Um ano depois, Threads conta com 175 milhões de utilizadores e anúncios à vista
por Gabriel Lagoa | 8 de Julho, 2024
A Threads foi lançada pela Meta para concorrer diretamente com a X.com (ex-Twitter) e, em apenas cinco dias, roubou o título de “aplicação com o crescimento mais rápido da história” ao ChatGPT. Mas, volvido um ano, como está e o que mudou na esfera do microblogging?
Em maio do ano passado, começaram a circular rumores de que estaria para breve a chegada de uma nova rede social, capaz de competir ombro a ombro com o gigante Twitter. Estes rumores ganharam força num momento particularmente turbulento para o então pássaro azul, já que a plataforma, sob a liderança de Elon Musk, enfrentava uma série de controvérsias e desafios. As mudanças repentinas nas políticas, como as alterações à verificação de contas e as restrições àquilo que os utilizadores conseguiam ver na aplicação, provocaram uma onda de insatisfação entre os utilizadores. Mais: as frequentes declarações polémicas de Musk e as suas decisões empresariais, como as alterações à moderação de conteúdo, estavam a minar a confiança do público e dos anunciantes, com várias empresas a puxarem o travão à publicidade no Twitter, como a Coca-Cola, Unilever e Jeep.
À espreita, a Meta, empresa-mãe do Facebook e do Instagram, esfregava as mãos à medida que os utilizadores do Twitter criticavam as alterações que iam sendo implementadas na plataforma. De acordo com a Bloomberg, pouco depois de Elon Musk ter assumido o controlo da rede social, no final de 2022, alguns dos principais executivos da Meta estavam numa videochamada quando a conversa se focou no também CEO da Tesla, com uma pergunta em voz alta: como é que a Meta deve tirar partido do caos que se está a desenrolar no “Twitter”? Foi aí que Mark Zuckerberg, CEO da empresa, deixou claro que a estratégia tinha de ser em grande. Mais tarde, a 5 de julho de 2023 a Meta viu a oportunidade certa e apressou-se a lançar uma ofensiva relâmpago, com as baterias apontadas à rede social de Musk. A arma? A Threads. E o tiro acertou em cheio.
O Twitter demorou mais de dois anos a chegar à fasquia dos 10 milhões de utilizadores. Já a Threads conseguiu chegar a esse marco nas primeiras horas. E em menos de cinco dias atingiu os 100 milhões de utilizadores, um lançamento que foi “muito além das nossas expectativas”, admitiu na altura Mark Zuckerberg.
Um ano depois, a competição continua
Atualmente, a Threads conta com mais de 175 milhões de utilizadores ativos mensais, um aumento em relação aos 150 milhões em abril, segundo o CEO da Meta. O número ainda não supera os resultados do X (antigo Twitter), que regista 600 milhões de utilizadores ativos por mês, mas a nova rede social da Meta está a ganhar terreno e é já maior do que o BlueSky e o Mastodon, que também foram lançados na sequência da compra do então Twitter por Elon Musk.
Ainda assim, como conta o The Verge, a Meta ainda não divulgou os números de utilizadores diários, o que sugere que a Threads está a receber muito tráfego de pessoas que estão apenas de passagem e ainda não se tornaram utilizadores frequentes. De acordo com o site, que cita funcionários da empresa, grande parte do crescimento da aplicação ainda vem da promoção que é feita dentro do Instagram. Isto porque ambas as aplicações partilham o mesmo sistema de contas, algo que não se espera que venha a mudar no futuro. Contudo, Mark Zuckerberg acredita que a Threads tem todas as condições para ser a próxima aplicação da Meta a chegar à fasquia dos mil milhões de utilizadores. E para lá chegar, a empresa tem na mira regiões onde acredita que há uma oportunidade de conquistar mais mercado, como é o caso do Japão.
De facto, a integração das contas do Instagram na Threads facilita esse crescimento, além de que os utilizadores podem importar automaticamente as suas listas de seguidores, o que simplifica o processo de adesão e garante que as pessoas têm imediatamente uma rede de contactos na nova plataforma. Recentemente, a aplicação anunciou também uma ferramenta que em muito faz lembrar o Tweetdeck (agora X Pro), uma das principais ferramentas do X e que passou a ser paga com a chegada de Elon Musk aos comandos da empresa. Na prática, a ferramenta permite aos utilizadores terem vários feeds à disposição de acordo com os temas que mais lhes interessam. A Threads conseguiu ainda atrair algumas das celebridades, jornalistas e políticos que outrora ajudaram a distinguir o Twitter como uma rede social para notícias de última hora.
Anúncios no horizonte
Desde que estreou, a Threads tem-se mantido livre de publicidade, uma estratégia que tem agradado aos utilizadores mas que levanta questões sobre a sustentabilidade financeira da plataforma a longo prazo, uma vez que a Meta tem na publicidade a maior parte das suas receitas: faturou 135 mil milhões de dólares em vendas no ano passado, a maior parte através de anúncios. De acordo com a Bloomberg, o número é 40 vezes superior à receita do X.
A estratégia da Meta aparenta priorizar o crescimento da base de utilizadores e o aperfeiçoamento da experiência de utilização antes de implementar qualquer modelo de monetização. Contudo, numa entrevista à publicação norte-americana, o diretor do Instagram e da Threads, Adam Mosseri, afirmou que a rede social planeia disponibilizar aos anunciantes publicidades mais direcionadas e personalizadas face àquelas que o X apresenta. “O Twitter é muito orientado para a publicidade de marca. As ofertas publicitárias da Meta concentram-se mais em anúncios de “resposta direta”, ou em mensagens hiper-direcionadas destinadas a gerar um resultado específico – como a venda de um produto ou o download de uma aplicação. Provavelmente verão anúncios mais direcionados e, espero, mais relevantes e interessantes na Threads do que no X”, disse o responsável.
Menos política e menos ódio
Apesar de ser “fortemente inspirada” no Twitter, Adam Mosseri garante que a Threads quer promover discussões mais leves e menos politizadas, ou seja, o objetivo é assegurar que a rede social não é vista como um destilatório de ódio, em que a política marca a agenda do dia. “Não achamos que seja o nosso papel amplificar notícias políticas como o aborto, a guerra em Gaza e as eleições presidenciais dos EUA. Não achamos que seja o nosso papel mostrar a um utilizador uma opinião controversa sobre uma questão política de uma conta que não segue e que, portanto, não pediu para ver”, detalha Mosseri à Bloomberg. O responsável reconhece, no entanto, que ao minimizar a disseminação de notícias políticas está também a abdicar de alguma relevância e atividade na Threads, mas, assegura, não há qualquer problema com isso.
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