Políticos vão ser políticos, inovadores vão ser inovadores e os unicórnios já não são o que eram
Há demasiadas coisas a acontecer e continuamos a precisar de tempo para coisas singelas como trabalhar, dormir, ver os nossos filhos crescer e meter aquela máquina de roupa a trabalhar. Foi a pensar nisso que começámos esta seleção de histórias da semana que, não sendo urgentes numa era em que a notícia que amanhã vai chover ganhou esse estatuto, são importantes, curiosas ou simplesmente nos fazem pensar.
1. Políticos, e a verdade, e as redes sociais, e a verdade
A senadora Elizabeth Warren, uma das democratas na corrida presidencial, investiu numa campanha de Facebook. Até aqui tudo bem, ou tudo normal nos nossos tempos. Só que não é uma campanha qualquer: são anúncios que dizem expressamente que o fundador da rede social Mark Zuckerberg e o próprio Facebook apoiaram a reeleição de Donald Trump.
O que não é verdade.
Qual é o ponto de uma candidata presidencial colocar no ar anúncios que não correspondem à verdade? Por um lado, Warren quis fazer a rede social provar do seu próprio veneno, por outro foi uma resposta à informação revelada no início de outubro segundo a qual Mark Zuckerberg teria dito aos empregados do Facebook que uma eventual presidência liderada pela senadora seria péssimo para a empresa (à letra, would suck)
Diz o anúncio: “You’re probably shocked, and you might be thinking, ‘how could this possibly be true?’ Well, it’s not.” (“Deves estar chocado e provavelmente a pensar como pode isto ser verdade? Bom, não é”).
A senadora quis com esta campanha por em evidência a decisão do Facebook de isentar alguns anúncios políticos de verificação por entidades externas, tema que voltou a estar na ordem do dia nos Estados Unidos por uma campanha de Trump que a CNN apontou como “demonstravelmente falsa”.
Zuckerberg não reagiu mas o porta-voz do Facebook sim. Desta forma: “Se a Senadora Warren quer dizer coisas que ela sabe não serem verdade, nós acreditamos que o Facebook não deve estar na posição de censurar esse posição”.
Mark Zuckerberg, por seu lado, anda numa espécie de “tour” pela transparência como lhe chamam os meios americanos. Na quinta-feira, 17 de outubro, foi falar à Universidade de Georgetown. Na parte reservada a debate, as perguntas da audiência estavam previamente aprovadas. O tema era liberdade de expressão.
2. Papel qual papel? Estes.
Há questões ambientais onde menos esperamos. Por exemplo, na trivial casa de banho e no ainda mais trivial papel higiénico.
E é a pensar nisso que uma série de startups entram no mercado das grandes marcas produtoras de “papel para o lar” com propostas desafiantes: papel higiénico de bambu, papel higiénico de polpa reciclada, papel higiénico “sem árvores”. Onde se compram? Não no supermercado, mas por subscrição com um preço que chega a ser três vezes mais elevado do que os convencionais.
São marcas com nomes como No.2, Who gives a Crap, Tushy, Cheeky Monkey, Bippy e Peach (não querem mesmo que se traduza, pois não?). Com assinaturas de marketing como: “Want to be butt buddies?” ou “Turn your restroom into the best room” ou “Good for your bum. Great for the world”. Limpar o dito é também um ato de sustentabilidade numa indústria que vale 31 mil milhões de dólares e que não é de deitar fora.
3. Papel qual papel? Este.
A ideia é ter uma embalagem em papel reciclado. O anúncio foi feito pelo CEO da Carlsberg que quer ter as suas emissões de carbono zeradas em 2030. Para já, mantém-se as outras embalagens de cerveja – garrafa e lata – mas esta solução pode reduzir a pegada de carbono em 30%. Outras multinacionais, como a L'Oréal e a Unilever, estão também a procurar ativamente novas embalagens que permitam, nomeadamente, deixar de lado o plástico.
4. Devia ter sido o ano dos mega-IPOs mas não, não é
Não está a ser um grande ano para startups que se tornaram unicórnios ou perto disso entrarem em bolsa. O caso mais desastroso é o da WeWork, toda uma história que podem ver resumida aqui, e esta semana foi a vez da Postmates, empresa de entrega de refeições, adiar a sua entrada no mercado de capitais.
