Netflix com anúncios? Como, quando e porquê
por The Next Big Idea | 21 de Abril, 2022
O co-CEO da Netflix Reed Hastings deixou esta semana o mundo do streaming num autêntico rebuliço ao anunciar, depois de passar anos a pregar contra a ideia de a Netflix ter anúncios, de que a Netflix vai passar a ter anúncios.
A Netflix vai ajustar o seu modelo de negócio. O que não é propriamente um choque tendo em conta aquilo que foi o verdadeiro choque: o anúncio de que perdeu subscritores pela primeira vez numa década (concretamente foram 200 mil) e que espera perder mais 2 milhões no próximo trimestre.
A notícia caiu que nem uma bomba nos mercados e levou a que o preço das ações caíssem a pique (uns impressionantes 35%!), naquela que foi a maior queda em bolsa da empresa desde 2004. Tradução: perdeu 50 mil milhões de dólares do seu valor.
Mais: o anúncio e a queda deixaram os investidores de tal forma preocupados que, a título de exemplo, a Pershing Square, um fundo de investimento, vendeu a sua participação (3 milhões de ações) com prejuízo. A justificação: “Perdemos a confiança na nossa capacidade de prever as perspetivas futuras da empresa”.
Portanto, tal como explica a Protocol, vêm aí mudanças. Ou seja, isto significa que devem vir aí anúncios. E existem 9 mil milhões de razões para que isso aconteça (já lá vamos). Mas por partes.
O que aí vem
A Protocol começa por dar uma nota importante: a Netflix não vai forçar ninguém a ter que ver anúncios. Deverá, sim, criar um plano novo e mais barato que vai incluir anúncios. Por outras palavras, os atuais subscritores devem de poder continuar a usufruir do serviço como sempre o fizeram: ad-free.
- O que disse o co-CEO sobre o tema: “Se quiseres uma opção livre de anúncios, enquanto consumidor, terás opção”, remediou Reed Hastings durante a apresentação das contas do primeiro trimestre de 2022. “[Mas] se preferires pagar um preço inferior e és tolerante aos anúncios, nós vamos ter-te em conta”, disse.
Esta solução não é nova no mercado. Aliás, não só não é nova como até está mais ou menos testada. Basta olhar para os números do serviço streaming Hulu (do qual a Disney tem cerca de 67%, sendo já que já é sabido que ficará com os restantes 33% em 2024).
Hulu: Case Study
- A Hulu passou de 35,4 milhões de subscritores em 2020 para 40,9 milhões em 2021. E só tem opção ad-free desde 2015. (Antes disso, havia opção… ver primeiro o anúncio e só depois a série.)
- A receita média mensal da Hulu por assinante foi de 12,96 dólares — o que é mais ou menos o mesmo preço da subscrição mensal da Netflix (nos EUA).
- Por outras palavras: a Hulu consegue fazer dinheiro tanto com o subscritor que está disposto a ver anúncios como com o subscritor que está disposto a pagar mais para não ter que os ver.
- Outros dados que ajudam a explicar o fenómeno: o serviço (com anúncios) custa apenas 6,99 dólares por mês e muitas vezes é possível aderir ao mesmo em promoções que custam 2,99 dólares. Isto, além de que também é possível aderir à Hulu através de pacotes (bundles) mais baratos (como é o caso do mais famoso pack da Disney, que incluiu Hulu, Disney+ e ESPN+, por um preço inicial de 14 dólares mensais).
Na Netflix, não vai ser para já
A Protocol frisa que os anúncios vão chegar, mas não é para já. A plataforma testa exaustivamente qualquer mudança (como é o caso dos botões) e é conhecida por não dar um pé em falso. No entanto, neste caso dos anúncios, será diferente. E será diferente porque está provado que resulta.
- “Não creio que nós tenhamos muitas dúvidas de que funciona”, explicou Hastings. “As outras empresas [Hulu, Disney e HBO] descobriram como fazê-lo. Tenho a certeza que nós também o faremos em vez de o testarmos”, afirmou.
- Em suma, ainda não se sabe muito bem como é que vai ser o serviço com anúncios da Netflix, mas sabemos que a empresa vai trabalhar nisso nos próximos tempos.
- Isto significa que: os investidores terão de ser pacientes e aguardar pelo desfecho da situação.
A cedência aos anúncios
Depois de atingir um ponto de estagnação no mercado norte-americano as atenções da Netflix voltaram-se de forma natural para os mercados internacionais. A realidade, porém, é que a empresa tem tido dificuldades para se impor em muitos países, muitas vezes por ser incapaz de igualar o preço mais baixo da concorrência (a local e a dos rivais diretos do costume como a HBO ou Prime Video).
- O problema: a máquina tem de continuar a crescer e a gerar dinheiro para alimentar a fome dos investidores.
- A solução a): é neste ponto que entram os anúncios. Segundo estimativas de especialistas, a Netflix está a perder 9 mil milhões de dólares em receitas por estar a ir a jogo sem procurar estes ganhos.
- A solução b): atacar a partilha de palavras-passe. O motivo? A plataforma perde anualmente 1,6 mil milhões de dólares por este motivo. E é por isso que, além de anúncios, a Protocol avisa para que se espere movimentações neste sentido num futuro próximo.