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Isto é o que acontece quando Robinhood encontra a Fada dos mercados

por The Next Big Idea | 5 de Agosto, 2021

Mercados

Uma semana depois de se estrear na bolsa americana, a Robinhood dispara com valores acima dos 100% face ao dia de arranque. O interesse de uma investidora que foi considerada a melhor analista de 2020 pode explicar, pelo menos em parte, o que está a acontecer.

Não é todos os dias que uma ação dispara mais de 50% no valor e é ainda menos frequente quando no conjunto da semana essa mesma ação já subiu mais de o dobro. É o que tem estado a acontecer com os títulos da Robinhood, tendo a negociação nos mercados sido interrompida várias vezes em face dos movimentos. Ontem, as ações desta financeira recém-chegada aos mercados fecharam nos 70,39 dólares – mas chegaram a cotar a 85 dólares -, o que é mais de 100% do que valia há uma semana (na quinta-feira da semana passada, o título abriu na bolsa americana a 38 dólares).

Ainda não é totalmente claro o que está a “empurrar” as cotações, mas para já a compra de um número significativo de ações é assumida como tendo impacto. Trata-se de um investimento realizado pela ARK, liderada por Cathie Wood, que comprou 89622 ações avaliadas em 4,2 milhões de dólares, através da ARK Fintech Innovation ETF. A ARK já tinha adquirido 3,15 milhões de ações da Robinhood desde a entrada em bolsa.

A Robinhood continua também a beneficiar da atenção de investidores ditos não convencionais, como foi o caso daqueles que se movimentaram no primeiro semestre do ano para compras conjuntas de ações como as GameStop ou AMC. O espaço de eleição destes investidores tem sido a plataforma Reddit onde continua a ser a mais mencionada nas conversas no chat room.

Os investidores não profissionais foram um dos alvos da Robinhood na sua entrada no Nasdaq, tendo a empresa feito uma apresentação pública, em livestream, aberta a todos, ao contrário do que é habitual nos roadshows para investidores, que se realizam em regra à porta fechada. O objetivo era vender 35% das ações aos investidores que se interessam pelos mercado e aplicam aí as suas poupanças ou investimentos – no fundo, o público que já é cliente da app da Robinhood e que corresponde à missão com que se apresentou ao mundo de “democratizar o investimento”.

Robinhood foi criada em 2013 por dois conhecedores de Wall Street, Vladimir Tenev e Baiju Bhatt, que tinham como objetivo permitir um acesso mais democrático à negociação em mercados financeiros. Não era necessariamente tirar aos ricos para dar aos mais pobres – apesar do nome de batismo – , mas o objetivo passava por criar uma plataforma que retirasse ao comum investidor alguns obstáculos na transação de ativos, nomeadamente, as comissões elevadas que eram cobradas por muitas corretoras e os montantes de depósito iniciais que eram exigidos.

2020 foi um ano maldito, mas a Robinhood não tem grande razão de queixa, tanto que até teve uma teoria financeira associada ao seu nome. Os principais índices das bolsas de valores americanas (Nasdaq, S&P500, Dow Jones) atingiram valores recorde e para isso contribuiu a Teoria Robinhood, que descreve o aumento significativo de investidores individuais amadores verificado durante a pandemia e principalmente em períodos de confinamento, devido à inexistência de apostas em desportos – ou se quisermos ser politicamente corretos, devido ao aborrecimento.

Para saber mais: Robinhood, de herói a vilão dos mercados. Ou como tirar aos ricos para dar aos pobres nunca é tão simples quanto parece

Também a ARK, liderada por Cathie Wood, tem estado na ribalta, tendo sido um dos temas em destaque na nossa newsletter NEXT no início de março. Cathie Wood tem 65 anos, nasceu em Los Angeles, é mãe de 3 filhos e é conhecida como a melhor stock picker (analista de ações) de 2020, ou pelo menos foi isso que lhe chamou a Bloomberg. Fundou a ARK Invest: chama-lhe o bebé que teve aos 57 anos. Uma companhia de gestão de ativos que registou um ganho de 140%, no ano passado. A 19 de fevereiro deste ano, a empresa era a maior emissora de fundos de investimento (ETFs, produto financeiro que inclui um conjunto diversificado de ativos, tal como os fundos de investimento, mas que é negociado em bolsa como uma ação) negociados na Bolsa de Valores, com quase 60 mil milhões de dólares em ativos.

Tornou-se numa lenda na escolha de ações, numa altura em que os investidores acreditavam que era preferível investir em fundos de baixo custo. Os ETFs negociados em bolsa atualmente administrados pela empresa de Wood estão a moldar a indústria de cerca de 5,6 triliões de dólares (4,7 triliões de euros), que era conhecida como uma forma simples de investir em várias ações num único ativo financeiro.

Uma curiosidade ou ironia: a Robinhood cunhou um novo tipo de investimento, os chamados “meme-stocks”, ou seja ações de empresas que disparavam não por causa do seu valor efetivo, mas porque, efetivamente, vários investidores (tipicamente não profissionais e muito impulsionados pelo poder das redes sociais) gostavam delas. Agora, a própria Robinhood poderá estar a ser um desses “meme-stocks”.