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Porque é que o preço do ouro não para de subir?

por Marta Amaral | 21 de Março, 2025

O preço do ouro continua a subir e a bater recordes diários. De acordo com a Lusa, esta quinta-feira voltou a quebrar máximos históricos e ficou perto de 3.060 dólares a onça. 

O que faz este metal precioso voltar a ser tão relevante nos dias de hoje? O contexto geopolítico cada vez mais instável pode estar no centro da questão, levando investidores a procurar portos seguros

O ouro tem sido, ao longo dos séculos, um símbolo de riqueza e segurança. A sua importância consolidou-se especialmente após a Segunda Guerra Mundial, com o Acordo de Bretton Woods (1944), que vinculou o dólar ao ouro, garantindo estabilidade às economias devastadas pelo conflito.

“É curioso. O ouro como metal precioso raro, está a ter aqui novamente um papel preponderante na civilização humana”, aponta Carlos Silva Lourenço, professor e investigador no ISEG.

Porquê que o ouro é visto como um investimento tão seguro?

  • É um metal raro e resistente
  • Bom condutor elétrico
  • Mantém valor ao longo do tempo
  • Aceite universalmente como forma de riqueza

O professor do ISEG reforça que o único cenário em que o ouro perderia valor seria algo “lunático e caricato”, como uma bactéria que invadisse o planeta e fosse capaz de alterar as suas propriedades.

O ouro como metal precioso raro, está a ter aqui novamente um papel preponderante na civilização humana.

Para o economista existem três razões cronológicas que justificam a considerável subida do preço do ouro e sublinha: “não são todas de agora”.

  • O início da invasão russa no território ucraniano: “Despoletou o primeiro grande aumento no preço do ouro devido ao congelamento dos ativos do banco central russo”.
  • A guerra comercial iminente, gerada pela incerteza relativamente às tarifas que foram anunciadas pelo nova administração Trump.
  • A descida das taxas de juros.

“Os investidores procuram portos seguros, e o ouro, historicamente, é um dos ativos mais confiáveis na lógica do investimento financeiro em tempos de crise.”, refere o professor.

As pessoas estão a investir mais no ouro?

O professor explica que o aumento da procura não vem dos consumidores, mas sim dos bancos centrais e dos investidores institucionais, que veem o ouro como uma garantia para tempos de incerteza.

“Os bancos centrais precisam de um seguro para o seu endividamento. O ouro é essa garantia.”, afirma. Questionado sobre o facto de hoje em dia os jovens priorizarem outro tipo de ativos financeiros – como as criptomoedas ou ações – em vez do ouro, o economista alerta para uma comportamento eurocêntrico do consumo: 

“Enquanto no Ocidente os jovens podem demonstrar menos interesse pelo ouro, em países asiáticos e no Médio Oriente o ouro continua a ser valorizado como sempre foi”, refere o investigador.

Quem está mais interessado nesta tendência?

O economista refere que do lado da oferta temos dois produtores de ouro que estão empenhados nesta subida: a Rússia e a China. Do lado russo, os incentivos estão ligados às sanções europeias, que impedem o país de aceder a parte dos ativos no seu Banco Central (moedas de outros países por exemplo). O ouro, como reserva de valor universal, é um dos ativos que a Rússia pode transacionar com outros países, por exemplo a China, e contornar algumas destas sanções.

“Ou seja, paradoxalmente, o aumento do preço do ouro está a enriquecer os cofres russos e também os cofres chineses”, alerta o investigador.

Esta pode ser uma razão para que tanto um como o outro não tenham especial pressa na resolução do conflito com a Ucrânia ou numa resposta às medidas económicas de Trump, por exemplo. “Se nós tivermos uma resolução rápida para o conflito russo-ucraniano, que interessa nomeadamente aos Estados Unidos, se tivermos um aligeirar destas ameaças ao comércio internacional que é ocupado pela administração norte-americana, e se tivermos uma descida das taxas de juros não tão acentuada, nomeadamente pela reserva federal norte-americana, o cenário mudava”, reflete o investigador. 

Ou seja, paradoxalmente, o aumento do preço do ouro está a enriquecer os cofres russos e também os cofres chineses.

Ao mesmo tempo que a resolução rápida da guerra na Ucrânia beneficia os EUA em termos de posicionamento no Ocidente, também o aumento do preço do ouro é vantajoso, num país que tem a moeda nacional indexada a este metal. E com isto, temos pelo menos três superpotências a não querer o ouro mais barato.

O ouro vai ficar ainda mais valioso?

“Todas estimativas feitas até agora falharam porque o aumento tem sido ainda maior do que o previsto”, realça.

Enquanto o mundo atravessa tempos instáveis, o ouro reafirma o seu estatuto: um refúgio seguro que resiste ao tempo e às crise: “É provável que os aumentos no preço do ouro sejam ainda mais expressivos do que as previsões indicam.”, conclui o professor do ISEG.

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