Voltar | Criptomoedas

Quando vem a próxima primavera cripto?

por Miguel Magalhães (Texto) | 22 de Fevereiro, 2023

Na European Blockchain Convention e no painel “Crypto Winter: What’s Next For Startups” foi a pergunta para a qual ninguém teve ainda uma resposta definitiva. A única certeza é a necessidade de aprender com os erros neste inverno cripto e criar o máximo de condições para que sejam construídas as soluções de futuro para o máximo de utilizadores possível.

2022 não foi um ano fácil para as startups web3. A pandemia trouxe uma maior popularidade ao setor, a maior parte das empresas atingiu valorizações recorde, uma série de fundos e instituições financiaram mais projetos do que nunca e, pelo menos em termos de media, a Web3 tornou-se num dos temas quentes para analisar e especular.

Uma das especulações era que a volatilidade característica deste mercado não tinha simplesmente desaparecido. Ao longo do últimos 15 anos, desde que Satoshi Nakamoto escreveu o paper que serviu de base para a Bitcoin, o mercado das criptomoedas tem sido alvo de altos e baixos e, por isso, era uma questão de tempo até que houvesse algum tipo de correção.

O que se calhar não era tão esperado era a quantidade de fatores macro que iriam afetar a movimentação da indústria. A incorporação da web3 no mundo mais institucional levou-a a ser impactada pela crise económica mundial que começou a afetar mercados no mundo inteira e esta indústria não foi exceção: os volumes de transação de criptomoedas desceu consideravelmente, os fundos começaram a ser mais exigentes com os investimentos que faziam, os bancos tornaram mais rigorosos a emprestar dinheiro com a subida das taxas de juro e a inflação levou a que muitas empresas tivesse uma estrutura de custos que já não conseguia suportar. E isto foi válido tanto para uma empresa de ecommerce como para uma de web3.

Ao mesmo tempo, os casos da Terra/Luna e da FTX trouxeram outra camada de desafios para a indústria. A confiança que vinha a ser construída ao longo dos últimos anos junto de utilizadores e parceiros institucionais foi danificada e poderá ter afastado potenciais interessados da indústria. Mas não significa o fim. Pelo menos, essa parecia a ideia comum no painel “Crypto Winter: What’s Next For Startups” da European Blockchain Convention, que decorreu em Barcelona.

Para Susanne Fromm (Vanagon Ventures), Matus Steis (Deriverse) e David Wigger (LIAN Group), este é mais um período para aprender com os erros que foram cometidos, para identificar oportunidades e para dar apoio aos projetos que de facto estar a construir as plataformas do futuro e não aqueles que aproveitar um “boom” económico para conseguir dinheiro para empresas que não acrescentavam muito.

É isso que acontece em períodos económicos negativos que limpam muito players do mercado, se bem que este tem uma diferença significativa do anterior, que decorreu em 2018. Em 2017, houve um período de crescimento suportado nos utilizadores individuais, enquanto em 2020 e 2021 houve uma adoção institucional e algum FOMO de empresas, que trouxeram credibilidade à indústria, mas que se calhar trouxeram uma valorização excessiva a projetos que ainda não tinham uma performance que a justificasse.

Um aspeto positivo é que neste período de queda, existe muito mais talento no setor do que existia há 5 anos. Hoje, milhares de pessoas no mundo estão realisticamente entusiasmadas com o potencial da tecnologia blockchain e estão mais preocupadas com a construção de aplicações que de facto possam ser uteís para utilizadores e organziações e não tanto em construir “esquemas” que só servem para conseguir dinheiro rápido que rapidamente se vai esfumar. 

Da perspetiva de um investidor, para o futuro, o objetivo vai passar por analisar cada projeto da mesma forma que o faziam para uma startup de qualquer outro setor. A equipa é importante, há indicadores de crescimento que têm de ser cumpridos e vão existir projetos em áreas que têm mais potencial que outros, por isso, só a tagline de ser uma startup web3 vai deixar de ser suficiente para atrair investidores com medo de perder a próxima grande ideia. Aliás, a maior maturidade da web3 faz com que atualmente o mercado de venture capital do setor já seja constituido por fundos que investem numa variedade de setores e não só em web3. Portanto, o elemento comparativo vai ser cada vez maior, bem como a exigência já mencionada.

Para o painel, é díficil estimar a chegada da primavera, dado que ainda faltam dar passos no que diz respeito à regulação e ainda a descoberta de uma aplicação web3 que traga milhões de utilizadores da mesma forma que o ChatGPT trouxe para a inteligência artificial. A criação de uma plataforma que permita democratizar os pagamentos com criptomoedas poderá ser um caminho, mas existiram certamente outros. A colaboração na indústria e vontade encontrar a resposta em conjunto são razões para ter esperança e confiança, mas será necessário pragmatismo e bom senso de todos os “stakeholders” para que isso aconteça.

A European Blockchain Convention decorreu em Barcelona, entre os dias 15 e 17 de fevereiro, e contou com mais de 2.500 participantes.