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Revolut desafia Apple e Paypal

por Miguel Magalhães (Texto) | 13 de Setembro, 2022

A empresa já é um banco digital e uma plataforma de transação de ativos como ações e criptomoedas. O próximo passo é estar nas zonas de checkout das principais lojas online.

Em 2015, a premissa da Revolut era bastante simples. O mundo estava a dar os primeiros passos da revolução fintech com uma série de novas soluções digitais para consumidores e empresas e a “startup” queria liderar esta transição. 

Em Londres, os fundadores – o russo Nikola Storonsky e o ucraniano Vlad Yatsenko – estavam ainda longe de imaginar o conflito que anos mais tarde se ia abater sobre as respetivas nações, mas tinham um roadmap claro para a sua empresa no que diz respeito a serviços financeiros.

Hoje é estranho imaginar, mas até há não muito tempo para sabermos o nosso saldo bancário e as nossas despesas tínhamos de nos deslocar de propósito a um multibanco e hoje podemos fazer isso com poucos cliques numa app no nosso smartphone. Mas como é que chegámos aqui? A evolução da Revolut ajuda-nos a perceber:

  • Começou por oferecer um cartão de débito Visa/Mastercard, que podíamos carregar diretamente através da nossa conta bancária e analisar todas as nossas despesas através da app Revolut (as primeiras versões já tinham a tecnologia contactless que hoje dá muito jeito).
  • Depois trabalhou num serviço de subscrição, onde certas modalidades do seu cartão davam uma série de benefícios ao utilizador (limites de despesa, cofres digitais, envio de dinheiro, entre outros) fosse no ecossistema Revolut, fosse na compra de serviços ou produtos com parceiros da plataforma (através de ações de cashback, por exemplo).
  • Com massa crítica, validação de mercado e tempo, vieram duas certificações para poder atuar na Europa não só como um banco digital, mas também como uma plataforma de transação de ativos, mais precisamente ações e criptomoedas (esta faceta ganhou grande protagonismo a partir do início na pandemia, onde uma nova geração de investidores foi apresentada ao mercado através de plataformas como a Revolut)
  • Durante todo este processo, a Revolut levantou cerca de 1.7 mil milhões de dólares em financiamento e tornou-se numa das startups/unicórnios mais conhecidos no mundo inteiro, com +18 milhões de utilizadores e uma avaliação de 33 mil milhões de dólares (dados 2021).

O próximo passo: pagamentos.

Por onde é que uma empresa pode evoluir quando já é o destino preferencial para monitorizar o dinheiro dos utilizadores e já origina tráfego para uma série de parceiros do seu ecossistema? Aprofundando ainda mais a sua relação de intermediação.

No caso da Revolut, esta é uma batalha tanto no mundo físico como no mundo online. 

  • Milhões de cartões Revolut estão a ser utilizados em leitores de pagamento, gerando transações sobre as quais a empresa não está a gerar nenhuma receita. Então, toca a criar o primeiro hardware Revolut: um leitor que estreite a relação da Revolut com milhares de comerciantes e que lhe permita ganhar quota no mercado de pagaemntos.
  • Os cartões Revolut ou as contas online Revolut podem ser escolhidos como o meio predileto de pagamento em qualquer loja online onde o utilizador decida fazer uma compra. No entanto, numa operação que envolve vários intermediários a gerar receita (i.e os bancos, a Visa/Mastercard, o Paypal, o comerciante), a Revolut não é um deles. Por isso, o melhor caminho poderá passar pela criação de uma solução de checkout para plataformas online que lhe permita “colocar um pé na porta”.

Foi este o anúncio feito pela empresa britânica, na semana passada, através de um artigo da Bloomberg. O Revolut Pay vai rivalizar diretamente com serviços como o Paypal, a Block (ex-Square) e a Apple Pay e traz algumas “features” que poderão torná-lo atrativo para o mercado.

Permite o pagamento com apenas um clique, os comerciantes vão ser pagos em 24 horas (tempo inferior à média de muitos destes fornecedores) e vai cobrar uma fee de 1% sobre cada transação, que também é bastante competitiva face à concorrência. A Revolut já fechou parcerias com empresas como a Shopify, que vai disponibilizar a integração do serviço para cada loja online que seja criada na sua platafoma, e vai integrar o Revolut Pay na secção de cash rewards que já existe na sua aplicação.

  • De acordo com o Global Payments Report 2021, elaborado pela Mckinsey, a indústria de pagamentos valerá qualquer coisa como 2.6 biliões de dólares até ao final de 2025.
  • O objetivo da Revolut é ter o seu serviço de checkout nos 1000 maiores sites de ecommerce, ajudando-os a melhorar a sua conversão e crescendo progressivamente a sua presença no mercado.