4 Day Week Global. Trabalhar 4 dias é assim tão difícil?
por Maria Rato | 15 de Março, 2023
A 4 Day Week Global é uma organização sem fins lucrativos sediada na Nova Zelândia, fundada por Andrew Barnes e Charlotte Lockhart, que pretende revolucionar as expectativas e hábitos do mundo do trabalho.
Há algum tempo que ouvimos falar da ameaça ou benção da semana de 4 dias de trabalho. Este sistema tem por base um método 100-80-100, sendo que os empregados trabalham apenas 80% do tempo, em troca de 100% do seu salário, garantindo 100% dos resultados que seriam atingidos numa semana de 5 dias.
4 Day Week Global é uma organização sem fins lucrativos que deu os primeiros passos através de um programa lançado, em 2018, com a Perpetual Garden, uma empresa com a sua própria fundação que apoia serviços filantrópicos e fornece consultoria de financiamento. Com o passar do tempo, a organização foi crescendo e, em 2021, lançou um programa piloto de apoio a empresas que quisessem implementar a semana de 4 dias de trabalho, mas não sabiam como.
Este consiste num ensaio coordenado de 6 meses, que tem por base a garantia de semanas de trabalho de 4 dias, sem perda alguma de remuneração para os trabalhadores. A 4 Day Week Global garante um programa faseado de treino, mentoria, networking e pesquisa para que as empresas sejam acompanhadas e tenham capacidade de se adaptar ao que está a acontecer à sua volta.
Em 2022 foi lançada a versão internacional do programa piloto, que conta com o apoio da Universidade de Cambridge, de Boston e de Oxford na investigação e ainda, com alguns órgãos locais em cada região de teste. Isto permitiu que fossem lançados programas piloto nos Estados Unidos, Reino Unido, Austrália, Irlanda, entre outros países, tendo estes acesso a recursos especializados para garantir uma transição bem sucedida.
No início deste ano, a 4 Day Week Global publicou os resultados do maior programa piloto internacional até à data, realizado no Reino Unido em 2022. Participaram cerca de 3000 funcionários, distribuídos por 61 empresas e os resultados foram esmagadores:
- 38 empresas têm a intenção de continuar a implementar as semanas de 4 dias
- 18 querem tornar o sistema de 4 dias de trabalho permanente, assim que o teste piloto acabasse
- 2 decidiram prolongar o teste
- 3 não pretendem continuar com a semana de 4 dias após o fim do teste
Com uma taxa de aceitação à volta dos 92%, o relatório publicado pela organização mostrou que as receitas das empresas mantiveram-se estáveis ao longo dos 6 meses de teste, contudo, verificou-se um aumento à volta de 35% quando estas foram comparadas com o mesmo período temporal de anos anteriores. As demissões diminuíram e as grandes mudanças foram registadas na saúde e no bem estar dos trabalhadores.
Num inquérito feito após o teste, verificou-se uma descida nos níveis de stress e de esgotamento dos trabalhadores e uma subida nos níveis de saúde mental e gosto pelo trabalho no geral.
Ficamos então com uma pergunta: quem deve mudar, as pessoas ou as empresas?
Não é segredo que, à medida que novas gerações entram no mercado de trabalho, espera-se dos empregadores uma crescente preocupação para chegar a um equilíbrio entre a vida profissional e pessoal. Isto pode ser traduzido de várias formas dependendo de cada um e de cada geração. Quando questionados sobre o que os faria voltar para a semana de 5 dias de trabalho, um terço dos inquiridos, afirmaram que teriam de exigir um aumento entre 26% e 50% no seu salário e 8% dos inquiridos disseram que o aumento teria de ultrapassar os 50% para estes mudarem de ideias. No geral, a maioria assegurou que a semana de 4 dias teria de ser um requisito garantido para um futuro trabalho.
A 4 Day Week Global, juntamente com o lançamento do seu relatório, assegurou que os resultados positivos deviam ser entendidos como um sinal para reformar a convenção desatualizada de que só existe um formato de trabalho semanal.
Com a entrada da mais recente geração no mercado de trabalho, as empresas sentem a necessidade de se auto avaliar e preparar para os próximos anos de trabalho. A Geração Z, que inclui toda a gente nascida entre 1997 e 2012, é a mais populosa até hoje, ocupando mais de um terço da população mundial. Esta prepara-se para mudar o mundo do trabalho pós pandemia. São pessoas que dão prioridade a um bom ambiente de trabalho, exigindo benefícios de bem-estar geral, flexibilidade e compreensão. Sem estes fatores, a maioria da Geração Z não parece ter problema em desistir de um emprego que não lhes ofereça aquilo que procuram.
Alguns casos de sucesso
Existem empresas que já deram o salto e formalizaram a semana de trabalho de 4 dias.
- A Bolt Financial, que depois de um período de teste de 3 meses no verão de 2021, liderado pelo fundador e presidente executivo da empresa, Ryan Breslow, viu que os resultados falavam por si e decidiu implementar sextas feiras offline.
- A Panasonic, multinacional japonesa, também já aderiu, oferecendo aos colaboradores a opção de uma semana de trabalho de quatro dias e é importante salientar que apenas 8% das empresas japonesas oferecem mais de dois dias de descanso garantidos por semana, de acordo com o Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-Estar Social.
- A Uncharted, um acelerador de impacto social com base em Denver, nos Estados Unidos, que se fundiu com a Common Future, começou a implementar, em 2020, uma fase de teste que iria resultar na implementação definitiva da semana de 4 dias.
Já se percebeu que a tendência para valorizar um equilíbrio responsável entre a vida pessoal e profissional está para ficar, por isso, porque não tentar acompanhar o requisito?