Susana Martins. “Às vezes, com propostas muito simples resolvem-se necessidades muito complicadas”
A Universidade Europeia comemorou recentemente cinco anos em Portugal. E uma comemoração é também o tempo oportuno para trazer novidades. Susana Martins é a diretora do Programa Jovens Empreendedores Sociais (JES) na Universidade Europeia e conta ao The Next Big Idea como nasceu esta iniciativa e os objetivos que pretende alcançar.
“Trata-se de um programa que temos este ano pela primeira vez em Portugal. É fruto da parceria que a Universidade Europeia tem com a Laureate Universal Universities e com a International Youth Foundation. A iniciativa já existe no mundo há 16 anos e teve a sua origem no México. Este ano, também pelo facto de a Universidade Europeia ter comemorado cinco anos em Portugal, considerámos que era um momento apropriado para trazer um programa que já teve cerca de 1500 participantes no mundo inteiro. Agora já tínhamos as condições necessárias para conseguir distinguir na sociedade portuguesa os jovens empreendedores sociais que estão a tentar fazer alguma coisa diferente na [nossa] sociedade”, começa por referir.
Uma primeira definição importante é sobre o que são empreendedores sociais. Em primeiro lugar, diz Susana, convém saber que têm muito em comum com qualquer outro empreendedor. “São pessoas dinâmicas, inovadoras, com capacidade de resiliência, que querem criar o seu próprio projeto, a sua própria estrutura”. No caso de um empreendedor social, a ideia vai mais além: “o seu projeto, a sua ideia, o que está a tentar alcançar, deixa um impacto na sociedade, que no fim do dia é capaz de se tornar até maior do que ele próprio. Basicamente aquilo que o define é a sua capacidade de criar uma resposta inovadora a um problema ou necessidade no mercado. Este caráter social e/ou ambiental traz de facto essa dimensão que o distingue dos outros empreendedores quando criam os seus próprios negócios com vista apenas ao lucro”, sublinha.
E porque nenhum projeto pode deixar de lado as pessoas, são precisamente os 1500 empreendedores — os alumni — que já participaram no JES, nas suas mais variadas versões por todo o mundo, que vão fazendo a diferença para os que vão agora começar. “O Brasil e o México têm excelentes exemplos a nível de empreendedores que passaram por este projeto e deixaram a sua marca; mais a nível europeu temos o exemplo aqui de Espanha, que celebra o seu 10º aniversário a nível de programa”, conta Susana Martins.
“Recordo-me de um projeto do ano passado, que neste momento até está a ser replicado também em Portugal, de um jovem empreendedor, o Alberto, que criou o seu próprio desafio com o nome 'Adote um Avô', ou 'Adopta un abuelo', na expressão em espanhol. Como ele tinha passado grande tempo da sua vida num lar com os avós, acabou por ‘adotar’ outros avós dentro do espaço do lar e estava a tentar fazer disto um modelo de negócio que pudesse ser replicado por outras pessoas que quisessem ser voluntárias e ajudar a população sénior em Espanha. São este género de projetos, cujo impacto se pode ver nas várias faixas etárias ou pela sua dimensão ambiental, que este projeto visa distinguir”.
Neste sentido, a Universidade Europeia está empenhada em reconhecer projetos que possam transformar a sociedade. “A base da Universidade Europeia tem essa componente de formar cidadãos, de dar o exemplo”. Por isso, o Programa JES quer “distinguir o que de melhor se está a fazer em matéria social e ambiental no nosso país, por esta força que é a juventude e por toda a garra que os caracteriza, por toda a vontade de vencer, por toda a vontade de fazer diferente e para que, no fundo, daqui por uns anos possamos ter uma sociedade um bocadinho mais sustentável e onde as próximas gerações tenham condições para viver de uma forma saudável, respirável, e onde todos se respeitem”, clarifica Susana Martins.
Mas nem sempre as áreas de atuação dos projetos ficam apenas por uma categoria. “Alguns projetos juntam o melhor dos dois mundos”, o âmbito social e o empresarial, mas também podem ter uma “natureza muito distinta”. “Não estamos só à procura de projetos não lucrativos ou de ONG's; também podem ser projetos que provavelmente à data de hoje ainda não têm um enquadramento ou uma perspetiva de sustentabilidade, mas também estamos à procura de premiar jovens que um dia até pretendam ser eles próprios fontes de empregabilidade e que possam ter um fim lucrativo”, especifica a diretora do Programa.