Das 32 startups tecnológicas que entraram em bolsa este ano nos Estados Unidos, a maioria teve um desempenho fraquinho, sendo a média de valorização de 5% (compara com 13% em 2018 e 94% em 2017). Uber e Slack, duas das mais conhecidas, simplesmente falharam a meta.
Uma das vítimas é o Softbank, que investiu tanto na Uber como na WeWork e perdeu qualquer coisa como 5 mil milhões de dólares.
5. Não é só o Presidente da República que recebe influencers a pensar nos teenagers que não leem jornais e veem pouca televisão.
Essa é uma das preocupações de quem gere marcas, sejam mais ou menos direcionadas para jovens. Por um lado, é aqui que se joga parte da influência nas compras das famílias, por outro, os jovens um dia serão menos jovens e a fidelização começa tão cedo quanto possível.
Este inquérito é por isso uma boa ferramenta para políticos, marcas e quem mais possa ter interesse nesse grupo sempre mal-entendido que são os teenagers. Sim, é americano, mas a globalização torna muitas destas conclusões … globais.
Conclusões em modo flash-interview:
- Para ver vídeos, os mais jovens preferem o YouTube ao Netflix
- Amazon é “o” sítio para fazer compras online
- O Iphone continua a ser o objeto de desejo
- A Nike lidera nas preferências de roupa e calçado
- A Lays lidera nos snacks
- E, como não?, o ambiente é a causa social mais mobilizadora.
Nota de rodapé: só nos Estados Unidos, a geração Z representa 830 mil milhões de dólares.
6. As marcas mais-mais
E aqui está ela, a lista de 2019 das marcas mais valiosas do mundo organizada pela Interbrand. Apple, Google e Amazon a subir, Facebook a descer.
7. Contra o monopólio das tecnológicas, um fundo
Chris Hughes, co-fundador do Facebook, projeto que abandonou e cujos perigos tem advogado desde então, lançou um fundo de 10 milhões de dólares anti-monopólio suportado por investidores como George Soros e por organizações como a Omidyar Network, lançada pelo fundador da eBay. O fundo será gerido pela Economic Security Project, organização promovida por Hughes, e servirá para promover ações de investigação académica e de divulgação de iniciativas que discutam o poder das grandes tecnológicas.
Ideias que adoramos
Esta adoramos mesmo: o podcast How I built This com Guy Raz
E fiquem com esta, igualmente adorável, e que conhecemos porque o NYT faz conteúdos sobre marcas que são mesmo conteúdos e não press-releases: Allbirds
Lista de compras
A Piaggio Fast Forward, que pertence à mesma empresa que detém a Vespa, acaba de lançar o primeiro produto de grande consumo: o Gita. Nada mais que um robot esférico que permite transportar de forma autónoma até cerca de 18 quilos. Pensado para ir às compras, para levar equipamento do ginásio ou até brinquedos dos mais pequenos.
Mais sobre o Gita aqui.
O Papa Francisco tem batalhado pelo progressismo na Igreja e o Vaticano procura acompanhar-lhe o passo, pelo menos na frente tecnológica. É daí que nasce uma parceria com a Acer para um rosário digital, um crucifixo “inteligente” com bluetooth que se ativa com uma app disponível para iOS e Android.
Mais sobre o rosário digital aqui.
Em agenda
Para ler ou só para saber quem ganhou.
O Financial Times e a Mckinsey premeiam todos os anos o melhor livro na perspectiva do mundo dos negócios (ou não fosse promovido pelo Financial Times a Mckinsey). Aqui temos a lista de 2019:
The Age of Surveillance Capitalism: The Fight for a Human Future at the New Frontier of Power ,por Shoshana Zuboff
Invisible Women: Data Bias in a World Designed for Men, por Caroline Criado Perez
The Man Who Solved the Market: How Jim Simons Launched the Quant Revolution , por Gregory Zuckerman
The Third Pillar: How Markets and the State Leave the Community Behind, por Raghuram Rajan
Kochland: The Secret History of Koch Industries and Corporate Power in America, por Christopher Leonard
Range: Why Generalists Triumph in a Specialized World , por David Epstein.
No ano passado, o prémio foi atribuído a Bad Blood: Secrets and Lies in a Silicon Valley Startup, de John Carreyrou, que conta a história da Theranos, uma startup que subiu aos céus e desceu aos infernos (ou nem por isso) e que tem também um documentário a contar a sua história.
Os vencedores são conhecidos dia 3 de dezembro.
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