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A startup que ambiciona ser uma alternativa melhor do que a Google

por Miguel Magalhães (Texto) | 5 de Janeiro, 2024

A startup portuguesa está a desenvolver uma plataforma que é simultaneamente um motor de pesquisa e uma rede social. O objetivo é utilizar inteligência artificial para que os utilizadores encontrem online mais rapidamente aquilo que procuram.

Destronar a Alphabet e a Meta das posições de liderança é algo que muitas empresas anualmente se propõem a fazer. A Alphabet com a Google domina todo o mercado de pesquisa e a Meta com o Facebook e o Instagram controla o jogo das redes sociais (com o olhar atento do TikTok). Os dois grupos são responsáveis por 70% do mercado de publicidade na maior parte dos mercados e têm dado passos para que seja díficil a potenciais rivais chegar à escala que atingiram.

Por isso, empresas que queiram competir com estes dois gigantes têm de encontrar formas inovadoras de introduzir o seu produto, de forma a que a diferenciação e a utilidade sejam rapidamente visíveis. É isso que a Dailycrowds procura fazer introduzindo uma plataforma que, em simultâneo, funciona como um motor de pesquisa e uma rede social. “É uma redefinição completa do conceito de rede social focada na inspiração, na utilidade e na descoberta”, afirma Isabel Costa Pinto, COO da DailyCrowds, em entrevista ao The Next Big Idea.

Ainda em fase beta, a plataforma está agora a dar os passos junto das primeiras centenas de utilizadores. Tudo começou com um projeto da consultora tecnológica que Isabel liderava. Uma empresa do ramo imobiliário desejava um motor de pesquisa mais eficiente para a descoberta dos seus ativos, onde fosse possível potenciais compradores serem mais específicos face às características desejadas, por exemplo, a localização geográfica próxima do mar. Para isso, Isabel e a sua equipa começaram a desenvolver um modelo de linguagem natural, adaptado à forma como as pessoas falam, dando-lhes uma experiência de pesquisa que ia mais rapidamente ao encontro do que procuravam.

“No desenvolvimento do modelo, ele começou a ficar tão forte, que começámos a pensar que podia fazer sentido aplicá-lo a outras dinâmicas como eventos, pessoas, informações e adaptá-lo ao formato de uma rede social”, partilha a COO da Dailycrowds. Ao observar o potencial do projeto, Isabel abandonou a sua consultora tecnológica e abraçou o projeto a 100%. Os primeiros meses foram dedicados ao desenvolvimento do modelo semântico, ainda antes de o ChatGPT entrar nas nossas vidas em novembro de 2022, e só em 2023 é que a plataforma começou a ganhar vida.

O que distingue a DailyCrowds?

“A ideia é ter uma Internet dentro da própria Internet”, explica a fundadora da Dailycrowds, “as pessoas acham que pela popularidade da Google já não é possível ter algo melhor, mas é”. Enquanto a pesquisa da Google funciona com base em keywords que depois nos remetem para links agregados pela plataforma, a DailyCrowds propõe-se a dar resultados específicos para o utilizador e com um nível de detalhe que a Google “ainda” não consegue. De acordo com Isabel, um tipo de pesquisa possível no DailyCrowds é o seguinte: 

“Quero um restaurante italiano que tenha um risotto, onde eu possa tomar uma Margarita e tenha um tiramisu no menu de sobremesas, com disponibilidade às 15h45 e com vista para o mar e que não seja demasiado longe do meu escritório”.

De seguida, a plataforma vai ser capaz de dar em real time um resultado específico para o utilizador dentro da própria plataforma sem ser necessário recorrer a links. Este tipo de experiência pode ser replicado para qualquer dinâmica que o utilizador possa ter necessidade – planear uma viagem, pesquisar por notícias, por um perfil de recrutamento, por um filme. Desta forma, num único sítio, os utilizadores podem ter acesso a toda a informação que necessitam, em vez de navegar por dezenas de resultados que lhes são dados sem informação concreta. Quatro questões importantes:

  • O modelo semâtico da Dailycrowds é baseado em algumas das tecnologias da OpenAI, Amazon ou Google? Não, a equipa desenvolveu o modelo de raiz.
  • Como é que a Dailycrowds recolhe informação? O modelo-base já foi treinado com informação dada e colecionada pela empresa, mas a sua eficácia está dependente da colaboração dos próprios utilizadores, um pouco à semelhança da Wikipédia. Para incentivar esta dinâmica, a empresa criou um sistema de pontos e rankings para premiar os utilizadores mais ativos.
  • Qual é a dinâmica de rede social? Dentro da própria plataforma, os utilizadores podem contribuir dentro de comunidades associadas a diferentes tópicos. Haverá comunidades para desporto e fitness, comunidades para restaurantes, comunidades para eventos culturais, entre outras, que podem interagir entre si e contribuir com informação para a plataforma, cujo algoritmo depois atribui uma ordem de relevância.
  • Qual o modelo de negócio? “Somos uma plataforma para a felicidade, não queremos depender de publicidade”, reitera Isabel Costa Pinto. Para gerar receitas, a Dailycrowds vai atuar em dois principais eixos: no primeiro, vai atuar como “uma espécie de Booking para tudo” cobrando uma comissão por operações (reservas ou vendas) que são feitas através da plataforma; no segundo, vai criar um serviço de subscrição para empresas e marcas, onde estas podem garantir uma certificação e aparecer primeiro na ordem de relevância das pesquisas que são feitas por utilizadores.

Um desafio grande

A Dailycrowds assume-se como uma plataforma global à imagem do mercado que está a endereçar. Nesta etapa, ainda só está disponível na plataforma os conteúdos com base em colaboração, mas o motor de pesquisa com base em IA deverá chegar durante 2024. Até agora, a empresa foi completamente bootstrapped, mas espera que a prova de conceito, bem como o interesse crescente dos VC em plataformas de IA lhe permita conseguir uma ronda de investimento para escalar o negócio. 

Tanto o Google como as redes sociais da Meta já são utilizadas por mais de 2 mil milhões de pessoas no mundo inteiro, portanto parte do desafio vai ser ir atrás destes utilizadores e provar-lhes que pode haver uma alternativa melhor.