Querido investidor. A carta do co-fundador do Spotify a quem possa comprar ações da empresa
A carta, que pode ser lida na página 92 do arquivo F-1 da Spotify, tem 1.259 palavras, um texto enorme comparado com o que, por norma, se escreve aos investidores – a carta do Twitter tinha 138 palavras e a da empresa Roku 471 palavras.
Nesta carta, Ek usou detalhes da sua vida pessoal para reforçar os valores da empresa. “Desde os quatro anos que a minha vida se resume a música e tecnologia – nunca uma sem a outra. Ao longo do tempo, percebi que, ao combinar as minhas duas paixões, podia criar um novo paradigma que ajudasse os fãs e criadores da comunidade – cantores, compositores, bandas, todas as pessoas envolvidas no processo criativo – a traçar uma nova etapa para a indústria”. “Spotify é a manifestação deste sonho”, acrescenta o co-fundador de 35 anos.
Não raras as vezes, Ek refere-se ao sonho. “O que começou como uma aplicação e que cresceu para uma plataforma, agora deve tornar-se numa rede global”. A carta ganha, incontornavelmente, um tom político, na medida em que Ek evoca a constantemente a visão de um “mundo como um todo”, que acaba por entrar em conflito com o clima individualista e isolacionista que, segundo Ek, se tem vindo a verificar.
“Este é o mundo que nós imaginamos, onde os artistas atravessam géneros e fronteiras culturais ao criar ideias que impulsionam a sociedade, onde os fãs conseguem descobrir algo que não iriam descobrir de outra forma, onde somos todos parte de uma rede global em que ideias e construímos novas conexões, partilhamos cruzamos culturas”.
Para além de alimentar o lado emocional da empresa, Ek aproveita a carta para diferenciar o Spotify dos restantes: “Enquanto algumas empresas dependem inteiramente da data [dados], nós tentamos uma nova abordagem. Nós começamos com a criatividade humana, aumentamo-la com a nossa experiência e compreensão, e depois aproveitamos a eficiência dos algoritmos”.
Ek deixa ainda a intenção de explorar novos caminhos. “A Spotify pode ser uma plataforma cultural onde os profissionais criadores se podem libertar das restrições do Medium [uma plataforma que consiste num híbrido de contribuições não-profissionais e profissionais pagas]” e “onde toda a gente pode desfrutar de uma experiência artística imersiva, que nos faz simpatizar com os outros e nos faz sentir parte de um todo maior”.
“É esta a nossa missão: desbloquear o potencial da criatividade humana, dando a um milhão de artistas criativos a oportunidade de viverem da sua música e a biliões de fãs a oportunidade de se divertirem e se inspirarem com a música”.
Se a carta começa envolta em emoções, também é nesse registo que se despede: “Acreditamos que podemos melhorar o mundo, com uma música de cada vez”.