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Web Summit Rio: há muitas razões para atravessar o Atlântico (e não se esqueça do protetor solar)

por | 12 de Abril, 2025

Todos os anos, por alturas de março, os aficionados por tecnologia fazem as malas e rumam até Austin, nos Estados Unidos, para o SXSW, aquele evento que é uma mistura improvável de tendências tech, cinema, música e um quê de “mind-blowing” à americana. É o tipo de lugar onde as ideias do futuro são servidas antes mesmo de alguém pensar em inventá-las, tudo graças à curadoria meticulosa de Hugh Forrest. O detalhe é que, como tudo o que acontece nos EUA, lá vem aquele debate típico de ser “o maior do mundo”. Até fazer marcha atrás em foguetes virou moda por lá. Sim, porque se não for exagerado, não é americano.

Mas mal os marketeiros acabaram de publicar os stories com citações e longos textos inspiradores (que ninguém leu), nem tiveram tempo de olhar com atenção ao relatório da Amy Webb (que todos admiram, mas poucos compreendem), eis que surge outra cimeira gigante, o Web Summit Rio 2025, de 15 a 18 de abril, na cidade do Rio de Janeiro.

Confesso que, se fosse em São Paulo – onde está o dinheiro, as Big Tech, os maiores investidores da América Latina, o maior número de startups e o caos urbano que inspira inovação – faria mais sentido. Mas vá, o Rio tem Copacabana, e isso já é meio caminho andado para convencer qualquer techie a tirar os olhos do ecrã por cinco minutos.

Para quem, como eu, se derrete com a organização impecável do Web Summit em Lisboa (que, vamos combinar, é mesmo à mão de semear), a versão carioca mantém a alma do original com negócios e startups ao centro, mas com espaço de sobra para diversidade, inclusão e discussões que realmente fazem barulho.

Nesta edição, 16% das startups inscritas enquadram-se na categoria “Impact Startups”, aquelas que estão a tentar resolver os desafios globais propostos pelos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. É como se dissessem “olha, além de querer ganhar dinheiro, também queremos salvar o planeta entre um pitch e outro!” As palestras são curtas, incisivas e saborosas. Como um shot de ginjinha, sem rodeios. Fala-se de inteligência artificial, marketing, sustentabilidade, empreendedorismo, e sim, sempre com startups a vista.

O Web Summit tem aquele je ne sais quoi, uma aura própria que abre espaço para uma diversidade incrível de profissionais e palestrantes, diferente do SXSW cujos custos, por si só, se tornam um fator excludente para muitos dos brasileiros que visitarão o Rio de Janeiro.

Quando decidiu atravessar o Atlântico e se instalar no Brasil, a Web Summit mostrou que é mais do que um evento, é um fenómeno global que se amplifica. O Brasil tem 22 unicórnios, um ecossistema vibrante e criativo, e uma nova geração de empresas tecnológicas que já dão cartas no mundo inteiro. Estes jovens executivos circulam pelos corredores e palestras em busca de atualização constante e sede de produção criativa.

Enquanto o SXSW entrega uma abordagem das camadas mais profundas do pensamento das maiores mentes da atualidade, às vezes em densas palestras, o Web Summit, por sua vez, insere a audiência no centro do ecossistema e atualiza sobre as novas tecnologias que já estão a ser aplicadas. Isso permite que se antecipe às necessidades dos clientes de maneira prática em projetos ligados à inteligência artificial e tecnologias correlacionadas. O facto é que são eventos complementares, cada um com as suas características.

Agora, façamos aqui uma vénia ao Paddy Cosgrave, o CEO do Web Summit, que, mesmo debaixo de fogo – depois de se posicionar publicamente em um tema espinhoso – manteve-se firme, com a espinha direita como um poste. Resultado? O evento não só não perdeu força, como continua a espalhar-se pelo mundo, mostrando que valores e visão andam de mãos dadas.

Portanto, se está em Portugal e ainda está a ponderar se deve ou não atravessar o Atlântico para o Rio… epá, vá. Vá pela tecnologia, vá pelo networking, vá pela caipirinha (ou pelas três coisas juntas). Mas vá. Porque o Web Summit Rio 2025 promete ser daqueles eventos que nos fazem dizer: “Até que enfim algo que não é hype vazio!” – e, já agora, não se esqueça do protetor solar. Porque no Rio, até os algoritmos ficam com aquela cor que vende saúde.

Por Paulo Cardoso de Almeida