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Ensinar a aprender, para que se cumpra a promessa da tecnologia. A Singularity University chegou a Portugal

por | 10 de Outubro, 2018

Ensinar a aprender, para que se cumpra a promessa da tecnologia. A Singularity University chegou a Portugal

A SingularityU Portugal Summit Cascais chegou ao novo Campus da Nova SBE, em Carcavelos, com Jeffrey Rogers a fazer honras de abertura. O diretor do Staff da Singularity University destacou que “o pensamento exponencial, capaz de gerar resultados que aceleram ao longo do tempo, deve estar na lista de prioridades das grandes empresas que querem sobreviver num mundo que se transforma a passos largos”.

De seguida, David Roberts, um dos maiores especialistas do mundo em tecnologia disruptiva e professor na Singularity University, subiu ao palco para agitar a plateia quando referiu que 40% das empresas cotadas no S&P500 desaparecerá na próxima década: “todas as indústrias estão sujeitas a ser alvo de disrupção nos próximos 10 anos”, referiu. Sobre Portugal, o especialista mencionou que “o país tem pela frente um futuro extraordinário de oportunidades”.

Mas para isto ser ouvido foi preciso que a Singularity chegasse a Portugal, e isso é fruto de uma viagem e ideia de Ricardo Marvão, agora diretor executivo da Singularity Portugal e cofundador da Beta-i. “Em agosto do ano passado fui à Califórnia perceber como é que a Singularity podia vir para Portugal e depois de perceber o que era preciso fazer contactei a Câmara Municipal de Cascais, que falou com a Nova. Fizemos uma reunião e acabámos por decidir que íamos fazer isto a três mãos. A partir daí começámos uma série de reuniões para perceber como é que os outros países fizeram isto acontecer”, começa por contar ao TNBI.

E o resultado viu-se nos dias 8 e 9 de outubro: realizou-se a primeira Singularity U Portugal Summit Cascais. Mas o que é isto? Para Ricardo, “é mais do que uma cimeira, é fazer a universidade cá”.

Assim, ao longo de dois dias, o foco deste evento esteve nos líderes locais, ajudando-os “a entender como as tecnologias exponenciais podem ser usadas para criar mudanças positivas e crescimento económico nos seus países”.

Durante o primeiro dia da cimeira foram abordados alguns dos maiores desafios globais atuais, que se acentuam devido ao desenvolvimento tecnológico. Apesar do seu potencial e oportunidades para criar um futuro e mundo melhor, as tecnologias exponenciais, se mal aplicadas, também fomentam a desigualdade, pobreza extrema, violência e danos ambientais.

Segundo Nathaniel Calhoun, Professor da Singularity University "temos o dever de preservar e manter a responsabilidade da promessa da tecnologia: criar ideias e soluções inovadoras e não gerar novos problemas exponenciais.”

A necessidade de disrupção na educação foi bastante frisada por alguns oradores, tais como David Roberts e Esther Wojcicki, uma das maiores especialistas do mundo em tecnologia educacional, que explicou que quanto mais os estudantes seguem instruções, menos criativos são e que o ensino não está adequado às realidades atuais.

Os dois dias foram, portanto, um incentivo à mudança. “Nós fizemos uma espécie de caminhada durante o evento", desde o "ponto zero" até aos "grandes tópicos", para "deixar as pessoas a pensar". "Também tivemos workshops, coisas mais práticas para as pessoas usarem e interagirem”, referiu Ricardo Marvão.

SingularityU, um projeto para ficar

A SingularityU não vai ficar apenas por dois dias de ano a ano. “Um dos problemas destes eventos é que são dois dias e depois acabou. E a inspiração acaba ali e depois temos de ir a outro evento para continuar. E o que se pretende é que quem estiver aqui possa ter oportunidade para dar o próximo passo”, diz Ricardo Marvão.

E a solução para isto foi simples: arranca já hoje, 10 de outubro, um programa especial destinado aos três Founding Partners do projeto: Ageas, Galp e Semapa.

No futuro, serão promovidos Programas Customizados para empresas e os seus executivos em torno de diversas áreas da tecnologia, refletindo sobre como é que estas áreas se cruzam com os vários sectores de negócio numa visão de futuro. Estes programas terão início já em 2019, assim como um Programa Executivo imersivo de acesso livre. Estes programas foram construídos com foco nas tendências, tópicos e desafios exponenciais mais importantes para Portugal e para o futuro da sociedade. O público-alvo destes programas são líderes de grandes organizações, entidades governamentais, organizações sem fins lucrativos, assim como cientistas, educadores, empreendedores e outros líderes que pretendam moldar o futuro.

A SingularityU Portugal Summit Cascais foi, então, o primeiro passo da Singularity University em Portugal. Com a vontade de criar um fórum de diálogo e criação de conhecimento com impacto na sociedade portuguesa, que permita às empresas e empreendedores aplicarem as tecnologias exponenciais aos seus desafios, a Câmara Municipal de Cascais, a Nova School of Business and Economics e Beta-i uniram-se neste projeto.

Para Ricardo Marvão, tudo passa por “tentar resolver problemas da sociedade civil, fazer as pessoas pensar e interagir, de maneira a que participem ativamente. É um ‘teach me how to learn’ [ensina-me a aprender]”, diz.

No fim de contas, tudo gira em torno das pessoas. Mesmo com toda a tecnologia, é o ser humano que permite o avanço, como notou Viviene Ming, neurocientista considerada uma das 10 "women to watch" [mulheres a ter em vista] no sector da tecnologia pela revista Inc, e cofundadora da Socos. "Existem problemas difíceis criados por humanos que necessitam de soluções humanas igualmente difíceis", salientou a oradora.

Também David Roberts, a quem coube fechar dois dias de SingularityU Portugal Summit Cascais, colocou o foco nas pessoas: "liderança é criar outros grandes líderes, ensinando-os a ter um bom carácter”. “Líderes exponenciais não mudam o mundo, eles mudam-se a si próprios”, frisou.