Voltar | Tecnologia

O metaverso de Mark Zuckerberg ainda está pouco meta?

por The Next Big Idea | 10 de Outubro, 2022

A “Horizon Worlds”, a principal aplicação “metaverso” da empresa, está atualmente a sofrer de demasiados problemas de qualidade e mesmo a equipa responsável pelo desenvolvimento parece desligada da sua criação.

A fazer jus a uma notícia saída no final da semana passada na The Verge, a existência humana via metaverso está longe de estar no chamado “ponto de robuçado”. Mais especificamente, a “Horizon Worlds”, a aplicação onde a vida do nosso avatar acontece no metaverso de Mark Zuckerberg, está com bugs e nem a própria equipa que a está a desenhar parece ter vontade de passar o seu tempo por aquelas bandas. O que leva à questão: é apenas a tecnologia que não “está lá” ou é problema do próprio conceito?

Contexto: São várias as pessoas convencidas de que o metaverso é o futuro da Internet. Mark Zuckerberg (co-fundador do Facebook) ou Satya Nadella (diretor executivo da Microsoft) são apenas alguns dos nomes mais sonantes que o afirmaram publicamente. Mas, ao certo, o que é ou pretende ser? Algo parecido a um videojogo? Ou, como sugere The Wire, estamos a falar tanto de algo que pode apenas vir a ser uma versão profundamente desconfortável e pior do Zoom? Ou, ainda, de uma experiência com compra e venda de produtos e marcas com os gráficos da consola Wii da Nintendo? É difícil de dizer no que vai ser nos próximos anos.

Sabemos, todavia, que no futuro a intenção passa para que o metaverso seja uma versão imersiva da próxima geração da Internet que assenta fortemente na tecnologia da realidade virtual. Isto é, em vez de navegarmos por sites ou enviarmos mensagens aos nossos amigos e colegas de trabalho como o fazemos hoje. Com recurso a esta tecnologia, os adeptos do metaverso acreditam que vamos poder sentir que estamos fisicamente nos locais dos nossos desejos, ainda que na verdade estejamos nas nossas salas ou quartos, interagindo com versões virtuais de pessoas, lugares e lojas reais. 

A conversa acerca deste tema, deste novo futuro, ganhou honras de manchete na comunicação social tradicional quando a empresa Facebook anunciou que ia apostar quase todas as suas fichas do seu futuro na realidade virtual e no metaverso. A notícia chegou com um inesperado rebranding de Facebook Inc. para Meta Inc. — que muitos consideraram oportuno devido às polémicas que a empresa estava envolvida — e que iam ser gastos milhares de milhões de dólares para desenvolver hardware e software. Zuckerberg sabia, contudo, que a tecnologia ainda “não estava lá” e que iam ser preciso vários anos até afinar tudo para que a estratégia começasse a dar frutos. 

Volvido praticamente um ano desde a mudança de estratégia, a previsão de Zuck parece estar a seguir o seu curso — especialmente na parte da necessidade de “afinação”. Segundo a notícia da The Verge, a “Horizon Worlds”, a principal aplicação “metaverso” da empresa, está atualmente a sofrer de demasiados problemas de qualidade e mesmo a equipa responsável pelo desenvolvimento parece desligada da sua criação. Ou seja, nem as próprias pessoas que estão a criar o mundo virtual de Zuck estão interessadas em ficar por lá. (Para já.)

A fazer jus ao artigo, existem demasiados erros e a experiência de navegação não é boa o suficiente. A “Horizon Worlds”, recorde-se, é a primeira tentativa da Meta de lançar algo que se assemelha à visão de Mark Zuckerberg sobre o metaverso. É uma plataforma expansiva e multiplayer que pretende ser algo que mistura a experiência da construção de mundos virtuais da Roblox com aquilo que vemos no mundo virtual do filme “Ready Player One”. Anunciada pela primeira vez em setembro de 2019, a “Horizon Worlds” evoluiu de algo que oferecia um ambiente essencialmente tipo Minecraft para uma plataforma mais social (e que se espera depois mais comercial).

  • A plataforma multiplayer foi lançada nos óculos “Quest” da Meta em dezembro do ano passado e atingiu 300.000 utilizadores no início deste ano. Inicialmente era esperado que as versões da aplicação chegassem aos smartphones e computadores em breve, mas documentos internos obtidos pela The Verge sugerem que os desktops ainda devem ter de esperar mais um bocadinho do que o previsto.

Mas o que diz o artigo da The Verge? Citando a fonte com que o site falou: “Todos na empresa deveriam ter como missão apaixonar-se pela Horizon Worlds. E não se pode fazer isso sem a utilizar”. Porquê? Porque (ainda) não traz uma boa experiência. Os bugs tornam a permanência na plataforma pouco apelativa para a comunidade. E isto sabe-se através de e-mails internos, da autoria de Vishal Shah, Vice-Presidente da Meta para o departamento do Metaverso, que se interroga porque é que os trabalhadores da Meta não passam lá mais tempo com amigos e colegas de trabalho. Nas suas palavras, hoje em dia “não se está a trabalhar com flexibilidade suficiente”.

E depois há toda a questão dos gráficos. Pese embora a Meta tenha feito saber que está a trabalhar em avatares (o nosso “eu no jogo”) mais realistas, a qualidade atual dos gráficos da Horizon falha em comparação com alguns dos seus concorrentes como o Fortnite (que nem utilizam tecnologia de realidade virtual). O próprio Zuckerberg foi recentemente motivo de “memes” depois de ter publicado nas suas redes o seu avatar Horizon para celebrar o lançamento da plataforma em França e Espanha — as críticas foram tantas que foi forçado a publicar nas suas redes sociais uma imagem de um avatar mais polida, dizendo que ia partilhar “grandes atualizações” ao nível gráfico na conferência anual da Connect, agendada para amanhã, dia 11 de outubro.

E o que diz a gigante tecnológica de Zuckerberg? Numa resposta à notícia, a porta-voz da Meta, Ashley Zandy, revela que a posição da empresa não mudou. Ou seja, está “confiante de que o metaverso é o futuro da computação e que deve ser construído em torno das pessoas”. Mais, a empresa está “sempre a fazer melhorias de qualidade e a agir de acordo com o feedback da nossa comunidade de criadores”. Esta é uma jornada de vários anos, e vamos continuar a melhorar o que fizemos”.