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Um lado menos falado do Rock in Rio

por João Dinis (Texto) | 28 de Junho, 2022

Durante dois fins-de-semana, o Rock in Rio juntou mais de 250 mil pessoas no Parque da Bela Vista em Lisboa, que tiveram a oportunidade de ouvir nomes como Liam Gallagher, Muse, Black Eyed Peas, Duran Duran, Anitta e Post Malone. Mas não foi só de música que o evento foi feito e, além de marcas a ativar fortemente os seus produtos e serviços, também o gaming teve uma palavra a dizer.

Durante dois fins-de-semana, o Rock in Rio juntou mais de 250 mil pessoas no Parque da Bela Vista em Lisboa, que tiveram a oportunidade de ouvir nomes como Liam Gallagher, Muse, Black Eyed Peas, Duran Duran, Anitta e Post Malone. Mas não foi só de música que o evento foi feito e, além de marcas a ativar fortemente os seus produtos e serviços, também o gaming teve uma palavra a dizer.

Até porque há muito que o Rock in Rio deixou de ser apenas um festival de música. É certo que continua a chamar-se “cidade do rock”, mas a gastronomia, o mundo digital e o gaming têm cada vez mais uma presença forte naquele que é um dos maiores eventos que acontece em Portugal.

E se pensarmos que a ligação da música à gastronomia pode existir até noutros contextos (como as casas de fado, por exemplo), e que o mundo digital é cada vez mais transposto para o mundo físico:

  • com uma série de personalidades que construíram a sua carreira online a terem uma presença cada vez maior offline (como YouTubers, podcasters, etc.)
  • a relação do gaming com a música – e principalmente a ligação do gaming com a música e os eventos ao vivo – começou a estreitar-se nos últimos anos.

Um estudo recente da consultora Deloitte, de resto, mostra-nos que os gamers da Geração Z ouvem mais música que gamers de outras gerações (ainda que seja difícil a um Millennial não se lembrar da Song 2 dos Blur quando jogava FIFA 98 no seu quarto), o que só prova que esta ligação veio para ficar.

Mas há mais:

  • Em 2019, a empresa Morning Consult divulgou um estudo que mostrava que o YouTuber PewDiePie (que ficou conhecido pelos seus vídeos de comentário a jogos) tinha o mesmo reconhecimento que LeBron James, atleta da NBA e um dos melhores desportistas de sempre, junto da Geração Z masculina americana.
  • Em abril de 2020, o concerto do rapper Travis Scott dentro do jogo Fortnite teve uma estonteante audiência de mais de 12 milhões de pessoas, quase o dobro da audiência dos MTV Video Music Awards do mesmo ano, o que em parte pode ser explicado pela pandemia (o mundo estava em casa, basicamente), mas faz parte de uma tendência maior e mais antiga.

O gaming sempre foi mainstream, mas nos últimos anos, acelerado por uma pandemia que impediu eventos ao vivo, tornou-se parte fundamental da cultura pop. E com isso vieram as receitas, que não só tornam esta indústria maior que a da música e do cinema, como também fazê-la ultrapassar o conjunto dos ganhos das maiores ligas desportivas americanas (NFL, de futebol americano, NBA, de basquetebol, MLB, de basebol, e NHL, de hóquei no gelo). 

Por tudo isto, não espanta que a edição deste ano do Rock in Rio tenha no seu recinto o Worten Game Stage, um palco dedicado ao gaming por onde passaram alguns dos maiores nomes da atualidade, ídolos de uma geração e desconhecidos para outra (como acontece com tantas outras áreas, no fundo). 

Em Portugal, vemos streamers (criadores de conteúdo que estão em direto regularmente durante várias horas, geralmente na plataforma Twitch) com forte ligação ao gaming a atingir reconhecimento semelhante.

Um dos casos paradigmáticos é o de Diogo Silva, Move Mind na Twitch:  

  • Foi recentemente premiado nos About You Awards (prémios apoiados pela marca de roupa que celebram os criadores de conteúdo europeus) na categoria de Live.
  • Tem cerca de 170 mil seguidores e 3.600 subscritores no seu canal (sendo que estes últimos pagam 3,99 euros por mês para ter acesso a algumas vantagens), 
  • Numa entrevista  com a CNN Portugal, Diogo referiu que os seguidores também podem fazer doações durante as suas emissões em direto na Twitch, sendo que, a título de exemplo, no dia do seu aniversário recebeu 6 mil euros de pessoas que quiseram apoiar o seu trabalho enquanto streamer.

No fundo, os streamers e YouTubers funcionam também eles como plataformas de media, em que existem subscritores que pagam por conteúdo exclusivo, tal como, por exemplo, acontece com plataformas de streaming como a Netflix ou a HBO, ou marcas que querem estar presentes nos seus conteúdos ou emissões, tal como acontece com os canais de televisão que temos disponíveis.

Ao longo dos quatro dias do Rock in Rio, o Worten Game Stage recebeu alguns dos maiores streamers e criadores de conteúdo ligados ao mundo dos videojogos e da tecnologia tal como o já referido Move Mind, Fox (gamer profissional), RicFazeres e Nuno Agonia (dois dos maiores YouTubers portugueses), e também Morais HD, um dos maiores streamers nacionais e que tinha o papel de host digital do palco, uma vez que a sua identidade é desconhecida.

Quanto ao futuro deste casamento entre gaming e música, eventualmente passará por uma maior integração entre plataformas de transmissão (como a Twitch) e plataformas de música (como o Spotify). O estudo da Deloitte mencionado anteriormente diz que, apesar de uma percentagem significativa da Geração Z partilhar sugestões de músicas entre si enquanto jogam, não existe ainda uma forma de adicionar essas sugestões a uma playlist ou até adquiri-las sem abandonar o jogo. Os próximos anos vão, de certeza, trazer novidades.