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Apenas 3% das empresas de Web3 têm uma equipa exclusivamente feminina

por The Next Big Idea | 6 de Março, 2023

Apenas 13% das equipas fundadoras de empresas neste setor contam com pelo menos uma mulher e um novo estudo da BCG e da People of Crypto Lab apresenta medidas que podem contornar estes desequilíbrios atempadamente

As empresas de Web3, focadas no desenvolvimento de novas aplicações transformadoras de várias indústrias a nível global e que envolvem tecnologias como o metaverso, blockchain e de criptoeconomia, estão na vanguarda da mudança do futuro do mundo digital. Contudo, muitas ainda se encontram presas ao passado no que se refere à representatividade das mulheres nas suas equipas fundadoras e entre os seus investidores. Adicionalmente, esta sub-representação é mais acentuada do que a verificada nas áreas da Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática (STEM) e na indústria tecnológica em geral. Apenas 13% das equipas fundadoras de empresas de Web3 inclui uma mulher e apenas 3% tem uma equipa exclusivamente composta por mulheres.

Estas são algumas das conclusões do estudo “Web3 Already Has a Gender Diversity Problem”, publicado pela BCG X, a mais recente unidade de desenvolvimento & design tecnológico da Boston Consulting Group (BCG), e pela People of Crypto Lab (POC Lab), um estúdio criativo e inovador que visa impulsionar a diversidade, equidade e a inclusão no ecossistema da Web3. Em conjunto, a BCG X e o POC Lab analisaram a diversidade de género dos fundadores e investidores, utilizando uma base de dados da Crunchbase constituída por quase 2.800 participantes.

O estudo revela também que no financiamento de empresas Web3 esta discrepância se torna ainda mais nítida. As equipas fundadoras apenas de homens angariam, em média, quase quatro vezes mais do que as equipas apenas de mulheres, cerca de 30 milhões de dólares contra cerca de 8 milhões de dólares. Em particular, ntre as empresas desta indústria que angariaram mais de 100 milhões de dólares não se encontra nenhuma equipa composta apenas por mulheres fundadoras.

A disparidade de género é um fenómeno comum a todo o setor da Web. Entre todos os colaboradores das melhores startups de Web3, a percentagem de mulheres é mais elevada, representando cerca de 27%, no entanto, encontram-se frequentemente agrupadas em funções não técnicas, tais como de Recursos Humanos e de Marketing. O relatório mostra também que esta discrepância é preocupante, já que é maior do que no conjunto dos trabalhadores em áreas STEM, onde as mulheres constituem 33% da força de trabalho, com 25% a assumir papéis técnicos.

“Os números são alarmantes. Estamos perante uma crise tanto económica como de diversidade, e estamos a perder a oportunidade de apoiar e escalar negócios concebidos a pensar em clientes do sexo feminino. A diferença de género no setor da Web3 é um problema ainda maior do que aquele que há muito se observa nas empresas STEM em geral. Quando se fala em Web3 não se está apenas a referir a tecnologia, mas de tecnologia aplicada a todas as indústrias e a todos os aspetos da vida”, comenta Jessica Apotheker, Chief Marketing Officer da BCG e coautora do estudo.  “As empresas Web3 irão moldar a forma como as pessoas se representam a si próprias online, fazem transações comerciais e interagem umas com as outras. A pesquisa feita pela BCG constata também que os negócios com equipas de liderança diversas são melhores a inovar e mais rentáveis. Ao não aceitarem, nem alavancarem a diversidade desde o início, estarão a renunciar uma enorme oportunidade de negócio e de monetização”.

Uma vez que os ecossistemas da Web3 ainda se encontram numa fase embrionária de desenvolvimento, é ainda possível contornar estas questões recorrendo a medidas, como:

  • Garantir uma monitorização contínua e exaustiva: um dos primeiros passos essenciais passa por realizar uma medição meticulosa e objetiva, e pela elaboração de relatórios sobre a representatividade das mulheres e de outros elementos de diversidade em todo o ecossistema dos fundadores de empresas, colaboradores e investidores;
  • Colocar as mulheres em equipas de investimento: existem dados claros que demonstram que o preconceito inconsciente pode influenciar as decisões de financiamento, e as equipas de investimento compostas apenas por homens são mais propensas a apoiar as equipas só com homens fundadores. Para combater este problema, algumas sociedades de capital de risco exigem agora que as equipas de investimento incluam pelo menos uma mulher;
  • Desenhar experiências que sejam inclusivas. As empresas que criam uma presença digital na Web3 devem assegurar-se de que estão a criar a mais vasta gama de experiências para a mais ampla base de consumidores possível.
  • Construir um ecossistema de suporte: as empresas precisam de investir tempo e recursos para garantir que as mulheres fundadoras e investidoras do setor da Web3 podem explorar redes fortes que sejam diversas e inclusivas. A mentoria, de mulheres e homens, é especialmente importante na abertura de portas para aspirantes a fundadoras e investidoras. As cimeiras e conferências da Web3 devem comprometer-se a patrocinar eventos que procurem assegurar a paridade de género entre os oradores, com um compromisso de pelo menos 30% de mulheres oradoras como ponto de partida;
  • Estabelecer parcerias com os reguladores: à medida que governos e organizações sem fins lucrativos se concentram mais em questões ambientais, sociais e de governance (ESG), estão também a desenvolver requisitos de análise mais rigorosos e outros procedimentos relativos à composição de género nas empresas e indústrias. As empresas e os investidores têm uma oportunidade de colaborar proativamente e ajudar a moldar estes regulamentos, em vez de simplesmente esperar que surjam;

“Apesar do atual ecossistema estar enviesado para o género masculino, estamos ainda numa fase muito inicial do desenvolvimento da Web 3, o que constitui uma oportunidade incrível para não se repetir erros passados e assegurar que as mulheres têm os recursos e o financiamento de que necessitam para liderar a nova economia digital”, remata Simone Berry, cofundadora do People of Crypto Lab e coautora do estudo.