Portugal está no 20.º lugar europeu na adoção de IA
por Gabriel Lagoa | 31 de Outubro, 2025
 
			Portugal surge ainda na 35.ª posição global de adoção de IA. Mas o relatório da Microsoft revela uma desigualdade maior: metade da humanidade ainda não tem condições básicas para usar esta tecnologia.
A Microsoft divulgou a primeira edição do “AI Diffusion Report”, que mede quem usa, desenvolve e constrói inteligência artificial pelo mundo fora. E Portugal aparece no 20.º lugar entre os países europeus com maior taxa de adoção de IA, ocupando a 35.ª posição no ranking global. De acordo com o relatório, cerca de 22,4% da população ativa portuguesa já utiliza ferramentas de IA no dia a dia.
O estudo foi elaborado pelo AI For Good Lab da Microsoft e apresenta três índices para avaliar o estado da tecnologia: o Índice de IA Frontier (que mede os modelos mais avançados), o Índice de Infraestrutura de IA (capacidade de construir e escalar a tecnologia) e o Índice de Difusão da IA (percentagem da população que efetivamente usa estas ferramentas). A ideia é perceber não só quem está a construir IA, mas quem pode mesmo beneficiar dela.
A tecnologia que se espalhou mais rápido na história
Segundo o relatório, a IA é a tecnologia de uso geral com a difusão mais rápida de sempre. Em menos de três anos, mais de mil milhões de pessoas em todo o mundo já a utilizaram, algo que nem a internet, o computador pessoal ou o smartphone conseguiram fazer tão depressa. Mas os números escondem uma realidade desigual.
Quase quatro mil milhões de pessoas, cerca de metade da população mundial, ainda não têm os requisitos básicos para utilizar IA.
A adoção da IA está fortemente ligada ao PIB dos países e depende de cinco “blocos fundamentais”: acesso fiável à eletricidade, presença de centros de dados, conectividade à internet, competências digitais e disponibilidade de conteúdos em línguas locais. Sem estas bases, a tecnologia simplesmente não chega às pessoas. E o resultado é que quase quatro mil milhões de pessoas, cerca de metade da população mundial, ainda não têm os requisitos básicos para usar IA.
Norte Global vs. Sul Global: o dobro da diferença
A taxa de adoção no Norte Global é aproximadamente o dobro da verificada no Sul Global. Em algumas regiões da África Subsariana e da Ásia, menos de 10% da população usa IA. Por outro lado, países como Singapura, Emirados Árabes Unidos, Noruega e Irlanda destacam-se com mais de metade da população em idade ativa a utilizar estas ferramentas.
A ausência de eletricidade fiável continua a ser uma barreira. Na África Subsariana concentra-se 85% da população mundial sem acesso à energia, o que limita a participação na economia digital. A proximidade aos centros de dados também influencia diretamente a experiência do utilizador e a maioria destas infraestruturas está no Norte Global, com os Estados Unidos e a China a representarem cerca de 86% da computação global.
Outro obstáculo é a língua. A predominância do inglês nos dados que alimentam os modelos de IA exclui milhões de pessoas. Segundo o relatório, países com línguas subrepresentadas na web apresentam taxas de adoção até 20% inferiores, mesmo com níveis semelhantes de PIB e conectividade.
O impacto da tecnologia será medido não pelo número de modelos produzidos, mas pela sua capacidade de gerar valor real para a sociedade.
O relatório identifica ainda dois grupos fundamentais na evolução da IA: os construtores e os utilizadores. Do lado dos construtores, há os “construtores frontier” (organizações como OpenAI, Microsoft, Anthropic e Google que desenvolvem os modelos mais avançados) e os construtores de infraestrutura (que garantem centros de dados, conectividade e energia). Do lado dos utilizadores estão cidadãos, empresas e governos que aplicam a tecnologia para resolver problemas reais.
Para medir a difusão da IA, a Microsoft recorreu a telemetria agregada e anonimizada de mais de mil milhões de dispositivos Windows, complementada por dados externos. O documento conclui que o impacto da tecnologia será medido não pelo número de modelos produzidos, mas pela sua capacidade de gerar valor real para a sociedade.
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