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ColorADD: O tempo não é inimigo das boas ideias

por Miguel Neiva

14 de Abril, 2022

Há 10 anos, o ColorADD estava a ganhar vida própria. Mas antes disso, foram precisos oito anos a desenvolver uma solução que o mundo não tinha e mais dois a garantir validação da comunidade académica e científica.

Não imaginam o quão importante foi o ColorADD ter sido o projeto escolhido para gravar o programa piloto do The Next Big Idea. Foi, sem dúvida, um dos pontos chaves neste caminho a que me tenho dedicado. Porquê? O interesse pelo projeto, o resultado final do programa e, naturalmente, a visibilidade e impacto que teve fizeram-me acreditar ainda mais que tudo o que estava a fazer fazia sentido.

Guardo boas memórias dessas filmagens. Passados estes anos, posso assumir que vesti literalmente a camisola… creio que foi a única vez, desde que me lembro, que me conseguiram convencer a vestir uma t-shirt de uma cor que não o preto.

“temos que olhar para o tempo não como um inimigo, e correr contra ele, mas sim como algo que nos permite consolidar ideias disruptivas e nas quais acreditamos”

Desde aí, o ColorADD foi se afirmando dia após dia. Um caminho longo em que temos que olhar para o tempo não como um inimigo, e correr contra ele, mas sim como algo que nos permite consolidar ideias disruptivas e nas quais acreditamos.

Hoje o ColorADD está já implementado em diversos países e sectores de atividade sempre que a cor é um fator racional de identificação, orientação e escolha. Para além dos milhões de produtos onde está implementado, o ColorADD está integrado em políticas públicas, reconhecido com uma “boa prática universal”, é ensinado nas escolas e, mais que tudo, reconhecido por toda a comunidade daltónica – sem dúvida, o maior dos reconhecimentos.

Em resumo, passados pouco mais de 20 anos desde que me propus criar um sistema de identificação de cores para daltónicos, confesso que se me perguntassem se fazia ideia do impacto que este iria ter em todo o mundo, a resposta simplesmente seria: não! Não fazia ideia.Mas tinha a certeza de que era um ambicioso e bonito desafio que estava disposto a iniciar, fosse qual fosse o resultado final. Procurei seguir um caminho sustentado, transparente, feito lado a lado com quem, efetivamente, poderia ver a sua vida facilitada por uma ferramenta capaz de “incluir sem discriminar”!

E é com essas premissas que naturalmente o ColorADD vem ganhando dimensão Pela capacidade que tem de só fazer sentido enquanto global e pela “vontade” que tem de servir a todos. Com tudo isso, a vontade tornou-se maior e mais legítima em encontrar um caminho, ou vários, de chegar a 350 milhões de pessoas que estão espalhadas pelos quatro cantos do mundo, falando diferentes línguas, vivendo diferentes culturas, rezando a diferentes deuses –  sem que tenham de assumir a sua limitação perante a sociedade pela dificuldade em “entender” a cor.

Têm sido anos intensos de aprendizagem constante e em tempo real. Aprendi que todos podemos ser agentes de mudança, que podemos ser parte da solução, pois neste novo mundo que estamos a criar (mesmo apesar dos estranhos tempos que vivemos, podendo parecer um contrassenso) acredito que o podemos tornar melhor, valorizando aquilo que nos move. E, inquestionavelmente, o que nos move são (e têm de ser) as pessoas. Aprendi que temos o poder de fazer o bem e que não é preciso ser um grande problema ou uma grande solução para tornar alguém feliz.

Claramente este caminho não tem sido sempre colorido. Houve, há e, seguramente, irão haver momentos mais “cinzentos”, mas que tento encarar sempre como momentos de reflexão e motivação para continuar.

Confesso que em alguns deles me desmotivei pelo cansaço e por alguma resistência, mas em momento algum me passou pela cabeça desistir. A motivação que encontrei nos pequenos grandes detalhes, sejam eles de conquista de novas soluções, sejam simplesmente pelas inúmeras mensagens “avulso” que diariamente recebo de todo o lado. Aliás, quando ganhamos consciência que temos em mãos algo que pode tornar a vida de alguém melhor, mau seria pensar em desistir.

Felizmente têm sido muito mais os sucessos e reconhecimentos, que sempre valorizei mas que procurei relativizar.

“Hoje, o Juliano reza por mim todas as noites e chama-me “anjo da guarda”. Que mais podemos querer nós?”

Não posso negar que me influenciam sempre de forma positiva, principalmente quando surgem sem os procurar. E, de facto, tem sido assim. Nunca os procurei. Têm sido uma consequência de um caminho feito com muita paixão e humildade. Naturalmente que me orgulho muito – todos eles me ajudaram a “validar” determinadas opções, mas em nada alteraram a minha maneira de estar. Não fiquei indiferente ao facto de ter sido condecorado pelo Presidente da República, mas este é um percurso construído ao lado das histórias das pessoas a quem o ColorADD melhorou a vida Como o Juliano, um miúdo de Córdoba, na Argentina, cuja mãe me contactou há anos dizendo que sofria de discriminação e bullying na escola pela sua condição de daltónico. Hoje, o Juliano reza por mim todas as noites e chama-me “anjo da guarda”. Que mais podemos querer nós?

Uma frase que posso deixar a todos os que têm uma NEXT BIG IDEA.

Que façam acontecer e não o façam sozinhos. Partilhem, com humildade, resiliência e paixão, muita paixão!

Acredito mesmo que todos podemos contribuir para um mundo melhor.

Deixo uma frase que não é minha, nem sei quem a escreveu, mas que todos os dias tenho bem presente:

“- existir é suficientemente escasso”