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Porque é que o futuro do turismo passa por Málaga

por Rute Sousa Vasco (Texto) | 2 de Fevereiro, 2023

Málaga. Quem esteve no Boost – Building Better Tourism e assistiu à apresentação de Jonathan Punzon percebeu que algo se está a passar nesta cidade do sul de Espanha e não é apenas – mas também – no metaverso. Dias depois foi tornado público que a cidade será a capital do Futuro do Turismo e ficou claro para onde está a apontar baterias.

Começando pelo contexto. Málaga tem 600 mil habitantes numa comunidade que integra 140 nacionalidades. Segundo partilham os seus responsáveis, 325 dias de sol por ano e uma temperatura média anual de 21 graus. Já seria uma boa razão para que 5,4 milhões de turistas visitem a cidade todos os anos, sendo que às razões naturais, Málaga soma razões culturais onde se destaca ser a terra Natal de Pablo Picasso que dá nome a dois dos 35 museus que tem para visitar e onde se incluem outros pólos como o Centro Pompidou, o museu russo de São Petersbugo ou o museu Thyssen.

Em termos ibéricos, o aeroporto de Málaga está no top 5 com 160 rotas diretas e a cidade tem também o segundo porto de cruzeiros mais movimentado.

Até aqui estamos a falar a Málaga turística. Mas em Málaga como em qualquer localização que está a planear a evolução futura, a tecnologia desempenha um papel decisivo, não apenas na forma como está a mudar a oferta – das reservas ao pagamento da conta nos restaurantes, para falar de momentos mais corriqueiros – mas também na experiência que se oferece aos visitantes. E é por isso que Málaga gosta de apresentar o seu currículo na matéria: sede da National Digital Contents House, anfitriã do que designa por “Sillicon Valley europeu”, uma parque tecnológico que conta com mais de 600 empresas e 15 incubadoras, e ainda seis universidades em rankings internacionais.

Málaga é já hoje uma smart city, integrando um conjunto de sensores que indicam taxas de ocupação (nas praias, por exemplo), realidade aumentada em trajetos históricos e coisas já mais complexas como reconhecimento facial e emocional (feliz/infeliz, satisfeito/insatisfeito).

Agora o próximo salto é para a Web3 e o pretexto dificilmente poderia ser melhor: este ano, assinalam-se os 50 anos sobre a data da morte de Picasso, um número redondo que é um bom plano de marketing para posicionar a cidade na nova internet.

Como é que está a planear essa imersão na Web3 é, na verdade, uma compilação de termos que quem acompanha temas de tecnologia ouve diariamente. Envolve metaverso, pontes entre digital e físico (phygital), NFTs (claro) e uma lógica de visita que se aproxima da experiência de gaming com efeitos especiais a cruzarem-se no caminho (real) do visitante.

Olhando a transformação a partir da plataforma de NFTs, significa que quem se regista terá acesso a coleções de artistas mas também pode, usando a câmara do smartphone, pesquisar nas imediações do local em que se encontra outro tipo de NFTs e, claro, há uma carteira digital associada e a possibilidade de comprar e vender os NFTs dentro da plataforma.

O projeto está desenhado para estimular o comércio local – nomeadamente com a utilização de dados que o visitante partilha, bem como a possibilidade de comunicar ao longo do tempo e não apenas quando se encontra na cidade – mas integra soluções que possam diluir a concentração de pessoas nos espaços mais visitados. Como? NFTs, mais uma vez, com um valor de prémio ou por tempo limitado noutros pontos da cidade de forma a evitar as concentrações.

A tecnologia de suporte é a blockchain Chia, definida como sustentável por consumir 0,16% de toda a energia da Bitcoin e por suportar a economia circular, além de a plataforma Web3 de Málaga ter uma área dedicada de apoio a causas verdes.

Málaga será a primeira sede mundial da Coligação do Futuro do Turismo (FoTC) e atuará como o centro europeu neste âmbito, na sequência de um acordo plurianual anunciado. A Coligação de seis organizações não governamentais globais de turismo, formada em 2020 durante a pandemia da COVID, não teve, até agora, um escritório físico ou recursos humanos dedicados. A sede em Málaga permitirá a esta coligação formar parcerias com empresas, governos, instituições académicas e ONG, e trabalhar com estes intervenientes para fazer avançar um sistema de turismo mais sustentável na região da Andaluzia, e de forma mais vasta em Espanha, Europa e bacia mediterrânica.

A cidade espanhola será apoiada pelas seis ONG globais da FoTC (Centro para Viagens Responsáveis, Centro de Gestão de Destinos, Destinos Verdes, Viagens Internacionais Sustentáveis, Cuidados Turísticos, e Fundação de Viagens), cada uma com conhecimentos e ferramentas especializadas, para moldar um plano de trabalho para 2023-24 e anos subsequentes.