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Vancouver não é Lisboa. Uma Web Summit que não começou do zero

por Miguel Magalhães (Texto) | 2 de Junho, 2025

Web Summit estreou-se em Vancouver, escolhendo uma cidade já consolidada como polo de inovação e tecnologia. O evento marcou a entrada do Canadá no circuito global da conferência, com forte presença portuguesa e foco em IA, oportunidades e expansão para a América do Norte.

A Web Summit fez a sua estreia em Vancouver. Depois de várias edições do Collision em Toronto, a empresa tem vindo a centralizar os seus eventos sob uma única chancela, e a cidade canadiana foi escolhida como a sua mais recente embaixadora na América do Norte. 

Contudo, não podemos olhar para Vancouver apenas como mais uma paragem no circuito da Web Summit. Ao contrário de Lisboa, onde o evento foi uma espécie de propulsor do ecossistema de startups, a cidade canadiana já possui um historial como polo de inovação. É amplamente reconhecida como a “Hollywood do Norte”, sendo um dos maiores centros de produção de filmes e séries na América do Norte. Além disso, é um dos principais hubs de gaming do mundo, acolhendo gigantes da indústria como a Electronic Arts, responsável por franchises como o FIFA (agora EA Sports FC). É também a cidade onde foi inventado o botox, mas talvez esse não seja um dado tão relevante quando falamos do panorama tecnológico atual.

Apesar do custo de vida elevado em Vancouver, a proximidade à Costa Oeste do EUA, nomeadamente Seattle e Silicon Valley, dois dos principais pólos tecnológicos mundiais, tem feito com a cidade tenha vindo a ter cada vez mais um posicionamento estratégico para startups que procuram escalar o seu negócio a partir da América do Norte. 

Portugal do outro lado do mundo

A equipa do The Next Big Idea fez-se presente no Canadá, acompanhando de perto a delegação portuguesa. Vinte startups nacionais, nas quais se inserem as do programa programa Business Abroad da Startup Portugal, mostraram o seu potencial, procurando oportunidades e contactos neste novo mercado. 

Tal como esperado, a Inteligência Artificial (IA) e as suas diversas aplicações dominaram as agendas, refletindo o seu impacto transformador em todas as indústrias. Paralelamente, as discussões sobre o contexto geopolítico atual, incluindo as tensões comerciais, também tiveram destaque. As startups e os participantes procuraram entender a melhor forma de se posicionarem e prosperarem nos diferentes cenários globais. 

Os EUA continuam a ser o mercado para o qual todas as startups querem dar o salto e Vancouver juntou vários executivos e investidores que procuraram dar insights sobre as melhores práticas para navegar estes tempos mais incertos.

Uma primeira edição “mais madura”

Por ser uma edição inaugural, a escala do Web Summit Vancouver é, naturalmente, mais contida do que a de Lisboa. No entanto, isso não é, de forma alguma, um ponto fraco. Com mais de 15.000 participantes de 117 países, incluindo mais de 1.100 startups de 64 nações, o evento estabeleceu um forte precedente para uma primeira edição. Embora o palco principal do Vancouver Convention Centre não atinja a dimensão do MEO Arena de Lisboa (com 20 mil pessoas) e em vez do quatro pavilhões da FIL, termos uma zona única com stands e outros palcos, o evento acaba por ser muito focado e ter um dinamismo diferente com uma área onde tudo acontece.

Esta primeira edição está ainda a consolidar a sua identidade, mas não parte do zero. Há uma vontade clara de posicionar o Canadá como uma porta de entrada para o vasto mercado norte-americano, um objetivo semelhante ao papel de Lisboa para o mercado europeu, embora haja diferenças em termos de dimensão económica.

Ricardo Lima, Head of Startups e Investors da Web Summit Vancouver, sublinha a solidez do ecossistema local: “Recorda-me um pouco de Lisboa em 2016, a vontade do Governo de fazer acontecer ao nível da tecnologia, em suportar e apoiar founders, em apoiar investidores. Vancouver tem uma coisa que não tínhamos em Lisboa ou no Rio de Janeiro, que é um ecossistema com muitas referências. Já há startups aqui que atingiram o estatuto de unicórnios sem terem de sair do país, e nesse sentido já começa com um passinho mais à frente do que tínhamos noutros lugares”, refletindo a maturidade do hub tecnológico canadiano.Com o sucesso desta estreia, o Web Summit Vancouver já confirmou o seu regresso em maio de 2026, prometendo continuar a cimentar a sua posição como um evento de referência no calendário tecnológico global e como um ponto de encontro crucial para a inovação e o empreendedorismo na América do Norte.