Tu dás-me música e eu dou-te (tudo) o resto
Esta história começa com duas personagens relativamente conhecidas:
- Jack Dorsey: CEO do Twitter (a valer +50 mil milhões de dólares) e da Square (a valer +100 mil milhões de dólares).
- Jay-Z: rapper, marido de Beyoncé e com fortuna avaliada em 1.4 mil milhões dólares.
Em 2015, Jay-Z decidiu comprar um serviço de streaming norueguês que poucos utilizavam pela modesta quantia de 56 milhões de dólares. “Rebrandizou-o” e nasceu o Tidal, um serviço que ia competir com a Apple Music e o Spotify, com a diferença de ser um serviço gerido por artistas para artistas (na direção da plataforma também estariam nomes como Rihanna, Madonna e os Daft Punk).
O Tidal teria músicas exclusivas de um conjunto de artistas como Beyoncé ou Kanye West e daria uma experiência de som de alta-qualidade que justificava (para o Tidal) o valor premium que os seus utilizadores iriam pagar pela plataforma face às suas concorrentes. Passaram-se seis anos e os resultados do Tidal acabaram por ser pouco animadores:
- Apesar de álbuns exclusivos de Beyoncé, a plataforma nunca conseguiu atingir um nível de popularidade sequer próximo dos seus rivais e, com isso, a exclusividade que tanto prometeu foi-se desvanecendo porque nenhum artista queria pôr todos os ovos numa plataforma que ninguém utilizava.
- Como ninguém estava a ouvir, as receitas mais elevadas que prometia dar, especialmente a artistas independentes, acabavam por ser muito baixas. Para isso, mais valia estar na Apple ou no Spotify, que davam maior audiência (que juntamente com a Amazon, dominam 70% do mercado de streaming de música).
E depois apareceu a Square
A Square, de Jack Dorsey, foi uma das empresas americanas que mais cresceu em 2020. A fintech, criada em 2009 pelo fundador do Twitter, beneficiou do boom do comércio online, motivado pela pandemia, que levou a:
- que cada vez mais vendedores utilizassem o seu sistema de pagamento nas suas plataformas de ecommerce.
- que cada vez mais consumidores utilizassem a sua Cash App, uma plataforma que permite fazer transferências de dinheiro, pagamentos online e investir no mercado bolsista, nomeadamente em ações e criptomoedas… Sim, mais uma empresa que também beneficiou do surgimento de mini Warren Buffets e especialistas em “crytos” que o confinamento ajudou a criar.
Em 2020, a Square teve + 13 mil milhões de dólares em receitas e viu o preço das suas ações subirem 253%.
Em 2021, achou que seria giro adquirir um serviço de streaming em queda por 297 milhões de dólares – o Tidal, pois claro – e integrar Jay-Z na direção da empresa. Porquê? Algumas teorias:
- Marketing 1.0: é a América e ter Jay-Z, uma das maiores figuras do entretenimento, na empresa ajuda a chamar mais utilizadores para a plataforma. Especialmente se ele convencer a mulher e amigos a fazê-lo também.
- Marketing 2.0: Jeff Bezos justificou o investimento da Amazon no Prime Video dizendo que se uma série original sua vencesse um Globo de Ouro, no dia seguinte eram vendidos mais produtos na sua plataforma. O Tidal continua a ter alguns milhões de subscritores que, com uma curadoria renovada e novas funcionalidades integradas, poderá levar a que a Square aumente a sua base de utilizadores.
- Mudança: a pandemia levou a que muitos dos artistas deixassem de poder fazer aquilo que se tinha tornado a sua principal fonte de receitas, os concertos. Enquanto alguns podem sobreviver de vendas de merchandise, de patrocínios e do streaming, a verdade é que a maior parte dos artistas ficou sem ganha-pão. De acordo com Dorsey, juntando a Square e o Tidal, poderá criar meios alternativos e experiências para que artistas mais pequenos possam ter rendimentos.
- NFTs everywhere: a crescer em popularidade, um dos meios alternativos de gerar receitas poderá ser através destes ativos digitais únicos geridos por blockchain (sobre os quais falámos aqui) que permitem que artistas possam vender conteúdo seu e serem recompensados pelo seu trabalho com menos intermediários. O Tidal pode dar a plataforma, a Square a tecnologia… e o Twitter a comunicação para que tais ativos possam ser desenvolvidos, promovidos e vendidos.
Será suficiente para nos convencer a dar uma chance ao Tidal? Aceitam-se apostas.
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