Inteligência artificial poderá fazer-nos confiar mais nos bancos?
por Miguel Magalhães (Texto) | 7 de Novembro, 2023
No âmbito do Data Makers Fest, Pedro Mira Vaz e Bruno Tinoco, dois dos responsáveis da área de dados do novobanco, falaram da forma como o banco português está a aplicar inteligência artificial no seu dia-a-dia.
“A banca são dados e pessoas”, explica Pedro Mira Vaz. Para o Chief Data & Analytics Officer no novobanco é esta a essência dos bancos há mais de 500 anos, porque no final do dia são pessoas e dados de boa qualidade que transmitem confiança a clientes. Em pleno século XXI e, numa altura em que o panorama muda rapidamente de semana para semana, os dados e as tecnologias que os exploram, têm a função principal de ajudar os bancos a gerir o risco, tanto naquilo que são as operações diárias com dinheiro das empresas e clientes individuais, como na relação com reguladores sempre atentos a movimentações nos mercados financeiros.
No caso do novobanco, criado com a resolução de um banco, os dados e os indicadores rigorosos ganham ainda uma maior importância naquilo que é não só a sustentabilidade do negócio, mas também do próprio posicionamento junto de diversos stakeholders. Por outro lado, a aplicação de inteligência artificial é também cada vez mais um eixo estratégico dos bancos para antecipar tendências e gerar valor para clientes e o novobanco não é exceção. Na visão do banco, o objetivo passa por criar uma oferta que os possa ajudar ao longo de toda a sua vida. “Toda a sua vida implica sermos capazes de fazer coisas como prever quais os produtos mais adequados para cada cliente a médio prazo”, reforça Pedro Mira Vaz.
Trabalho invisível vs. trabalho vísivel
A aplicação de inteligência artificial nos serviços do banco não é igualmente visível para todos os clientes. Por um lado, o segmento empresarial, por ser mais dinâmico e qualificado do ponto de vista financeiro, exige um grau de sofistação maior da oferta para ser diferenciador. Atualmente, o novobanco tem apoiado em áreas como o estabelecimento de cadeias de abastecimento mais sustentáveis ou no financiamento mais eficiente através de instrumentos financeiros inteligentes que permitam uma melhor gestão do risco.
“Nos particulares é muito mais visível”, afirma Pedro Mira Vaz. “Por exemplo, na nossa app, um cliente que pague regularmente o colégio dos filhos, se por acaso se esquecer, aparecerá um lembrete da aplicação a alertar que ainda não pagou este mês o colégio e se quer carregar naquele botão para proceder ao pagamento imediato”. É uma aplicação mais simples de IA, que implica o conhecimento por parte do banco de toda a vida financeira do seu cliente, mas que pode ser utilizada para criar valor se for feita com responsabilidade, um dos temas que teve em maior destaque durante todo o Data Makers Fest.
IA e o impacto na banca
“Há sete anos, 7% dos nossos clientes utilizavam a app do novobanco. Hoje em dia, quase 80% dos nossos clientes utilizam a app para gerir o seu dia-a-dia financeiro, e mais de 80% das operações são feitas através do telemóvel.”, conta Bruno Tinoco, Head of Data Science & AI no novobanco”.
A IA não foi o único fator para esta transição, nem provavelmente o mais importante. Os smartphones tornaram-se a regra e, de uma forma geral, as aplicações, nomeadamente as relacionadas com a banca, passaram a UI bastante mais apelativa, tanto em termos de design como da burocracia necessária para aprovar uma transação, por exemplo. Dentro deste contexto e daquilo que são as novas expectativas dos utilizadores para um banco, é normal que o novobanco explore qual pode ser a próxima grande integração tecnológica no mercado, recorrendo a IA. “Nós interagimos com os nossos clientes nos momentos mais importantes da sua vida – compra de casa, um empréstimo para a educação dos filhos – são momentos não se fazem do dia para a noite e exigem preparação. A inteligência artificial é aqui uma mudança de paradigma com o que podemos fazer com Generative AI e com capacidades de conversação, por exemplo”, refere Bruno Tinoco.
Para Pedro Mira Vez, outro aspeto importante desta transição é a “permanente e eterna procura de eficiência por parte dos bancos”. De acordo com o executivo do novobanco, isto não significa que a relação pessoal dos bancos vai desparecer, mas que o cérebro humano vai passar a ser utilizado em tarefas que, de facto, acrescentem valor, delegando para a IA tudo aquilo que são coisas que podem ser feitas de uma forma mais rápida e eficiente.
Nesta luta, o novobanco não está sozinho. O ecossistema de inovação português é hoje composto por um leque promissor de fintechs, um conjunto de empresas que introduziram uma série de dinâmicas na forma como uma nova geração de utilizadores interage com as suas finanças. Contundo, os dois responsáveis do banco português olham para este fenómeno, mais como uma oportunidade para inovar o seu modelo de negócio, trazendo algumas destes projetos para “dentro de casa” através de parcerias como a que o novobanco tem com a Fintech House. Para Bruno Tinoco, a palavra-chave na colaboração volta a ser sustentabilidade. “É tudo assente na capacidade de perceber as fintech, de perceber as skills que estão por detrás e se elas vão ser capazes de evoluir e acompanhar e apoiar-nos ao longo do tempo”.
O novobanco foi um dos main sponsors do Data Makers Fest, que decorreu entre os dias 23 e 24 de outubro, na Alfândega do Porto.