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Uma Metamorfose Ambulante que, mais do que servir comida saudável, quer ajudar pessoas

por | 6 de Junho, 2018

Uma Metamorfose Ambulante que, mais do que servir comida saudável, quer ajudar pessoas

A nossa alimentação está a mudar. Os gostos estão mais diversificados, procuramos comida saudável mas não abdicamos do sabor. Por isso, mais que nunca, é preciso inovar.
Metamorfose Ambulante é um projeto de refeições que tem em conta isso mesmo. O nome “veio de uma música do Raul Seixas que se chama mesmo assim e fala da necessidade de mudar”. A explicação é-nos dada, com sotaque de português do Brasil e sorriso no rosto, por Carla Nascimento, responsável pela ideia.

“A ideia surgiu porque o vegetarianismo entrou naquilo a que as pessoas chamam de moda, mas na verdade as pessoas estão aderindo por necessidade de mudar”, começa por dizer. Contudo, a marca é mais do que isso. “A marca não é só sobre coisas, é sobre pessoas. Nós procuramos comprar alimentos que estão já numa fase de desperdício alimentar, como no Fruta Feia, por exemplo. Mas o realmente importante é que empregamos pessoas que estão necessitadas e não estão naquilo que se considera empregável, alguém já com um certo profile e que [os empregadores] dizem logo ‘hum, eu não vou empregar esta pessoa’.

Apesar de ser uma ideia direcionada para quem não come carne, o projeto chega a toda a gente. “Conseguimos chegar a pessoas que não são vegetarianas, temos uma ementa bastante eclética e diversificada. Procuro fazer o máximo possível de receitas portuguesas e brasileiras, mas sem a carne. Por exemplo, amanhã o catering aqui do pessoal vai ser feijoada vegan. Não se vê feijoada por aí, muito menos vegan”, exemplifica.

Com isto, o ambiente também não poderia ficar de parte. “Os nossos utensílios descartáveis são todos biodegradáveis e tudo o que está relacionado com o que fazemos tem o intuito de ser eco-friendly, de pessoa para pessoa”.

O projeto, que nasceu em outubro de 2017, chega a toda a Grande Lisboa. Além de Carla, trabalham a tempo inteiro mais duas pessoas, a mãe e o namorado. Quando o trabalho aperta, “há uma parceria com a cozinha popular da Mouraria, que tem um projeto que ajuda pessoas em fase de exclusão social”.

As refeições da Metamorfose Ambulante chegam aos clientes por encomenda. “De segunda a sexta enviamos, à noite, a ementa do dia seguinte para as pessoas: sopa, prato principal e sobremesa. Não muda o formato, mas muda o que nós fazemos. A pessoa encomenda e nós entregamos no dia seguinte, ainda não temos um restaurante. É só ligar-me, encomendar pelo WhatsApp ou pelo Facebook. Há feijoada, migas, cozido à portuguesa, comidas mais leves, cuscus. Também temos este formato da roulotte, para eventos, em que servimos wraps, cuscus, sopas e sobremesas vegan. Acaba por chamar a atenção”.

Para Carla, mais do que ajudar outras pessoas, este projeto também foi uma forma de se libertar dos padrões da sociedade. “Licenciei-me, fiz pós-graduação. Trabalhei em várias coisas, mas em nenhum trabalho eu consegui que a minha capacidade fosse reconhecida, nem intelectualmente, nem financeiramente. Então comecei a sentir-me frustrada. Crescemos com um projeto de vida um bocado formatado, para estarmos enquadrados na sociedade. Mas percebi que não é assim. Desisti de tudo o que estava fazendo antes e fui fazer alguma coisa que desenvolvesse o meu lado criativo. Fico entediada com facilidade e a cozinhar não dá, há sempre muito que fazer”, confessa.

Contudo, os sonhos não param. Para já, a felicidade cabe numa cozinha e às vezes numa roulotte na rua, mas Carla quer mais do que isso. E não só para si. “Queria realmente montar o meu restaurante e contratar pessoas que estivessem mesmo a precisar. Pessoas acima dos 50 anos de idade, por exemplo, que ainda quisessem trabalhar e enriquecer o seu currículo. Se quiserem fazer um curso de inglês, tirar a carta… nós ajudamos! O nosso projeto são mesmo pessoas. Queremos fazer as pessoas crescer, mas não dentro do padrão social daquilo que você tem de ser. E, sim, daquilo que você quer ser!”, afirma convicta.