Das universidades para o mercado: como as Júnior Empresas estão a preparar os profissionais do futuro
por Gabriel Lagoa | 12 de Dezembro, 2024
Estas organizações sem fins lucrativos são geridas apenas por alunos. Em Portugal, existem 25 Júnior Empresas com um volume de faturação superior a 500 mil euros por ano.
São como laboratórios do mundo empresarial dentro das universidades portuguesas. As Júnior Empresas são organizações geridas exclusivamente por estudantes, replicam o modelo de funcionamento de empresas tradicionais e permitem aos alunos aplicar na prática os conhecimentos teóricos adquiridos durante o percurso académico.
“O propósito é sempre, dentro da instituição de ensino, aproximar os estudantes ao mercado de trabalho, a empresas e a parceiros. Os alunos recebem não só essa aproximação, mas também práticas gerais de uma empresa, como a sua gestão e a gestão dos membros”, começa por explicar Matilde Farelo, Vice-Presidente Interna da Junitec, uma das Júnior Empresas em Portugal.
Quem, durante o percurso universitário, decide fazer parte de uma destas organizações, parte para a vida profissional com uma vantagem competitiva: experiência no mercado de trabalho.
“São anos de experiências e relações que temos com pessoas em ambiente profissional e não profissional, que nos fazem crescer. Quando aos 22 ou 23 anos alguém sai da Junitec, esse estudante integrou uma equipa, geriu um projeto, geriu pessoas, liderou todo um departamento… isto traz um avanço incrível em relação a alguém que não teve esse tipo de experiência”, destaca Matilde Farelo.
Número de Júnior Empresas a crescer
A responsável nota que o movimento júnior português tem vindo a registar uma evolução, com um aumento do número de organizações e da qualidade do trabalho desenvolvido. “Há cerca de 5 anos, o movimento das Júnior Empresas não se assemelhava de todo ao que existe agora. Havia muito menos [Júnior Empresas], não tinham tanta qualidade e não apresentavam uma trabalho tão bom como hoje em dia. Temos visto um crescimento bastante positivo”, refere a Vice-Presidente Interna.
E o futuro não deverá mostrar sinais de abrandamento. “Nos próximos anos, suponho que ainda vão existir muitas mais organizações e o movimento tornar-se-á muito mais consolidado, com as pequenas Júnior Empresas, que surgiram recentemente, a tornarem-se estruturas com um grande valor de mercado.
Mais organizações é sinónimo de mais competição? Sim e não. Apesar de existir rivalidade entre as Júnior Empresas com o mesmo core business, esta dinâmica é diferente do mercado tradicional. “Nós trabalhamos sempre para o movimento, queremos que cresça e queremos contribuir para isso. Sem competição também não há crescimento“, refere a Vice-Presidente Interna.
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Uma história de três décadas no IST
A Junitec foi fundada em 1990 por cinco estudantes do Instituto Superior Técnico (IST), com o objetivo de trazer inovação e tecnologia para Portugal. Conta hoje com 79 membros divididos por quatro departamentos: Consultoria, Marketing, Recursos Humanos e Inovação.
O core business da organização centra-se na consultoria tecnológica. “Resolvemos problemas que são apresentados pelos clientes, ou que nós propomos, para implementar soluções tecnológicas e inovadoras”, indica Matilde Farelo. A organização atua em áreas como mobilidade, saúde e sustentabilidade.
“Nós temos uma filosofia de learn by doing, ou seja, não temos um leque limitado de serviços que oferecemos ou de tecnologias que usamos. Nós moldamo-nos e como estamos numa das melhores universidades em Portugal em termos de engenharia e inovação, conseguimos acompanhar esse desenvolvimento, daí conseguirmos apresentar soluções modernas e inovadoras”, acrescenta a Vice-Presidente Interna da Junitec.
Da consultoria à inovação social
Entre os projetos mais relevantes da organização, Matilde destaca a Oficina dos Sons, uma plataforma e-learning para o desenvolvimento linguístico de crianças com dificuldades de leitura e escrita. Esta plataforma é utilizada por psicólogos e conta com diferentes jogos que permitem aos mais novos associar sons a palavras e/ou a imagens, levando-os a desenvolver a sua linguagem e escrita enquanto brincam e se divertem.
“Já temos mais de 10 psicólogos a usar esta plataforma e já ajudámos dezenas de crianças, tivemos um impacto bastante positivo. Portanto, foi sem dúvida o projeto que mais me marcou”, afirma a responsável.
A carteira de clientes da Junitec inclui entidades de diferentes setores. A organização já trabalhou com a Gulbenkian e a Jerónimo Martins na área da sustentabilidade e colaborou com centros de investigação no setor da saúde.
Em Portugal, existem 25 Júnior Empresas, sendo que este ano fica também marcado pela entrada em cena da NOWACE, a primeira em Portugal dedicada à Medicina. Estas organizações registam uma faturação superior a 500 mil euros por ano.
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