E se tivéssemos um centro de saúde no nosso smartphone?
por Miguel Magalhães (Texto) | 29 de Novembro, 2023
A Liber é uma app da startup portuguesa UpHill para problemas de saúde frequentes, programas de prevenção e bem-estar, prescrição e renovação de receitas, que recorre a inteligência artificial.
Fundada em 2015 por três médicos, a UpHill é uma empresa que desenvolve software e conteúdo de Medicina para melhorar a qualidade e eficiência das instituições de saúde. Já acumulou mais de 5 milhões de euros em investimento, trabalha com os principais hospitais do país e o lançamento do Liber dá continuidade à sua visão estratégica.
“Ao longo destes anos, percebemos que alguns dos problemas que afetam as instituições de saúde, relacionados com a procura crescente e falta de capacidade de resposta, estão também relacionados com a falta de alternativas que permitam às pessoas não recorrer a esses serviços, extremamente diferenciados, por todo e qualquer motivo”, partilha o CEO da Uphill, Eduardo Freire Rodrigues.
A Liber é um serviço de saúde pessoal e digital que permite tratar, acompanhar e prevenir problemas de saúde comuns e relativamente frequentes, de forma rápida, cómoda e segura. Através de uma aplicação móvel, disponível 24 horas por dia, todos os dias, os utilizadores podem receber planos de tratamento para as condições clínicas agudas mais frequentes, programas de prevenção e promoção da saúde e ainda resolver necessidades pontuais como a renovação de receitas ou de atestados médicos.
O funcionamento é muito simples: cada utilizador escreve, utilizando vocabulário comum, o que sente, acionando automaticamente um mecanismo de triagem inicial de sintomas. Posteriormente, é-lhe atribuída uma equipa clínica que, com a informação previamente reunida, vai estabelecer o diagnóstico e desenvolver um plano personalizado. Em poucos minutos, a pessoa recebe no telemóvel um plano completo que inclui prescrições de receitas ou exames (conforme necessário), recomendações e explicações sobre como proceder. O serviço distingue-se ainda pelo acompanhamento da evolução do estado de saúde ao longo do tempo, isto é, pela existência de um contacto proativo da equipa clínica, o que vai permitir ajustar o plano de tratamento sempre que necessário.
“O propósito de lançar o Liber foi precisamente colocar no mercado uma alternativa que trouxesse os cuidados de saúde para fora dos locais onde habitualmente estão concentrados de forma a responder a estas premissas”, começa por explicar Eduardo Freire Rodrigues ao The Next Big Idea, numa entrevista realizada por e-mail. “Por um lado, do ponto de vista do consumidor, e maioritariamente dos jovens adultos, aproximar a experiência em saúde daquela que temos, enquanto utilizadores, noutros setores – como o entretenimento, a banca, ou os transportes – isto é, cada vez mais digital, personalizada e on demand. Por outro lado, sendo óbvio que as instituições de saúde estão manifestamente sobrecarregadas, retirar desses locais, nomeadamente centros de saúde e hospitais, situações que podem ser resolvidas, em segurança, por outra via”, conclui o CEO da Uphill.
Para o conseguir, a Liber alia dois pilares: uma tecnologia de ponta e equipa clínica exclusiva – que se complementam mutuamente. Com a primeira, garante a qualidade e a velocidade do serviço. Com a segunda, graças à experiência da equipa clínica, viabiliza a personalização do serviço e ajusta os planos às necessidades de cada pessoa.
Os custos e o funcionamento
O serviço pode ser usado por qualquer pessoa entre os 18 e os 65 anos, independentemente do tipo do setor que frequente, quer seja o público ou o privado. No caso de quem utiliza maioritariamente o setor público da saúde, passa a ter uma solução muito mais prática e rápida, a preços acessíveis; por seu turno, quem recorre aos hospitais privados, onde os tempos de espera para consulta também já são consideráveis, passa a ter uma alternativa mais rápida.
Quanto ao tipo de respostas que o serviço abrange, a Uphill indica que trata de 85% das situações clínicas mais frequentes. No que toca aos planos de preços, estes variam entre os 5€ e os 20€ para a doença aguda e entre 15€ e 30€ para programas de prevenção e bem-estar, pagos uma vez.
“Estes valores são por tratamento, isto é, uma pessoa que utiliza a app para, por exemplo, receber um plano de tratamento para a amigdalite vai pagar um valor fixo (entre 5€ e 20€) e ter várias interações com a equipa clínica. Neste valor está incluída a avaliação inicial de sintomas, diagnóstico, definição de um plano terapêutico, prescrição de receitas e exames complementares se necessário e ainda pontos de contacto subsequentes para seguimento da evolução clínica”, detalha Eduardo Freire Rodrigues. “A comparticipação depende sempre do seguro de saúde do utilizador. Tanto o ato médico Liber como os exames que sejam prescritos pela equipa clínica Liber podem ser reembolsados se estes serviços estiverem incluídos no seguro, como acontece com qualquer outra consulta ou teleconsulta”, acrescenta.
O futuro da Uphill, de olhos postos no investimento
Por enquanto, o Liber destina-se a adultos entre os 18 e os 65 anos, precisamente porque a literacia digital é um fator essencial para a utilização da plataforma. Além disso, o próprio serviço está, nesta fase inicial, dirigido a situações e necessidades de saúde pontuais, que não são necessariamente aquelas que a população idosa com doença crónica se depara.
De acordo com a Uphill, a experiência que tem do trabalho desenvolvido com os maiores hospitais em Portugal, em projetos cuja idade média dos pacientes ronda os 70 anos, é surpreendentemente positiva e é uma área para a qual o serviço está a expandir: gestão da doença crónica. “Sabemos, por experiência própria, que quando as soluções são simples e utilizam canais com os quais estas pessoas já estão familiarizadas, a adesão é extremamente positiva e temos até taxas de adesão superiores aquela que é descrita na evidência científica sobre o tema, pelo que este é uma área que vamos continuar a explorar”, refere Eduardo Freire Rodrigues.
Os planos de expansão da UpHill, quer no trabalho que desenvolve diretamente com os hospitais, quer nesta nova linha de saúde, são ambiciosos, o que significa que no momento de falar com investidores vai procurar uma capitalização também ela ambiciosa. A última ronda de investimento aconteceu em 2021, ano em que fechou uma ronda de 3,5 milhões de euros e um projeto de I&D no valor de 1 milhão, e, de acordo com startup da área da saúde, “teremos novidades muito positivas sobre este tema nos próximos meses”.