o domínio do Google nos últimos anos é de tal ordem avassalador, que o próprio nome virou verbo e faz parte do léxico do nosso dia-a-dia. Porém, esta posição dominante que dura há mais de duas décadas está agora a sofrer os primeiros abalos graças aos novos desenvolvimentos em inteligência artificial (IA).

A nível de motores de busca, até há uns meses, o mundo seguia a sua tónica habitual “há o Google e o resto”. Mas a Microsoft, depois de anunciar a integração do ChatGPT no seu motor de busca (e de implementar IA noutros serviços), deu um novo alento ao Bing, que ganhou uma nova vida e está a desafiar o reinado duradouro e sem grande competição que existia no mercado.

No entanto, enquanto a Microsoft e outras empresas estão a apostar forte na integração imediata de IA nos seus produtos, a postura da Google não tem sido essa — e agora pode vir a pagar um preço por isso.

É que a Samsung, o segundo maior fabricante mundial de smartphones, que utiliza o sistema operativo Android, parece estar a ponderar trocar o Google pelo Bing como o motor de busca padrão nos seus dispositivos móveis, de acordo com o New York Times (NYT).

Segundo mensagens internas obtidas pelo jornal norte-americano, a reação no seio da Google à ponderação da Samsung foi mesmo de “pânico”. E não é difícil de imaginar porquê: além da percepção de que o n.º1 ficou pelo caminho, há ainda a possível perda de um contrato com a Samsung que representa anualmente três mil milhões de dólares de receitas.

  • Nota importante: apesar da notícia, a Samsung ainda está em negociações com a Google e pode muito bem estender o contrato e continuar uma ligação que já dura há 12 anos. Mas só o facto de a hipótese estar a ser considerada já é o suficiente para gerar preocupação (o tal “pânico”, como diz Times) entre os trabalhadores da Google. 

Além de enumerar as preocupações internas e a possível rutura entre as duas gigantes tecnológicas, o NYT adianta que a concorrência e o novo Bing estão a tornar-se rapidamente na mais séria ameaça (nesta área dos motores de busca) em 25 anos. E é por isso que o Google está a lutar para apanhar a rival Microsoft. Segundo o NYT, para já, com dois passos: 

  • Ao fazer atualizações no seu motor de busca atual, acrescentado updates com serviços de IA (haverá novidades e novas ferramentas no final do próximo mês);
  • Ao desenvolver o “Magi”, um novo motor de busca totalmente novo com integração de IA, que vai oferecer uma experiência personalizada aos utilizadores. 

Mas porque é que a Google está a demorar mais tempo a chegar à crista da onda se já investe há imenso tempo em IA e até tem um dos melhores laboratórios de investigação do mundo na área (o DeepMind, em Londres)? Parte da resposta a essa pergunta foi dada por Sundar Pichai, CEO da Alphabet, a empresa-mãe, também este domingo, numa entrevista ao programa “60 Minutos” da CBS.

Além de considerar a inteligência artificial “a tecnologia mais profunda em que a humanidade está a trabalhar” (“mais profunda do que o fogo ou a eletricidade ou qualquer coisa que tenhamos feito no passado”) e que esta é altura ideal para os governos se envolverem no processo “porque são necessárias leis” e está tudo numa fase inicial e de descoberta, Pichai explicou à CBS que a Google quis evitar também a situação “em que as pessoas que trabalham em [IA] nas empresas são apanhadas [na corrida] de ser o primeiro, que depois perdemos [noção] das potenciais armadilhas e desvantagens]”.

Todavia, como nota a Fortune e o artigo do New York Times, apesar desta mensagem pública mais ponderada e aparentemente responsável, internamente, o ambiente parece ser outro e a preocupação com a concorrência pode ser mais real do que aquela que o seu líder quer ou pode admitir publicamente.