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Depois da “Loucura dos anos 20” vivida na pandemia, deixámos de beber champanhe?

por Abílio dos Reis (Texto) | 22 de Abril, 2024

O normal é que associemos a LVMH a luxo e a produtos ligados ao setor da moda. No entanto, há uma parte do nome do grupo francês que por vezes fica à sombra dos tecidos requintados e das jóias refinadas: o Moët Hennessy. E é sobre ela de que iremos falar a seguir, pois parece que depois da “Loucura dos anos 20” durante a pandemia, o consumo de champanhe está a cair.

A LVMH Moët Hennessy Louis Vuitton, gigante do luxo em vários quadrantes do negócio da moda, anunciou na passada semana que registou uma receita de 20,7 mil milhões de euros no primeiro trimestre de 2024.

Bisbilhotando as palavras do relatório de contas, e não obstante o “ambiente geopolítico e económico que permanece incerto”, o grupo francês considera que “teve um bom início de ano”. Tanto que sinalizou que “o crescimento orgânico da receita” está nos 3%.

Todavia, há uma divisão da empresa que se ressentiu mais do que qualquer outra: a Wines & Spirits, que registou um declínio das receitas (-12% orgânico) relativamente ao mesmo período no ano passado.

A justificação? “O consumo de champanhe diminuiu, refletindo a normalização da procura pós-Covid”.

Loucos anos 20

Como recorda a Yahoo Finance, as vendas de champanhe atingiram máximos históricos em 2021 e 2022. Philippe Schaus, diretor executivo da divisão de vinhos e bebidas espirituosas da LVMH, disse mesmo na altura que procura de garrafas de champanhe era tanta havia quem perguntasse se estávamos perante o regresso “dos anos 20” (e mais tarde chegou a temer-se que ia faltar champanhe para celebrar o Natal porque não havia meios para satisfazer tanto pedido).

Esta ideia de loucura, diga-se, não era exclusiva ao negócio da LVMH. As notícias dos primeiros anos de Covid-19 falavam que era fenómeno social e transversal que aí vinha. Em 2021, Nicholas A. Christakis, médico e sociólogo norte-americano, chegou a dizer numa entrevista ao jornal Público, que acreditava que a partir de 2024 íamos entrar “nos anos 20 do século XXI”. Íamos testemunhar uma explosão de negócios e de libertação no mundo das artes, que iam trazer de novo toda aquela ânsia de socialização, por vezes excessiva, que marcou os tempos a seguir à Primeira Guerra Mundial.

Só que, vividos os primeiros meses de 2024, a realidade é bem diferente do excesso vivido nos tempos da Golden Age de Hollywood que Christakis preconizou, certamente longe de pensar que que haveria uma inflação e consequente aumento de custo de vida a obrigar a meter mais um buraco no cinto do consumidor.

O regresso à normalidade

Depois de um boom, as vendas de champanhe voltaram “à normalidade” em 2023. Segundo a Yahoo, as vendas caíram 8,2% o ano passado, algo que se pode traduzir em números por 299 milhões de garrafas. A título de comparação, em 2022, foram vendidas 326 milhões.

E ainda que a LVMH seja a maior produtora de champanhe do mundo e dona das marcas Moët & Chandon, Krug ou Veuve Clicquot, o champanhe parece ter perdido o gás e a “loucura” desceu para o nível das vendas, ou seja, para o que é habitual. O problema é que não é só o champanhe a sofrer: o famoso conhaque Hennessy também está em dificuldades, especialmente no mercado norte-americano.

O que nos leva a perguntar: será que a divisão está só a passar por uma ressaca pós-pandémica derivada da crise e vai recuperar nos próximos tempos ou as pessoas estão mesmo a deixar a deixar o champanhe depois da euforia da pandemia?

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