Voltar | Criptomoedas Dossier: Festival Elétrico - Conferência "The New Creators Economy"

Diogo Mónica: “No Game of Thrones, o inverno vem a cada mil anos, mas nos criptoativos vem pelo menos a cada três”

por The Next Big Idea | 11 de Julho, 2022

Entrevista a Diogo Mónica, CEO e co-fundador do Anchorage Digital Bank.

“Winter is coming”. A expressão celebrizada pela série “Game of Thrones” multiplicou-se nos últimos meses no mundo financeiro, os mesmos meses em que as criptomoedas iniciaram desvalorizações significativas face ao dólar e ao euro e alguns criptoativos entraram em incumprimento.

Para Diogo Mónica, CEO e co-fundador do Anchorage Digital Bank, o primeiro banco de criptomoedas do mundo aprovado a nível federal nos Estados Unidos, o Inverno das criptomoedas é bem mais frequente do que o da série. “Em Game of Thrones o Inverno vem a cada mil anos, mas em criptoativos vem pelo menos a cada três. Este é o sexto episódio de Inverno de que os criptoativos fazem parte”, afirma em entrevista no âmbito da sua participação na conferência sobre Web3 organizada pelo The Next Big Idea, no Festival Elétrico, que decorreu no Porto de 1 a 3 de julho.

As circunstâncias deste “Inverno” das criptomoedas são, no entanto, distintas, reconhece também, nomeadamente face ao último que teve lugar em 2018. “Atualmente, estamos num bear market macroeconómico que também é um bear market cripto“.

Ainda assim, Diogo Mónica não vê que a desvalorização das criptomoedas signifique que seguem o mesmo padrão de comportamento das moedas tradicionais, nomeadamente o dólar e o euro e, sobretudo, que comprometam de forma definitiva um dos atributos que têm chamado a si e que é a sua relativa imunidade face a certas condições económicas, como é o caso da inflação que atualmente vivemos.

“A volatilidade do euro e do dólar é escondida”, refere o fundador do Anchorage Digital Bank, recordando que “só existem no máximo 21 milhões de bitcoin e nunca vão existir mais”. O que, realça, “não significa que a longo prazo a bitcoin não tenha resistência à inflação, mas neste período não o está a fazer”.

Questionado sobre as desvalorizações que se têm sucedido nos últimos meses nos criptoativos, Diogo Mónica assinala que, apesar das perdas, este pode ser também o momento de correção. “Os criptoativos atingiram 3 triliões de dólares em capitalização de mercado. É bom que aprendamos agora do que quando valerem 30”, afirma, dando nota que, nos Estados Unidos, o investimento na criptoeconomia já é bastante generalizado, com 50 milhões de americanos a deterem carteiras digitais.

“Já estamos numa recessão, é uma questão de quando a reconhecemos”

Sobre o atual momento das economias, Diogo Mónica considera que não há dúvida sobre estarmos numa recessão — “já estamos numa recessão, é uma questão de quando a reconhecemos” — e o efeito transformador que espera que este período venha a gerar passa, na sua opinião, pelo reforço da aposta em tecnologia. “A solução continua a ser pelo investimento na área tecnológica que tem a maior capacidade de transformação”.

Em relação à transformação no setor financeiro e à necessidade de maior supervisão nos criptoativos que protegem quem investe, o CEO do Anchorage Digital Bank concorda que esse é um passo necessário, mas que não exclui a necessidade de equilibrar as regras clássicas com as exigências da evolução tecnológica.

“Há um anacronismo brutal em sistemas tradicionais financeiros e componentes que funcionam da mesma forma há 250 anos. A solução que encontrámos há 250 anos não pode ser a solução certa para uma tecnologia que só encontrámos há 50 ou 25 anos”, remata.