Bandora capta 1,5 milhões de euros em ronda liderada pela BlueCrow Capital
por Gabriel Lagoa | 24 de Julho, 2024
O financiamento, com participação da Portugal Ventures, vai permitir à startup otimizar cerca de 600 edifícios em menos de dois anos.
A Bandora, empresa portuguesa de deeptech que desenvolve soluções para a gestão energética de edifícios, anunciou a conclusão de uma ronda de investimento Seed no valor de 1,5 milhões de euros, liderada pela BlueCrow Capital e com participação da Portugal Ventures.
Fundada em 2017, a Bandora oferece ao mercado uma abordagem que combina Inteligência Artificial (IA), simulação tridimensional de edifícios e o conhecimento em conforto térmico e performance energética. O objetivo da startup é garantir o conforto dos ocupantes dos edifícios enquanto otimiza o consumo energético, contribuindo assim para a sustentabilidade ambiental.
Em comunicado, Márcia Pereira, CEO da Bandora, não escondeu o entusiasmo com o investimento e afirma que “estamos muito animados com este financiamento, que nos permitirá expandir significativamente a nossa operação e consolidar a nossa liderança em soluções sustentáveis para edifícios. Este apoio é crucial para alcançarmos os nossos objetivos e contribuirmos para um futuro mais verde”.
Ideia surgiu para simplificar a gestão de edifícios
Ao The Next Big Idea, Márcia Pereira deu mais detalhes sobre a trajetória e os planos da Bandora. A CEO começou por explicar que a empresa surgiu a partir de uma experiência anterior como consultora de energia, em que identificou a necessidade de simplificar a gestão de edifícios inteligentes, uma vez que estes processos revelavam-se demasiado complexos até para os técnicos de manutenção e gestores de instalações.
“A Bandora é um técnico de manutenção ou um gestor de edifícios mais virtual, que sabe exatamente qual o ponto ótimo para ligar e desligar qualquer sistema. No caso do ar-condicionado, define qual é a melhor temperatura de conforto e até decide quando deve fazer aquecimento ou arrefecimento em variados espaços. Tudo isto sem qualquer supervisão humana, mas com uma melhor performance e melhores resultados”, explica a CEO.
O mercado da startup tem como principais clientes aqueles que se instalam em edifícios de serviços e comerciais. Porquê? Márcia Pereira conta que há uma obrigatoriedade legal que exige que edifícios com mais de 250 kW de potência de ar-condicionado instalado tenham sistemas de automação e controlo até 2025. Ou seja, estes edifícios têm de se tornar em smart buildings. A Bandora também tem encontrado oportunidades em setores como hotéis, escritórios e cadeias de fast food, “uma vez que são elevadas consumidoras de energia e não têm qualquer forma de fazer uma tomada de decisão orientada para a eficiência energética. Isto porque esse tipo de edifícios é gerido pelos próprios colaboradores, pelos próprios funcionários das lojas, dos restaurantes”, acrescenta a CEO da empresa.
Uso da IA era inevitável
A Bandora recorre à IA como uma componente fundamental da gestão energética de edifícios. “A IA é crucial porque permite analisar e processar enormes quantidades de dados gerados pelos edifícios em tempo real, algo que seria impossível para um ser humano fazer de forma eficiente. A cada cinco minutos, o sistema da Bandora analisa toda a informação proveniente do edifício e toma decisões automatizadas, sem necessidade de supervisão humana. Isto inclui ajustar os sistemas de climatização, prever necessidades energéticas com base em padrões de ocupação e condições meteorológicas, e otimizar o consumo de energia”, explica Márcia Pereira.
A Inteligência Artificial aos comandos da Bandora aprende constantemente com o histórico do edifício, permitindo-lhe tomar decisões mais céleres e assertivas do que um gestor humano, “mesmo que muito experiente”, assegura a responsável. Esta abordagem baseada em IA permite à Bandeira oferecer um nível de eficiência energética e conforto que seria “difícil de alcançar” através de métodos tradicionais de gestão de edifícios.
Foco na sustentabilidade
Ao The Next Big Idea, Márcia Pereira destaca que “nós somos uma empresa de cleantech e o nosso foco é a redução da dependência energética. Já conseguimos reduzir o consumo de energia só desta componente [ar-condicionado] até 70% em alguns edifícios, como é o caso de um hospital”.
A CEO acrescenta que a meta de ter 1.800 edifícios geridos e otimizados pela Bandora até 2027 permitirá uma poupança média de 200 GWh nesse mesmo ano, o que corresponde “à captura das emissões de dióxido de carbono por cerca de meio milhão de árvores”.
Expansão internacional em andamento
Com a conclusão desta ronda, a Bandora planeia multiplicar por dez a sua faturação e otimizar 300 edifícios até ao final de 2024. A longo prazo, a startup antecipa um crescimento ainda mais expressivo, com o objetivo de ter 1.800 edifícios geridos e otimizados pela sua plataforma até 2027.
O investimento permitirá à Bandora escalar rapidamente as operações, aumentando o número de edifícios otimizados de 10 para 600 em menos de dois anos. Além disso, o financiamento será utilizado para reforçar as equipas de vendas, marketing e operações, estabelecer parcerias estratégicas e expandir a presença da empresa em novos mercados, incluindo Espanha, Dubai e Emirados Árabes Unidos.
António Melo Campello, representante da BlueCrow Capital, destaca que “na era da IA a sua aplicação ao setor imobiliário é ainda um negócio em desenvolvimento, mas com elevado potencial e margem para crescimento. Na nossa opinião, a Bandora estabelece esta ligação de forma exemplar, conjugando uma forte componente técnica com uma abordagem comercial eficaz.”
A expansão internacional da Bandora corre a todo o vapor. Além dos mercados mencionados no comunicado, Márcia Pereira revela que a empresa está a estabelecer acordos de distribuição em países como Colômbia, República Dominicana e Estados Unidos. “Isto está a explodir muito,” afirma.
A dirigente explica que embora a estratégia inicial fosse focar na Europa devido às políticas comunitárias de eficiência energética, as oportunidades nas Américas surgiram mais rapidamente: “Oportunisticamente, estes mercados têm se tornado muito ávidos em receber novas tecnologias que possam reduzir a sua elevada dependência energética e é natural que demos resposta a estes países”.
Com o novo financiamento, a Bandora pretende continuar a investir no setor da gestão energética de edifícios, “consolidando-se como uma referência em inovação e sustentabilidade. O apoio estratégico das duas sociedades de capital de risco reforça a confiança no potencial da startup e acelera a sua capacidade de crescimento e inovação continua”, conclui a empresa em comunicado.
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