Quatro em cada 10 portugueses não acredita que a IA ponha em risco o seu trabalho
por The Next Big Idea | 12 de Dezembro, 2023
Portugueses usam IA sobretudo para obterem informações desde factos e dados até explicações e conceitos, mas são poucos os que receberam formação.
A inteligência artificial (IA) existe há 50 anos, mas o desenvolvimento da capacidade de processamento, a disponibilidade de quantidades elevadas de dados e os novos e potentes algoritmos, permitiram incríveis progressos nos últimos anos. E sem dúvida que o lançamento do ChatGPT há um ano e a revelação do que é capaz de fazer – assim como da própria IA generativa no geral – levou a que conversa galgasse de um nicho e passasse a fazer parte do grande público e dos media tradicionais. Muito em parte porque tem o potencial de mexer com a vida das pessoas.
Neste âmbito, o estudo “Consumer Sentiment Survey 2023”, realizado pela consultora Boston Consulting Group (BCG), procurou saber o que pensam os portugueses relativamente ao seu futuro num mundo que, a julgar pelo que vão dizendo os líderes das grandes tecnológicas, parece destinado a trabalhar de mãos dadas com esta tecnologia.
E de acordo com o inquérito, um terço dos portugueses (33%) acredita que a IA terá um impacto significativo ou fundamental na sua vida. No imediato, quatro em cada dez portugueses (43%) admite mesmo a utilização de IA pelo menos uma vez por mês.
- A proporção de pessoas que utilizam IA pelo menos uma vez por mês aumenta para 67% em adultos entre os 18 e os 24 anos e decresce para 26% em adultos com mais de 64 anos. Ainda 19% de todos os inquiridos admitiu já ter experimentado, mas não usufruir, e 38% revelou nunca ter usado estas ferramentas.
O estudo assinala que os portugueses usam IA sobretudo para obterem informações (54%), desde factos e dados até explicações e conceitos. Segue-se o auxílio na realização de tarefas, como fornecer instruções, conselhos técnicos ou oferecer sugestões e dicas em diversas áreas (52%); o aprimoramento da escrita no desenvolvimento de textos, correções gramaticais e traduções (48%); e a criação de conteúdo como design, música e vídeo, incluindo a composição, criação de imagens, layouts, anúncios e filmes (28%).
O relatório sugere também que, quando questionados sobre a probabilidade de os seus trabalhos desaparecem devido à inteligência artificial nos próximos 10 anos, a maioria dos inquiridos (59%) considera que o desenvolvimento e adoção de IA vai trazer alguma redução de carga horária, sendo que um terço (33%) perspetiva que a redução será inferior a 50% da carga atual, e 19% acredita que será superior. Em oposição, quatro em dez portugueses (41%) não creem existir esse risco e apenas 7% acredita que o seu trabalho irá desaparecer com a tecnologia.
Todavia, há quem esteja preocupado e revele inquietações. Mais de metade (58%) dos trabalhadores de Banca e Seguros, por exemplo, estão receosos que a IA possa reduzir em mais de metade o seu volume laboral — ou provoque mesmo a extinção das suas funções. Sentimento partilhado pelos trabalhadores de serviços de call center (40%), Tecnologias de Informação (39%), Marketing e Publicidade (38%), Finanças e Contabilidade (34%), e na área de Comercial e Vendas (32%).
Líderes precisam de dar mais orientação na IA
Outro dado partilhado pela consultora é o facto de (68%) dos portugueses reconhecer que precisa de mais formação para poder incorporar IA no seu trabalho — mas só 13% revelou ter recebido algum tipo de treino ou ajuda nesse sentido. Aprendizagem que é essencial, pois a utilização por si só da tecnologia não garante bons resultados como ficou demonstrado noutro levantamento recente da BCG, denominado “How People Can Create — and Destroy — Value with Generative AI”, que revelou como o potencial desta tecnologia pode ajudar ou prejudicar os trabalhadores em várias tarefas.
Segundo esse estudo, nove em dez pessoas a nível mundial beneficiaram da utilização da IA generativa na inovação criativa de produtos, sendo que o seu nível de desempenho foi 40% superior ao dos que trabalharam na mesma tarefa sem essa ferramenta. Contudo, o estudo salienta que quando os participantes utilizaram a tecnologia para a resolução de problemas empresariais, o seu desempenho foi 23% pior do que o dos que realizaram a tarefa sem auxílio.
“Os líderes devem ajudar os trabalhadores a utilizar esta tecnologia da forma correta, para as tarefas certas e de forma a se ajustarem e adaptarem continuamente à sua evolução. O sucesso na era da IA dependerá em grande medida da capacidade de uma organização aprender e mudar mais rapidamente do que nunca”, explica Tiago Kullberg, Managing Director & Partner da BCG, citado em comunicado.
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Nota: O estudo “Consumer Sentiment Survey 2023”, tem como base um inquérito a 1.000 portugueses em todo o território de Portugal continental, conduzido entre 15 e 25 de setembro de 2023, com base em 33 perguntas relacionadas com o sentimento dos portugueses para com os seus hábitos de consumo este ano.