Do Portugal Tech à aposta no clima: quais são os fundos da Europa para apoiar o investimento em startups
por Rute Sousa Vasco (Texto) | 16 de Novembro, 2023
No primeiro dia do Web Summit, o The Next Big Idea conduziu uma programação de entrevistas, com o apoio da Portugal Tech, na qual participaram alguns dos principais responsáveis do Banco Europeu de Investimento e do Fundo Europeu de Investimento.
Apoiar novas startups e reter na Europa os projetos de maior crescimento na área tecnológica é um dos desafios da União Europeia. É nesse contexto que atua o Banco Europeu de Investimento (BEI) e o Fundo Europeu de Investimento (FEI), em parceria com fundos dos países membros. Fomos saber, a partir de um conjunto de conversas com os principais responsáveis europeus e nacionais, as prioridades de investimento e os resultados de ferramentas financeiras como o Portugal Tech, lançado em 2018.
Não escolhemos vencedores, escolhemos os melhores gestores para que possam escolher os vencedores
— Ricardo Mourinho Félix, vice-presidente do Banco Europeu de Investimento
O Banco Europeu de Investimento está a investir por ano 80 mil milhões de euros e, desse montante, 25% vai para inovação. “O European Investment Fund (EIF) é o catalisador do sistema de inovação na Europa”, afirma o vice-presidente do BEI.
O modelo seguido não é de investimento direto, mas sim de seleção de fundos de investimento e investidores através dos quais o financiamento chega às empresas, nomeadamente às startups. “Não escolhemos vencedores, escolhemos os melhores gestores para que possam escolher os vencedores”, sublinha Ricardo Mourinho Félix (veja aqui a entrevista).
O EIF financiou na Europa unicórnios como Spotify, Skype e Klarna. Em Portugal, através do Portugal Tech, foram financiados três dos sete unicórnios portugueses.
“Há etapas em que queremos fazer mais, como é o caso das rondas mais avançadas de investimento que estão abaixo do que é feito nos Estados Unidos ou na Ásia”
— Bjorn Tremmerie, Head of Venture Capital at EIF
25% do investimento mundial nas “early seeds” está na Europa, por comparativo com 40% a 50% nos Estados Unidos, mas, em termos de performance, o continente europeu obtém resultados similares. Não é aqui que reside o principal desafio de financiamento à inovação e às startups na Europa, mas sim nas rondas seguintes, sobretudo as mais elevadas. “Nas séries de 100 ou 200 milhões estamos dependentes de investidores não-europeus”, afirma o Head of Venture Capital at EIF (veja aqui a entrevista).
E por isso essa uma das prioridades na atuação do EIF, nomeadamente com a iniciativa de “tech champions”, suportada com três mil milhões de euros, financiados por cinco Estados-membros e pelo European Investment Bank. “Esperamos que mais se juntem para podermos financiar a próxima geração de startups com dinheiro europeu”, diz Bjorn Tremmerie, sublinhando o trabalho feito nos últimos 15 anos. “Desde 2008 que não é kamikaze ser empreendedor na Europa”.
“Temos uma ambição grande no que respeita a investimentos no clima e quem sabe poderemos vir a ter um primeiro fundo de investimento no clima a partir de Portugal”
— Miguel Alves, Manager of Portugal Tech at EIF
O Portugal Tech foi lançado em 2018, numa altura que havia procura de suporte institucional por parte dos fundos de investimento. A parceria parceria entre o BEI e o Banco de Fomento permitiu trazer 100 milhões de euros de financiamento ao mercado português. “Fiquei surpreendido com a rapidez com que se conseguiu trazer o financiamento ao mercado e às empresas”, refere hoje Miguel Alves, responsável pelo Portugal Tech no EIF (veja aqui a entrevista).
O contexto de 2023 é diferente do que o de 2018, mas as premissas de atuação do BEI mantêm-se: “as pessoas estão mais avessas ao risco, os investidores estão mais cuidadosos, mas não diria que não há dinheiro para investir. As empresas precisam de ser melhores”.
Em termos de critérios, destacam-se três premissas: a criação de impacto, a promoção de maior diversidade, nomeadamente de género, com mais mulheres à frente de startups e de investimento, e a aposta em soluções na área do clima. “Temos uma ambição grande no que respeita a investimentos no clima e quem sabe poderemos vir a ter um primeiro fundo de investimento no clima a partir de Portugal”.
“Portugal Tech foi um exemplo em como dinheiros públicos ajudaram a resolver a falta de financiamento institucional”
— João Fonseca Santos, Head of EIB Group Office in Portugal
Nos últimos cinco anos, o BEI investiu 12 mil milhões de euros em empresas e startups, e Portugal está na lista dos 10 países que mais tiveram acesso a esses fundos.
“Somos mais necessários quando a atividade económica enfrenta mais desafios”, lembra João Fonseca Santos, recordando o ano de 2021 em que, em contexto Covid-19, o valor disponibilizado pelo BEI ascendeu a cinco mil milhões (veja aqui a entrevista)
Portugal “tem pontuado bem” no que respeita à capacidade de aplicar este tipo de financiamento, refere, com destaque para o Portugal Tech, que ajudou a financiar 22 startups portuguesas.
“O nosso principal objetivo é suprimir falhas que existem no ecossistema português e uma delas é venture capital”
— Hugo Roxo, administrador do Banco de Fomento Português
A função dos bancos de fomento tem uma história já longa na Europa, nos seus diversos contextos remonta à 2ª Guerra Mundial. Sempre com uma missão promocional da economia e, no atual contexto português, associado à inovação e à criação de condições de crescimento económico. “O nosso principal objetivo é suprimir falhas que existem no ecossistema português e uma delas é de venture capital”, refere Hugo Roxo (veja aqui a entrevista).
Há dois anos, o Banco de Fomento anunciou um programa em associação a fundos de investimento no valor de quatro milhões de euros em que as prioridades estão identificadas na área tecnológica, no clima e na indústria. “Ainda temos um longo caminho para fazer quando comparamos com países como Reino Unido ou Estados Unidos, precisamos assumir mais riscos, mas não é dinheiro-helicóptero”.
O objetivo é potenciar o talento e as condições que Portugal reúne enquanto país de destino para projetos de inovação, nomeadamente ao nível das startups.
Estas conversas tiveram lugar no primeiro dia da edição de 2023 da Web Summit, a partir do estúdio live do The Next Big Idea na Altice Arena. Estas são as principais mensagens e, em cada uma, podem ter acesso às conversas na íntegra.
Para acompanhar a emissão live do The Next Big Idea na edição de 2023 da Web Summit subscreva a nossa página de LinkedIn.