Trabalhadores lidam cada vez pior com mudanças nas suas empresas
por Gabriel Lagoa | 3 de Setembro, 2024
Uma pesquisa da Emergn mostra que grande parte dos funcionários relatam burnout devido a mudanças frequentes no local de trabalho. Liderança desconectada e falhas na comunicação são as principais causas.
As empresas enfrentam uma pressão contínua para se reinventarem e se manterem relevantes num ambiente em rápida evolução. Na prática, isto pode significar a adoção de novas ferramentas e processos de trabalho, a reestruturação de equipas e departamentos, ou até mesmo a redefinição completa do modelo de negócios. A gestão destas mudanças constantes não é tarefa fácil, pois exigem não apenas recursos financeiros e tecnológicos, mas também um trabalho de cooperação com os funcionários. E ao que parece, este processo de adaptação pode ter um impacto significativo sobre os trabalhadores.
Um estudo recente divulgado pela Emergn, uma empresa de serviços digitais, revela que há uma fadiga generalizada entre os funcionários face às constantes transformações organizacionais, com metade dos trabalhadores inquiridos a admitir que já considerou abandonar o seu emprego devido ao desgaste provocado por transformações contínuas. Mais: 60% dos funcionários relataram sintomas de burnout como resultado destas mudanças sucessivas.
O estudo, que envolveu líderes e gestores de grandes empresas no Reino Unido e nos Estados Unidos, identificou três principais fatores que contribuem para esta fadiga:
- Liderança desconectada;
- Comunicação deficiente;
- Falta de programas de aprendizagem eficazes.
Metade dos inquiridos apontou as falhas de liderança, especialmente o distanciamento das chefias em relação às preocupações da equipa, como um dos principais motivos para o insucesso das transformações.
Numa reação aos resultados, Alex Adamopoulos, CEO da Emergn, afirma que “muitas organizações reconhecem que as transformações, quando bem executadas, são cruciais para se manterem competitivas. No entanto, as iniciativas de transformação precisam de impulso, clareza na mensagem e programas de aprendizagem que mantenham os colaboradores focados em valor e nos resultados”.
O relatório também revela uma crescente insatisfação com as grandes consultoras de transformação. Entre os inquiridos (51%) que trabalharam com três das maiores consultoras globais, a esmagadora maioria (87%) relata que estas empresas tiveram um impacto negativo ou nulo nas suas organizações. Apenas 13% consideraram que as consultoras foram uma ajuda positiva.
O CEO da Emergn critica ainda abordagem padronizada das grandes consultorias: “O que temos são exércitos de consultores com malas de executivos, que entram nas organizações e tentam, com confiança, encaixá-las num modelo de estratégia de transformação pré-definido. Mas o que as organizações realmente precisam é de uma solução que funcione no seu contexto específico – precisam de ser donos da sua transformação”.
As reações dos funcionários às transformações organizacionais variam consoante o setor. No setor público e governamental, 65% dos trabalhadores afirmam que desejam deixar os seus empregos devido às transformações frequentes. A grande maioria dos funcionários deste setor indica mesmo que tais mudanças levaram ao aumento da carga de trabalho.
Na área das Vendas e Marketing, o cenário também é desafiador, com menos de um quarto dos projetos de transformação a serem concluídos com sucesso. Já em setores como Finanças, Jurídico e Recursos Humanos, o impacto das transformações foi considerado mínimo.
Apesar dos desafios identificados, o estudo mostra que 70% dos trabalhadores reconhecem a importância das transformações bem-sucedidas para manter a competitividade no mercado. “No entanto, as iniciativas de transformação precisam de impulso, clareza na mensagem e programas de aprendizagem que mantenham os colaboradores focados em valor e nos resultados. Os líderes têm de conseguir provar porque as empresas devem dar o próximo passo”, pode ler-se no documento.
Esta pesquisa da Emergn, contou com 702 entrevistas em empresas com mais de mil funcionários e uma média de faturação anual superior a 500 milhões de dólares.
Em Portugal há mais motivos que levam a pensar na demissão
Será que as transformações organizacionais constantes ajudam a explicar o facto de as pessoas cada vez mais trocarem de emprego? As conclusões anteriores podem ser parte da resposta, mas, no caso português, há outros motivos que levam os trabalhadores a ponderarem demitir-se.
De acordo com um outro estudo, divulgado em no final de 2023 pela empresa de recursos humanos Kelly, 34% dos trabalhadores portugueses ponderavam demitir-se no espaço de um ano, face aos 28% a nível mundial. Os motivos?
- Salários baixos;
- Falta de oportunidades de progressão na carreira;
- Falta de ferramentas e de tecnologias;
- Falta de formação e de desenvolvimento de competências.
Ainda segundo o documento da Kelly, quando chega a hora de implementar uma mudança no local de trabalho, essa transformação pode ser dificultada pelo facto de em Portugal, apenas 37% dos inquiridos considerar que existe uma comunicação eficaz com os colaboradores.
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