Voltar | Inteligência Artificial

Qual foi o primeiro chatbot da história?

por Gabriel Lagoa | 9 de Julho, 2025

Antes de o ChatGPT revolucionar as conversas com máquinas, antes de a Siri responder às nossas perguntas e muito antes de a Alexa controlar as nossas casas, houve o ELIZA.

Os chatbots podem parecer uma invenção dos últimos anos, mas a verdade é que a conversa entre humanos e máquinas começou muito antes do aparecimento do ChatGPT e até do Cleverbot, uma ferramenta que se tornou bastante popular nas décadas de 2000 e 2010 por aprender como imitar conversas humanas através de conversas com os próprios humanos. 

Tudo começou em 1966, quando Joseph Weizenbaum, um professor do MIT, nos Estados Unidos, criou o ELIZA. Este programa de computador simulava uma conversa através de texto, sem voz ou interface visual. Em jeito de curiosidade, o nome prestava homenagem a Eliza Doolittle, uma personagem de uma peça do dramaturgo irlandês George Bernard Shaw. 

Na prática, o ELIZA operava através de um sistema de reconhecimento de padrões. O programa analisava as frases do utilizador e respondia com base em regras pré-definidas. Quando alguém escrevia “Sinto-me triste”, ELIZA podia responder “Porque se sente triste?” ou “Conte-me mais sobre isso”. O sistema transformava declarações em perguntas e refletia as palavras do utilizador de volta.

Como funcionava?

Os sistemas atuais, como o ChatGPT, aprendem a partir de milhões de textos para gerar respostas originais, já o ELIZA dependia apenas de padrões e respostas pré-definidas.Mais: o funcionamento deste chatbot baseava-se na decomposição das frases em palavras-chave. O programa procurava termos específicos como “mãe”, “pai”, “problema” ou “sonho” e ativava respostas correspondentes. Se não encontrava palavras-chave reconhecíveis, recorria a respostas genéricas como “Diga-me mais” ou “Como se sente em relação a isso?”.

A versão mais conhecida do ELIZA simulava um psicoterapeuta. Inclusive, o programa adotava técnicas que se caracterizam por refletir as palavras do paciente através de perguntas. Esta abordagem permitia que ELIZA mantivesse conversas coerentes sem compreender o significado das palavras.

O encanto passou a preocupação

Certo é que a reação ao programa surpreendeu o próprio criador. Os utilizadores passavam horas a conversar com o ELIZA e alguns chegaram mesmo a desenvolver ligações emocionais com o chatbot. Weizenbaum ficou preocupado quando observou que as pessoas atribuíam inteligência humana ao sistema, apesar de este operar através de regras simples.

O programa demonstrou como técnicas básicas de processamento de linguagem podiam criar a ilusão de compreensão. ELIZA não compreendia o contexto nem o significado das conversas, mas conseguia manter diálogos convincentes. Esta descoberta acabou por influenciar décadas de investigação em inteligência artificial (IA).

Das regras e respostas pré-definidas aos sistemas atuais

No final de contas, o ELIZA criou as bases para o desenvolvimento dos chatbots modernos. O programa mostrou que a simulação de conversas humanas era possível através de regras computacionais. Décadas depois, sistemas como ChatGPT, Alexa e Siri seguem princípios similares, embora com tecnologias mais avançadas.

Mas nem tudo são favas contadas. O trabalho de Weizenbaum também levantou questões éticas sobre a interação entre humanos e máquinas. O professor do MIT alertou para os perigos de confiar demasiado em sistemas artificiais para questões que requerem compreensão humana. Estas preocupações mantêm-se relevantes nos debates atuais sobre inteligência artificial.

Os chatbots e os agentes de inteligência artificial são o tema do último episódio da série The Next Big Idea sobre IA. Vê aqui o episódio.