E se tudo isto é importante, mais ainda é olhar para “as características dos líderes”. “Aquilo que neste momento estamos a valorizar não são só os projetos que vão ser submetidos. Estamos também a valorizar as características dos líderes, dos fundadores ou co-fundadores que vão estar a responder a este programa". Um primeiro crivo é a idade: têm de ser jovens entre os 18 e os 29 anos. depois, já no âmbito do programa, é feita uma avaliação mais qualitativa: é preciso ver “até que ponto este líder é inovador, até que ponto é que tem espírito de liderança e está disposto a participar no programa numa lógica de continuidade”.
No caso do programa JES, o bom líder é aquele que tem “a capacidade de se descentrar de si próprio. Tem de ter a capacidade de sair do seu próprio umbigo, olhar para os outros, ter um projeto que responda de facto a necessidades que a sociedade portuguesa tem”.
Ferramentas para mudar a sociedade portuguesa… e o mundo
Para isto, “os projetos e os seus candidatos não têm necessariamente ser de nacionalidade portuguesa mas o projeto tem de ter impacto em Portugal — pode também ter impacto noutras partes do mundo, mas é fundamental que tenha impacto na sociedade portuguesa”.
No fim do dia, o que importa realmente é que os jovens “tenham esta vontade de mudar o mundo, esta vontade genuína de querer fazer diferente e de encontrar respostas e soluções por vezes para problemas que são já velhos e a outros que a sociedade todos os dias nos traz”, refere a diretora do programa. A ideia é, por isso, procurar “jovens que consigam inspirar outros jovens que possam contribuir para esta movimentação e para esta transformação da sociedade”.
A diretora do programa não tem qualquer dúvida: “a educação tem esta capacidade de transformar o mundo e é na juventude, entre os mais jovens, que está essa capacidade transformadora. Muitas vezes são pessoas que ainda não têm uma visão quadrada ou completamente balizada do seu pensamento e, portanto, são eles que têm energia e que muitas vezes quebram os preconceitos. Acreditamos piamente — e este programa é prova disso — que é neste grupo que está a capacidade transformadora daquilo que podem vir a ser as nossas gerações e um mundo mais equilibrado, mais justo, por vezes com propostas muito simples. Às vezes, com propostas muito simples resolvem-se necessidades muito complicadas”, afirma.
Para avaliar os projetos, é preciso ver o seu impacto, o caráter de sustentabilidade, a inovação, a capacidade de liderança de cada participante e, ainda, “até que ponto estão disponíveis a participar também no programa e a serem mentores de outros jovens que possam querer participar em futuras edições”. E isto, diz Susana, é um processo que nem sempre é assim tão simples. “Há aqui condições que são muito difíceis de avaliar numa primeira triagem. Vai depender muito da paixão que eles vão demonstrar no seu processo de candidatura, do target com o qual estão a trabalhar e sobretudo depois é preciso olhar também para o impacto social que o projeto está a gerar e pensar já que pode vir a gerar no futuro”.
As candidaturas ao Programa JES são feitas a partir do site da Universidade Europeia e estão abertas até 10 de setembro. Os cinco projetos finalistas serão conhecidos a 8 de outubro, sendo que a cerimónia de entrega dos prémios está agendada para dia 23 do mesmo mês.
Em jogo está a participação numa semana de formação em Madrid — entre 12 e 19 de novembro—, com vencedores de antigas edições do Programa em Espanha, a mentoria dos ASHOKA fellows e ainda uma doação de 2 mil euros para investimento no projeto.
Os projectos dos cinco jovens vencedores serão ainda divulgados pela rede internacional da Laureate e integrados na rede a nível mundial de jovens empreendedores da YouthActionNet, de forma a que consigam atingir visibilidade e que possam também partilhar experiências entre si.
Por tudo isto, Susana deixa uma chamada de atenção. “Procuramos alguém que pense um bocadinho fora da caixa, mas sobretudo que seja arrojado, não tenha medo de arriscar e que encontre neste programa uma forma de conectar-se entre pares, com outros jovens que estão em circunstâncias semelhantes. Estamos mesmo à procura de alguém que seja altamente inspirador”, remata.