Voltar | Media

Quem quer pagar para ser verificado?

por Abílio dos Reis (Texto) | 4 de Abril, 2023

A medida entrou em vigor no dia de 1 abril e era algo que Elon Musk já tinha avisado: quem quiser ter o seu perfil verificado no Twitter, com o famoso selo azul de autenticidade, vai ter que pagar. O problema? Há muitos que não estão dispostos a fazê-lo e a credibilidade de informação no Twitter pode estar em causa.

Se pensarmos e formos à procura de uma palavra-chave capaz de sumarizar o reinado de Elon Musk desde que assumiu as rédeas do Twitter há cinco meses, “mudança” será certamente uma delas. E tal se deve porque muito mudou e as alterações na rede social são evidentes.

Mais concretamente, desde que arrastou uma pia para a sede do passarinho azul em outubro do ano passado, temos assistido a mudanças de políticas internas na empresa, cortes de pessoal, divulgações de documentos internos na Internet e jornais, polémicas com alterações no algoritmo para aumentar o alcance dos seus tweets, notícias quase semanais de algo relacionado com a empresa (seja por processos judiciais por não pagar renda, seja de que há uma lista secreta de VIP’s que têm um alcance que os demais não têm).

Porém, a notícia das últimas horas é outra e prende-se com o facto de no dia 1 de abril ter entrado em vigor uma das suas primeiras promessas: os utilizadores, instituições e empresas que queiram reter o famoso selo de verificação à frente do nome vão ter que pagar. Ou seja, só quem pagar a subscrição do serviço premium Twitter Blue é que estará apto a manter a sua “distinção” (e ter acesso a outras regalias como a edição de tweets ou ver menos publicidade na timeline).

  • Em Portugal, o serviço está disponível desde fevereiro com um custo de 8 euros mensais ou 84 euros anuais. 
  • Nos EUA, o valor para empresas/instituições sobe para 1.000 dólares por mês.

Esta implementação (Musk diz que é a única maneira realista de combater os bots de inteligência artificial), diga-se, parece não ter caído muito bem no seio dos utilizadores. Muitos por não quererem pagar, outros porque acreditam que, com os critérios do novo sistema de verificação, já não há diferença entre ter ou não o selo. 

  • Foram várias as celebridades e entidades do setor dos media que vieram a público explicar as razões pelas quais não estão dispostas a pagar o valor (ou porque são contra a ideia do próprio conceito). É o caso de LeBron James, estrela e rosto da NBA, da Casa Branca ou dos jornais The New York Times, The Washington Post e The Los Angeles Times.

O que está em jogo

Nos últimos quase 15 anos, associamos os selos azuis a autenticidade, fiabilidade e destaque. Mas agora, com as novas regras, há o receio de que as pessoas mudem o seu comportamento e consumam os conteúdos de maneira diferente no Twitter porque:

  • Os verificados que perdem os selos estão preocupados com os impostores (que podem criar falsos perfis verificados com nomes de pessoas reais) e perdem o seu alcance;
  • Os utilizadores terão mais dificuldade em escolher as contas em que podem confiar porque o selo de verificação já não transmite o mesmo nível de confiança.

O futuro

Segundo um documento interno obtido por jornais americanos, que cita cálculos do próprio Musk, o Twitter vale hoje menos de metade do valor pago pelo ‘Chief Twit’ há seis meses. No entanto, a crença de Musk é que a empresa, com a reestruturação dos últimos meses, vai fintar as dificuldades financeiras que atravessa e vai conseguir alcançar o equilíbrio financeiro já no segundo semestre — sendo que muito desse equilíbrio vai chegar via adesão ao Twitter Blue, que terá um papel fundamental na hora de gerar receitas.

Portanto, o que resta saber é o seguinte: se a opinião (“embora o Twitter continue a ser uma ferramenta importante para a recolha de notícias, não é tão fiável como outrora foi”) da editora do The Los Angeles Times se alastra, a pergunta já não é só “se vale a pena a pagar pelo selo azul no Twitter”, é mais se “vale a pena estar no Twitter”. E isso pode ser um grande problema para Musk. Porque de que vale estar num sítio se a informação não tem credibilidade?