Apanhar um avião vai passar a ser mais simples. Só precisa de dar a cara
por António Moura dos Santos (Texto), Paulo Rascão (Fotografia e vídeo) e Pedro M. Santos (Fotografia e vídeo) | 17 de Março, 2022
Viajar é uma bênção, mas tem as suas contrapartidas. Há quem tenha medo de andar de avião e há quem suspire cada vez que se lembra do processo de embarque. Se ainda não há solução para a primeira, a ANA – Aeroportos de Portugal já começou a trabalhar na segunda. Fazendo uso de tecnologia de biometria, a empresa está a implementar sistemas de reconhecimento facial para simplificar as etapas necessárias para apanhar um voo.
A palavra “biometria” pode parecer-lhe distante, mas há uma elevada probabilidade de que já se tenha tornado parte do seu quotidiano sem que se tenha apercebido disso. Quando aproxima o seu smartphone da sua cara para que a câmara leia o seu resto e desbloqueie o ecrã, está a pôr esta tecnologia em prática.
Longe vão os tempos em que o reconhecimento facial estava circunscrito aos filmes de Hollywood, onde heróis e vilões precisavam de expor a cara perante uma câmara para entrar numa base super secreta. Hoje, a biometria é utilizada em cada vez mais áreas como forma de garantir processos mais seguros, desde caixas multibanco a escolas.
O sistema de biometria, porém, não serve apenas para efeitos de segurança; tem também a vantagem de tornar os processos mais simples e rápidos. Imagine, por exemplo, entrar num aeroporto e não precisar de andar à procura dos seus documentos cada vez que tem de passar num posto de verificação. É o que a ANA – Aeroportos de Portugal está a implementar.
Na talk “A Era da Biometria já chegou”, Aaron Beeson, Diretor de Inovação da ANA, explicou como é que esta tecnologia tem vindo a ser usada nos aeroportos onde a empresa opera para facilitar a vida aos passageiros.
Beeson subiu ao palco BTL Lab, promovido pelo NEST – Centro de Inovação do Turismo, e cujo objetivo é dar um palco próprio à inovação na Bolsa de Turismo de Lisboa (BTL), naquela que é maior feira nacional do setor.
“Sendo nós a porta de entrada para o país, reconhecemos a responsabilidade que temos para dar uma primeira experiência muito positiva e uma última experiência muito positiva aos turistas”, começou por dizer o responsável.
Olhando a partir da perspetiva dos viajantes e servindo-se dos casos de estudo de sucesso recolhidos de outros países, a ANA já começou a implementar um sistema de verificação biométrica no Aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa.
O processo é simples: recolhendo uma fotografia da cara de um passageiro — através de uma selfie tirada com o telemóvel ou de uma câmara instalada no aeroporto —, o sistema corresponde-a aos seus documentos de identificação.
“Uma pessoa entra no aeroporto, tira uma fotografia rapidamente, faz scan ao passaporte e ao cartão de embarque e, a partir daí, já pode passar por cada parte do processo ao mostrar a cara a uma câmara. O sistema reconhece automaticamente quem é essa pessoa e passa a informação aos funcionários do aeroporto, para tornar tudo mais simples e mais rápido”, explica Beeson.
Trabalhando em conjunto com as companhias aéreas, com os parceiros comerciais e com o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), a ANA procurou assim integrar este sistema em colaboração com estes intervenientes. “Ou seja, fazemos o mesmo processo que os agentes da imigração ou os funcionários das companhias aéreas — tanto no check-in, como no processo de embarque — aplicam, mas estamos a tentar consolidá-lo de forma tecnológica. Se captarmos a vossa imagem uma única vez, podemos reutilizá-la a subsequentemente no processo”, continua.
O primeiro passo já foi dado no final de 2021, com a implementação de um portal no Terminal 1 para os passageiros provenientes de ou com destino para países do Espaço Schengen — ou seja, que beneficiam de livre circulação dentro do mesmo. Nestes casos, “passam o cartão de embarque, assim como o documento de identificação, e tiram uma fotografia, e não precisam de voltar a mostrar os documentos”, indica o responsável.
O próximo desafio é aplicar o mesmo conceito aos passageiros que não vêm do Espaço Schengen. Aqui, adianta Beeson, o caso de estudo é o Terminal 2, pois “quem viaja para fora da Europa, tem de passar pelo processo de segurança e de fronteiras, ficando numa zona mais reduzida, onde não tem tanto acesso às lojas ou aos serviços de restauração”.
Com a implementação do modelo biométrico, esta sequência é revertida “de forma dinâmica, porque quando se passa pelo processo de segurança, cruza-se uns dispositivos que captam a informação necessária para os agentes do SEF e, quando se chega ao processo de embarque, pode-se simplesmente atravessar as portas sem precisar de mostrar os documentos”.
Desta forma, garante o Diretor de Inovação da ANA, há vantagens para os passageiros, que têm “mais oportunidades para usufruir da zona de partidas e das lojas duty-free”, e para os gestores, pois “simplifica o processo para o aeroporto, porque assim pode abrir-se todo o terminal para voos Schengen e não-Schengen”.
O objetivo desta decisão, diz Beeson, foi o bem-estar dos passageiros, não obstante a capacidade limitada dentro dos terminais dos aeroportos para fazer grandes modificações ao processo.
“Se reconhecermos as nossas experiências de viagem, as dos nossos amigos e da nossa família, assim como dos intervenientes da nossa comunidade, podemos criar novas soluções que respondam aos verdadeiros problemas a que queremos responder”, defende.
Esta, todavia, é apenas uma das soluções de biometria em curso, havendo outros aeroportos operados pela ANA a experimentar programas similares. Em Lyon, anuncia Beeson, “pode fazer-se logo tudo através do telemóvel, em vez de ter de passar pelo processo no aeroporto”. Já no Brasil, através de uma parceria com o governo, o objetivo é “permitir que, quando se aterra ao país, se possa criar uma identidade biométrica para usar no voo de regresso”.
A ideia, assim, seria passar pelo processo de fotografar a cara numa viagem a partir de Portugal para, por exemplo, Lyon, e depois regressar usando a mesma identidade biométrica, sem precisar de estar constantemente a apresentar os documentos. Até porque “o sonho”, sublinhou Beeson, é que as pessoas “andem nos aeroportos com as mãos nos bolsos”.