Porque é que é suposto falarmos menos com a Alexa?
por Marta Pedreira Mixão (Texto) | 1 de Novembro, 2021
Tom Taylor, o homem responsável pelo desenvolvimento da assistente virtual da Amazon, a Alexa, subiu ao palco central da Web Summit para explicar porque é que num futuro próximo vamos falar cada vez menos com estes aparelhos, que serão cada vez mais proativos, capazes de antecipar o que o utilizador quer sem que este tenha de o pedir. Mas como?
“Acreditamos que o futuro da tecnologia de consumo é a inteligência ambiental, que usa a inteligência artificial (AI) para sincronizar aparelhos e serviços inteligentes de uma maneira que oferece muito mais valor do que o hardware só por si”, começou por explicar Taylor.
A Amazon quer que deixemos de falar tanto com a sua assistente virtual. Porquê? Porque à semelhança de outros gigantes da tecnologia, a empresa está a trabalhar para tornar a Alexa mais inteligente, tão inteligente que pode antecipar aquilo que os humanos querem, e quando o querem.
“Não estamos a falar só de ter mais aparelhos conectados, estamos a acrescentar inteligência ao sistema para tornar os aparelhos melhores. Isto é o próximo grande passo na tecnologia, dentro e fora de casa”, diz Taylor.
Os dispositivos passarão a ter a capacidade ler o contexto e de se adaptarem às necessidades do utilizador de forma autónoma, explica.
“Isto significa que vai recorrer menos ao telemóvel, vai passar menos tempo a olhar para ecrãs e vai falar menos com a Alexa, porque ela e os outros elementos de IA já estão a trabalhar a seu favor. Isso significa também que vai passar mais tempo a olhar para o mundo e para as pessoas que estão nele e não para baixo, para as mãos”, elabora o vice-presidente.
A Alexa foi lançada há sete anos e começou com apenas 13 funções relativamente simples, como tocar uma música. Atualmente, já dispõe de mais de 130 mil funções e pode ser “personalizada”. Salientando que interagir com a Alexa deve ser divertido, Taylor conta que dez milhões de utilizadores já disseram à Alexa em algum momento “I love you”, acrescentando que “não pode haver maior elogio”.
Para o vice-presidente, a Alexa “já se tornou parte da vida das pessoas de uma forma que não podíamos imaginar” e, assegura, isso “só vai melhorar” com a possibilidade de esta se tornar ainda mais inteligente.
IA ‘Self service’ vs IA ‘self directed’
“Grande parte da magia da assistência de voz é a sua acessibilidade”, nota Taylor. A fase seguinte passa por “democratizar a IA ainda mais”.
“Historicamente, era necessário ser informático para personalizar IA para realizar tarefas especificas, mas o que estamos a ver agora é que isso está mudar dramaticamente. Com o ‘self service’ IA qualquer um consegue personalizar a sua experiência de acordo com as suas necessidades, preferências e ambiente. Sem necessidade de manuais, qualquer pessoa pode aprender de forma intuitiva a utilizar a Alexa”, explica.
Parte desta mudança já está em curso. A Amazon introduziu o ‘Routines’ [Rotinas], um programa que permite que as pessoas programem o Echo, e outros dispositivos habilitados para utilizar o assistente digital, para realizar determinadas tarefas em momentos específicos, como por exemplo desligar o termóstato quando todos deixam a casa ou ligar as notícias quando o alarme toca pela manhã.
Estas rotinas também poderão ser ativadas por sons. Ou seja, se a Alexa, por exemplo, identificar o choro de um bebé pode começar a tocar músicas calmantes; se identificar sons estranhos no quintal pode emitir o som de um cão a ladrar, para afastar visitas indesejadas.
Em resumo, “as pessoas vão poder ensinar à Alexa sons distintos no seu ambiente único, com recuso a apenas algumas amostras de voz, e depois podem selecionar uma opção para que a Alexa responda com uma rotina assim que esse som é detetado”, detalha o vice-presidente, afirmando ainda que a Amazon está já a introduzir outros ‘triggers’ [ativadores], incluindo visuais.
Outro dos exemplos dados pelo vice-presidente foi dirigido aos pais: “Podem pedir que sempre que a Alexa identifique o som da Xbox a ligar comece a ditar a lista de tarefas pendentes dos vossos filhos”.
Num segundo nível, o IA deverá tornar-se menos reactivo às tendências do cliente e mais proactivo.
Em setembro, por exemplo, a Amazon apresentou os alertas de eventos personalizados, os ‘ring custom event alerts’, que podem ser utilizados para, por exemplo, abrir a porta de garagem quando chega uma encomenda ou apagar uma luz que ficou esquecida quando saiu para o trabalho.
“Com a inteligência ambiental deixa se ser preciso pedir à Alexa para fazer estas tarefas”, acrescentou.
Assim, com o tempo, cada assistente virtual tornar-se-à único e totalmente adaptado aos seus utilizadores, desempenhando papéis diferentes em contextos diferentes.
A Amazon reconhece que os temas da privacidade podem ter um papel neste futuro em que a AI é capaz de atender às nossas necessidades sem que ninguém lhe peça e lembra que “desde o primeiro esboço do Amazon Echo que a Alexa tem um botão de mute [silêncio]”.