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Inteligência Artificial “traz” os The Beatles de volta

por Maria Rato | 16 de Junho, 2023

Sir Paul McCartney, com ajuda de Inteligência Artificial, criou a última gravação dos The Beatles, que vai ser lançada este ano. Esta tecnologia foi usada para extrair a voz de John Lennon de uma antiga demo, entregue por Yoko Ono.

Os The Beatles vão lançar uma música nova. Ao longo dos anos temos ouvido tentativas de covers ou até mesmo de utilização amadora de Inteligência Artificial (IA) para recriar aquilo que uma das maiores bandas do mundo conseguiu produzir, mas agora o sonho torna-se realidade.

A canção que desencadeou este projeto está numa de várias cassetes que continha uma demo intitulada “For Paul”, feita por John Lennon para o seu colega da banda. Esta teria sido produzida pouco antes da sua morte em 1980 e entregue pela viúva de Lennon, Yoko Ono, um ano depois a McCartney. Duas canções deste conjunto de cassetes já foram editadas, nomeadamente “Free as a bird” e “Real love”, em 1995 e 1996 respetivamente — e esta nova canção em específico, também já tinha sido considerada para o projeto de antologia “Anthropology” em 1995, mas só agora é que foi o momento certo para esta ser lançada.

“Acabámos de a terminar e vai ser lançada este ano”, revelou Sir Paul McCartney à BBC Radio 4 no início desta semana. E apesar de não ter divulgado o nome da música, especula-se que esta seja uma composição de Lennon de 1978 chamada “Now and then”. 

Uma cassete gravada numa boombox (aquelas colunas que davam para tocar cassetes e ouvir rádio) enquanto Lennon se sentava ao piano, no seu apartamento em Nova Iorque, criou alguns problemas técnicos com a gravação original, tais como um som persistente dos circuitos elétricos do apartamento. Contudo, esta não será a primeira vez que a música é lançada. Em 2009, uma versão da demo foi divulgada num CD pirata e os fãs especularam que a gravação teria sido roubada do apartamento depois da morte de Lennon, juntamente com outros bens do músico.

Ao longo do tempo, e após a decisão de não incluir a demo em 1995, Sir Paul expressou, várias vezes, o seu desejo de terminar a canção e parece que os avanços tecnológicos recentes deram-lhe essa oportunidade.

Um dos pontos de viragem foi quando Emile de la Rey, editor de diálogos da série documental “Get Back” (2021) de Peter Jackson, treinou computadores para reconhecer as vozes dos Beatles e separá-las dos ruídos de fundo e dos seus próprios instrumentos, de forma a criar um áudio “mais limpo”. Foi graças a esse mesmo processo que Paul McCartney foi capaz de fazer um dueto com John Lennon na sua mais recente digressão e que permitiu a criação de novas misturas de som surround no álbum “Revolver” dos Beatles no ano passado.

“Now and then” é descrita como uma canção de amor típica da fase final da carreira de Lennon, mas devido à falta de consenso entre os membros da banda na altura, nunca chegou a ver a luz do dia. 

Embora as experiências com IA no mundo da música sejam cada vez mais comuns e de melhor qualidade, inicialmente, Paul McCartney mostrou-se relutante com a utilização da mesma, visto que os resultados ainda são imprevisíveis. Esta é suposto ser a última música dos Beatles, como anunciou o baixista, mas com os constantes avanços de IA nunca se sabe que novos projetos possam vir a surgir.