Clubhouse. A nova rede social onde só se entra com convite
Quando achávamos que já não seria possível imaginar mais uma rede social, eis que aparece uma que promete crescer muito (de uma forma peculiar) em 2021. A Clubhouse é uma rede social à base de áudio e foi descrita pelo The Guardian como uma mistura entre conference calls, programas de rádio e a app House Party, que se tornou popular durante o primeiro confinamento e que depois desapareceu um pouco do nosso radar.
A plataforma foi criada em maio de 2020 por Rohan Seth, um ex-Google, e Paul Davidson, um empresário de Silicon Valley, e foi lançada com apenas mil e quinhentos utilizadores, mas com um forte financiamento de investidores que já a valorizavam em 100 milhões de dólares. A verdade é que, em nove meses, a plataforma já conta com mais de dois milhões de utilizadores e ganhou o estatuto de unicórnio ao atingir uma valorização de mil milhões de dólares. Como é que conseguiu este feito?
“O objetivo é promover conversas interessantes”
São as palavras dos fundadores numa altura em que a sua plataforma ainda se encontra em fase beta (de teste, na gíria empreendedora), apesar de isso não a ter impedido de gozar de uma extensa popularidade. A Clubhouse funciona à base de chat rooms moderadas por personalidades que podem discutir uma variedade de temas nos seus programas e nas quais os utilizadores podem decidir entrar quase como se estivessem numa festa e quisessem participar numa conversa a acontecer “em rodinha”.
No entanto, esta rede social não é para qualquer utilizador. No Facebook, no Instagram ou no Twitter basta utilizarmos o nosso computador ou smartphone, partilharmos o nosso e-mail e pensarmos numa password para tirarmos proveito de todas as suas funcionalidades. No caso da Clubhouse, existem duas possibilidades:
-
Ou a plataforma tem a iniciativa de convidar pessoas de relevo a produzir conteúdo na plataforma no “Creator Pilot Program”;
-
Ou uma pessoa só consegue aceder à plataforma se for convidada por um utilizador existente, que pode no máximo convidar duas pessoas. E mesmo sendo um dos sortudos convidados, é ainda necessário ter também um dispositivo da Apple, seja ele iPhone ou iPad, dado que a plataforma só funciona em iOS. Má sorte para os fãs de Android.
Um crescimento controlado
Na versão oficial, este mecanismo foi pensado por Seth e Davidson de modo a poderem ir acomodando novas funcionalidades de forma sustentável, sem terem um aumento gigante de utilizadores que estragassem a experiência na plataforma. Na versão menos oficial, a ideia passou também por criar uma perceção de exclusividade que aumentasse a curiosidade e vontade de fazer parte da plataforma e “ouvir o que acontece por lá”. Tanto que notícias recentes reportavam pessoas dispostas a dar 100 dólares no eBay por um convite para entrarem no mundo da Clubhouse.
Ao contrário de plataformas como o Instagram e o TikTok, cujo crescimento se baseia nas gerações mais novas, a Clubhouse cresceu dentro de uma comunidade tecnológica de empresários nos seus quarenta e cinquenta. Este grupo tirou proveito da plataforma para formar uma rede de seguidores com os quais não comunicariam com imagens de férias, com uma dança engraçada ou com uma opinião com menos de 200 caracteres. Apesar de tudo isto, nas palavras do autor Malcolm Gladwell, o tipping point (ponto de viragem) da plataforma pode ter acontecido no final do mês de janeiro deste ano, quando a Clubhouse decidiu convidar Elon Musk, CEO da Tesla, para entrevistar um dos fundadores da Robinhood, plataforma de trading que se viu envolvida na polémica das ações da GameStop.
Ora a plataforma tinha acabado 2020 com 600 mil utilizadores (+40.000% desde o lançamento) e no início deste mês já apresentava mais de dois milhões. Não terá sido coincidência e a verdade é que o tema que marcou o mundo dos negócios nas últimas semanas, bem como o perfil carismástico de Musk, levaram a que os convites (ou pedidos de convite) para a plataforma se multiplicassem na ânsia de ouvir a história a ser esmiuçada.
Há potencial, mas nem tudo é um mar de rosas
O sucesso precoce e rápido indica que a Clubhouse poderá ter um futuro risonho, mas para isso a startup americana terá de resolver alguns problemas:
-
Privacidade… outra vez: para criar conta na plataforma é necessário dar acesso à nossa lista de contactos para convites feitos no futuro, algo que na Europa irá provavelmente contra as normas do RGPD. Isto mesmo que a Clubhouse assegure que as conversas são apagadas e não são mantidas nos seus servidores. Tal só acontece, caso haja alguma reclamação com o conteúdo produzido, para que a situação possa ser analisada.
-
Tudo com moderação: já existiram diversos relatos de chat rooms onde os tópicos debatidos giravam à volta do antissemitismo, do racismo, da homofobia e misoginia. Isto significa que a Clubhouse terá de garantir um sistema de verificação mais rigoroso do perfil de utilizadores que podem fomentar este tipo de discussões.
-
Show me the money: até agora, a Clubhouse não tinha implementado um regime de monetização para os produtores de conteúdo na sua plataforma. Tal vai mudar já este mês com a introdução de funcionalidades que permitem que os utilizadores possam dar gorjetas, comprar bilhetes para participar em certos chats ou optarem por subscrever o conteúdo de certas personalidades. Vejamos como corre, pois, as outras redes sociais ou o próprio Spotify, que investiu muito em podcasts e produtos em áudio, não deverão ficar quietos por muito tempo.
- Subscreva a newsletter Next para receber histórias do mundo da inovação e das empresas no seu e-mail.
- Siga o The Next Big Idea no Instagram