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Falta visibilidade aos sucessos no ecossistema de startups ibérico?

por Gabriel Lagoa | 26 de Setembro, 2024

No Al Andalus Innovation Venture, em Sevilha, representantes de empresas portuguesas lamentaram que não se divulguem muitas histórias de sucesso no ecossistema ibérico e europeu.

Há falta de exemplos no ecossistema ibérico de startups? Esta foi uma das questões colocadas na terceira edição do Al Andalus Innovation Venture, que decorreu esta semana em Sevilha e contou com uma mesa redonda intitulada “Visão ibérica do capital de risco”. O debate, que incluiu a participação das empresas portuguesas Bynd, Bright Pixel, Armilar e GoParity, analisou as características do ecossistema de startups na Europa e na Península Ibérica.

Todos os presentes destacaram um denominador cultural comum entre espanhóis e portugueses: a relutância em enaltecer os sucessos, enquanto se continua a falar dos fracassos. Portugal foi o convidado especial deste ano do Al Andalus, com os empresários e investidores a serem questionados sobre as diferenças do mercado de startups espanhol e português em comparação com outros países.

Todos os oradores concordaram que se trata de um ecossistema emergente, mas com obstáculos que ainda precisam de ser ultrapassados para continuar a crescer. Pedro Almeida, investidor de capital de risco na Armilar, afirmou: “Há falta de exemplos a seguir na Península Ibérica – não porque não existam, mas porque não se fala deles”. O responsável lamentou a falta de celebração das histórias de sucesso tanto em Portugal como em Espanha, sublinhando a importância de mostrar que é possível alcançar o sucesso empresarial na região.

Tomás Penaguião, sócio da Bynd Venture Capital, concordou com esta perspetiva, salientando que os fracassos são mais destacados do que as histórias de sucesso. Penaguião apelou também a uma maior cobertura mediática do sistema empresarial para o tornar mais atrativo e considerou que “quando um estudante é brilhante, não considera o empreendedorismo, mas entra numa grande empresa devido à falta de informação positiva”.

Também presente neste debate esteve Marcos Osório. O diretor da equipa de investimento em cibersegurança da Bright Pixel, reforça que “nós, ibéricos, não somos bons a falar dos nossos sucessos, é uma questão cultural”. O diretor sublinhou a necessidade de partilhar e legitimar os bons exemplos, e defendeu que os fundadores devem apoiar-se mutuamente para reforçar o ecossistema. “Colaboração e não concorrência, partilha de conhecimentos, co-investimento e ajuda mútua quando necessário. Se um for bem-sucedido, todos nós seremos bem-sucedidos”, afirmou.

Por sua vez, Nuno Brito Jorge, CEO da GoParity, abordou a questão da internacionalização. Destacou que todas as startups devem nascer com uma vocação global, mas reconheceu que a realidade como fundador em Portugal e Espanha é que, no início, a capacidade de o ser é baixa e é necessário focar-se no mercado local. Brito Jorge vê isto como uma potencial vantagem para validar o modelo de negócio inicialmente. “A vocação global é fundamental, mas tem de ser integrada com os valores culturais da empresa, mantendo-os à medida que esta cresce”, explicou.

O debate também abordou questões regulatórias. Brito Jorge considerou que o elevado nível de regulamentação do setor na Europa é justificado, embora por vezes possa parecer desligado da realidade em termos da sua aplicação. “Somos os melhores estudantes do mundo, mas temos de esperar que o resto do mundo recupere o atraso para que todos possamos jogar com as mesmas regras”, disse o CEO da GoParity.

Já Marcos Osório, da Bright Pixel, mencionou o outro lado da questão, considerando que na Europa “somos muito bons a inovar na regulamentação”. No entanto, alertou: “Há uma linha ténue entre criar um regulamento que possa refletir o que o quadro de inovação pode conter, e criar um que faça com que a inovação não aconteça, precisamente por causa deste regulamento rigoroso. A inovação não acontece por decreto”.

O Al-Andalus Innovation Venture 2024 é um evento para empresários, startups e scaleups ibéricos. Esta edição teve lugar em Sevilha, nos dias 24 e 25 de setembro, reunindo os principais intervenientes do ecossistema empresarial ibérico e proporcionando uma plataforma para o debate sobre o futuro do empreendedorismo e da inovação na região.

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