Projeto Gemini: A nova era do cinema?
O melhor assassino do mundo trabalha para o governo norte-americano. Com 51 anos, Henry Brogan (Will Smith) tenciona retirar-se de uma vida cheia de assassinatos mas há fastasmas com 25 anos que voltam para o perseguir: um clone seu, que faz parte do plano elaborado pelo vilão do filme, Clay Verris (Clive Owen). O argumento de David Benioff, Billy Ray e Darren Lemke é fácil de perceber. Mas afinal, o que é que fez com que um filme que começou a ser planeado em 1997 só tenha sido concretizado agora?
Demorou mais de vinte anos a passar do papel para o grande ecrã, passou de mão em mão, mas, em outubro de 2019, a espera terminou: “Projeto Gemini” chegou aos cinemas e marca uma reviravolta na arte de fazer cinema.
Smith ficou conhecido pela série de televisão The Fresh Prince of Bel-Air (que esteve no ar nos EUA entre 1990 e 1996) e foi isso que o indicou como a peça perfeita que faltava no puzzle de “Projeto Gemini”. A ideia seria ter um Will Smith de 51 anos frente a um Will Smith da altura de Fresh Prince, sendo ambos interpretados pelo mesmo ator. Confuso? Com a tecnologia atual, nem por isso.
A CGI (Computer-Generated Imagery, ou Imagem Gerada em Computador, numa tradução livre para português) não é propriamente uma novidade no que diz respeito ao cinema. Todos conhecemos filmes e séries (de animação e não só) em que existem imagens e sequências de planos que são geradas em computador. Só que, desta vez, as CGI foram elevadas a um novo patamar: o Will Smith “mais novo” foi completamente criado por computador, sem recurso a quaisquer técnicas de rejuvenescimento.
Todas as cenas em que Henry Brogan e Clay Junior (a versão clonada) contracenam juntos, quer em modo de perseguição, ou em luta corpo-a-corpo, foram gravadas em dose dupla por Will Smith. Quando estava a fazer de Henry Brogan, as filmagens decorriam normalmente, mas nas cenas em que fazia do jovem Clay Junior, Smith usava uma maquilhagem especial (que incluia vários pontos pretos espalhados pela cara) e um capacete especial com duas câmaras que registavam o movimento dos pontos, de acordo com as expressões faciais do ator.
A imagem final foi depois gerada através de um computador e replicou os registos dos pontos pretos. Contudo, é a interpretação de Will Smith que ajuda a humanizar a personagem e a torná-la mais real, que não só era o principal objetivo de Ang Lee, como também o motivo que fez com que “Projeto Gemini” fosse sendo adiado ao longo dos anos.
O realizador taiwanês trabalhou em parceria com a Weta Digital para tornar o sonho de 1997 possível. A empresa de efeitos especiais da Nova Zelândia, que também colaborou em filmes como Avatar, Planeta dos Macacos e Ad Astra, ajudou a produzir o primeiro filme a utilizar a tecnologia de rejuvenescimento em CGI a esta escala, ou seja, a técnica já foi utilizada pontualmente noutros filmes, com destaque para as cenas de flashback protagonizadas por Samuel L. Jackson no filme “Capitã Marvel”.
Mas para além do rejuvenescimento, há outro aspeto que torna este filme pioneiro e Ang Lee um possível visionário. A longa metragem foi gravada a 120 frames por segundo e vai ser exibida em vários formatos, incluindo IMAX 3D+. Na prática, isto significa que cada segundo do filme contém muito mais informação – leia-se “imagens” – do que o habitual (tradicionalmente os filmes são gravados a 24 frames por segundo), pelo que o nível de realismo de cada plano será muito maior. A este realismo junta-se o 3D+, que ajuda a criar um ambiente muito mais imersivo, transportando os espectadores da sala de cinema para o meio da ação.
Mais de 20 anos depois, Ang Lee propõe-se a revolucionar a forma como se faz cinema. Chegámos a uma nova dimensão na Sétima Arte?