Falar de sustentabilidade é mais do que reciclar
por Gabriel Lagoa | 15 de Dezembro, 2025
Portugal testa novas formas de prolongar a vida dos produtos e captar energia no mar, através de soluções que mostram como a sustentabilidade abre espaço a novos modelos de negócio.
Falar de sustentabilidade vai além de separar resíduos. É um tema que já faz parte das decisões de várias empresas e que cria caminhos diferentes para lidar com recursos e energia. No novo episódio da série The Next Big Idea, acompanhamos duas dessas experiências. Em Coimbra, a LoopOS desenvolve tecnologia para dar um percurso mais longo aos produtos que usamos no dia a dia. Em Viana do Castelo, a Gazelle Wind Power testa plataformas que flutuam no mar e que servem de base às eólicas que captam a energia do vento que passa junto à costa.
Como prolongar a vida de um produto (e do planeta)
As duas empresas trabalham em áreas distintas, mas convergem numa ideia base: tentar tirar mais valor do que já existe. A LoopOS criou um sistema que ajuda marcas a gerir modelos de economia circular. É um ERP que permite organizar processos que antes dependiam de folhas de cálculo e contactos dispersos. Hoje, empresas como a Fnac ou a Decathlon usam esta tecnologia para acompanhar reparações e recondicionamentos de produtos. A ferramenta integra o contacto com o cliente, a operação em loja, os fluxos logísticos e as questões fiscais.
- Vê todos os episódios no nosso canal de YouTube
Segundo Ricardo Morgado, cofundador da LoopsOS, o consumidor passou a olhar para o produto como algo que mantém valor depois da compra, o que levou marcas a reverem o pós-venda e a transformá-lo numa oportunidade.
Quando a energia vem do mar
Já a Gazelle tenta responder a um desafio diferente. A maior parte da zona económica exclusiva portuguesa tem profundidades superiores a 60 metros, o que impede a instalação de turbinas fixas. A solução passa por estruturas flutuantes. A tecnologia da empresa procura baixar custos de fabrico, instalação e operação, permitindo que estas turbinas sejam transportadas para terra quando precisam de manutenção.
Adrian Griffiths explica que o principal obstáculo é o investimento inicial, já que a construção de protótipos envolve dezenas de milhões antes de gerar receita. Ainda assim, acredita que Portugal tem condições para criar um ecossistema dedicado à energia offshore, com universidades e fornecedores locais envolvidos neste processo.
A história da LoopOS lembra que inovação também nasce de contratempos. A empresa começou com um projeto de reutilização de manuais escolares que perdeu espaço quando o Estado passou a oferecê-los gratuitamente. Essa decisão obrigou a equipa a reorientar o negócio e a apostar na economia circular como modelo de futuro. Hoje, a empresa participa no ecossistema tecnológico de Coimbra e defende que o país deve usar esta área como pilar estratégico.
O episódio mostra que sustentabilidade pode surgir num armazém onde um produto é reparado ou ao largo da costa onde uma estrutura espera pelo vento certo. São abordagens diferentes, mas que revelam a mesma intenção: encontrar soluções práticas para problemas que já fazem parte do dia a dia das empresas.
Subscreve a nossa newsletter, onde todas as terças e quintas podes ler as melhores histórias do mundo da inovação e das empresas em Portugal e lá fora.