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Como é que o DeFi pode funcionar?

por Miguel Magalhães (Texto) | 22 de Fevereiro, 2023

A European Blockchain Convention é um dos principais eventos de web3 na Europa e no painel “Leveling Up DeFi”, que contou com a presença de executivos da indústria, discutiram-se os desafios e as soluções para uma tecnologia que tenta ser benéfica para utilizadores individuais e organizações.

Nos últimos anos, temos assistido ao surgimento de plataformas DeFi que permitem às pessoas pedir empréstimos, emprestar, negociar em criptomoedas sem a necessidade de intermediários como bancos ou corretores.

Uma das vantagens mais significativas da DeFi é a liquidez. A liquidez refere-se à capacidade de comprar e vender ativos rapidamente sem afetar o preço. No caso da DeFi, a liquidez é crucial porque a maioria das aplicações DeFi exige que os utilizadores bloqueiem os seus ativos por um determinado período, o que dificulta a saída rápida de uma posição. Neste sentido, as exchanges centralizadas têm uma vantagem sobre outras plataformas DeFi porque têm mais liquidez.

No entanto, isso não significa que estas exchanges sejam superiores às plataformas DeFi em todos os aspetos. Muitas plataformas DeFi estão a fazer grandes progressos em termos de interface do utilizador (UI) e experiência do utilizador (UX). Aliás, uma das mensagens comuns do painel foi a regularidade com que é subestimado o quão complicadas as coisas são para pessoas que não estão familiarizadas com o mundo web3. Por isso, é essencial focar na construção de plataformas que sejam fáceis de usar e navegar para um público mais amplo.

Além disso, a DeFi não precisa ser apenas sobre exchanges. As exchanges descentralizadas (DEXs), como a Uniswap estão a ganhar popularidade porque oferecem aos utilizadores mais controlo sobre os seus fundos e permitem a negociação ponto a ponto. Em contrapartida, as exchanges centralizadas (CEXs) exigem que os utilizadores confiem num terceiro elemento com seus fundos, levantando a questão “not your keys, not your coins”. As DEXs não estão isentas de problemas, mas são uma parte essencial do ecossistema DeFi.

Outro aspecto crítico da DeFi é a educação. Muitas pessoas interessadas na DeFi não estão familiarizadas com os conceitos, jargão ou riscos envolvidos. Por isso, é crucial que os projetos DeFi forneçam recursos educacionais aos seus utilizadores. As comunidades também podem desempenhar um papel fundamental na educação das pessoas sobre a DeFi. Como o CEO da AngelBlock, Alex Strzesniewski, apontou, obter feedback e grupos de foco em plataformas como o Telegram pode ser útil para entender o que os utilizadores querem e precisam.

Ao construir plataformas DeFi, também é importante considerar o futuro. Como Francesco Abbate da 1Inch Network disse, “devemos construir não apenas para os utilizadores atuais, mas para o que esperamos que os futuros utilizadores sejam”. Isto significa construir plataformas que sejam escaláveis, adaptáveis e possam acomodar novos utilizadores.

Outro fator crítico para impulsionar o DeFi é a distinção entre a construção para “retail users” e a construção para as diferentes corporações. Os primeiros são, por norma, investidores e traders individuais, enquanto entre as corporações temos investidores institucionais, bancos e outras instituições financeiras. A construção para esses dois tipos de utilizadores requer abordagens diferentes, dado que as suas necessidades e requisitos são diferentes.

Por outro lado, um dos maiores desafios enfrentados pelo DeFi é a própria construção da confiança. Como em qualquer nova tecnologia, há sempre um grau de incerteza e ceticismo entre os utilizadores. Esse ceticismo faz lembrar os primeiros dias do ecommerce, em que os consumidores hesitavam em comprar online devido a preocupações com segurança, privacidade e se as encomendas iam de facto chegar à sua porta. Para o DeFi não é muito diferente, e as pessoas procuram só numa forma de garantir transparência, rapidez e segurança nas suas transações e nas carteiras onde guardam os seus ativos.

Por último, falou-se de regulação. Ivo Grigorov da Credifi apontou que uma framework legal é crucial para construir a confiança no ecossistema DeFi. Sem isso, o DeFi corre o risco de se tornar um setor não regulamentado e irresponsável, levando a fraudes e outras formas de má conduta. No entanto, é importante observar que na regulamentação existem nuances, de acordo com Alex Strzesniewski, e que diferentes regiões têm abordagens diferentes. Na UE, a regulamentação tende a ser mais cautelosa e espera para ver o que pode acontecer, enquanto nos EUA, a regulamentação tende a ser mais litigiosa.

A European Blockchain Convention decorreu em Barcelona, entre os dias 15 e 17 de fevereiro, e contou com mais de 2.500 participantes.