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Para lá do “hype” da inteligência artificial

por Paulo Mota

30 de Novembro, 2023

Este é um momento crucial para definir como utilizamos estas tecnologias: não apenas para evoluir negócios, mas para promover um avanço social amplo.

A Inteligência Artificial (IA) está a revolucionar a forma como desempenhamos tarefas pessoais e profissionais, agindo como um amplificador do elemento humano. De forma muito pragmática, a IA é, antes de mais, uma ferramenta de potenciação individual, de multiplicação de desempenho.

E o melhor? Esta evolução é suportada pelas tecnologias que a antecederam. Podemos aplicá-la através dos mesmos dispositivos que sempre utilizámos para interagir com o que nos rodeia, tais como os nossos telemóveis, computadores, e em alguns casos outros dispositivos do quotidiano. Essa multiplicação de desempenho pode assumir diferentes formas, algumas das quais familiares, já que a tecnologia de base utilizada nestas apenas mudou de forma:

  • a nossa gestão de tempo, calendário e tarefas;
  • o apoio à criação e gestão de conteúdo, emails e mensagens, poupando horas de trabalho e agendando tarefas de forma autónoma;
  • a transformação da forma como pesquisamos informação através de motores de busca online para fazermos perguntas customizadas nas diferentes interfaces de IA Generativa;
  • a forma como agregamos essa informação em conhecimento consolidado, ou para estudo/arquivo e utilização posterior desta.

No futuro, todas as profissões terão uma componente semi-técnica, de ligação a estes sistemas. Nesse sentido, muito se tem falado de conceitos como up-skilling” e “re-skilling” que, no fundo, são a aquisição e desenvolvimento de competências mais adaptadas ao panorama atual de transformação digital. Novas profissões irão também surgir, como resultado das novas formas de lidar com a informação: se vários processos que anteriormente demoravam dias passam agora a ser concluídos em horas, o tempo livre resultante pode ser dedicado à transformação para outro patamar desses conteúdos, sejam eles produtivos, criativos, ou meramente transacionais. A capacidade estratégica, imaginativa e administrativa do Ser Humano torna-se assim uma das principais “soft-skills” que ditarão o sucesso futuro.

Mas a rápida evolução destas ferramentas tem sido tão vertiginosa que até especialistas têm dificuldade em acompanhar. Este ritmo tem provocado instabilidade não apenas técnica, mas também humana e legal. Empresas e líderes enfrentam desafios para se manter a par das implicações e responsabilidades que acompanham tal progresso. Ao nível macro, instituições reguladoras globais, nomeadamente as europeias, americanas e chinesas, procuram regras que permitam de facto mitigar riscos sem prejudicarem a inovação face aos seus pares. Ao nível empresarial, eventos recentes mostram que mesmo os gigantes do mercado não têm as suas posições consolidadas. Face a instabilidades internas, todo um mercado emergente pode ser abalado, com grande impacto financeiro num curtíssimo espaço de tempo. Toda a área está ainda em fase de maturação.

Neste cenário, torna-se crucial não nos perdermos no ruído e especulação. Devemos, por isso, refletir sobre o valor prático que estas ferramentas podem representar para cada um de nós, indivíduo ou empresa. Não apenas em termos tecnológicos, mas na sua aplicação eficaz e ética, deslocando o foco do fascínio pela tecnologia para a compreensão de como pode potenciar a nossa criação de valor.

A verdadeira revolução não está na tecnologia em si, mas na criatividade de como a utilizamos para criar sistemas melhores ao nosso redor.

É importante sublinhar que o elemento humano não é removido da equação pela adição de ferramentas de IA. Pelo contrário, a IA fornece contributos valiosos. Cabe, no entanto, a nós interpretá-los, integrá-los em contextos pessoais, profissionais, éticos e culturais. A sua eficácia e usos específicos dependem da nossa capacidade de direcioná-la, já que tudo o que esta pode produzir depende do conteúdo que previamente usámos para a treinar, o que significa que nos dará sempre resultados baseados naquilo que já foi visto no passado.

A IA está a democratizar o acesso a resultados avançados. A criação de software personalizado, a obtenção e processamento de dados, a Internet das Coisas (IoT), são elementos que estão cada vez mais acessíveis, desbloqueando capacidades anteriormente limitadas a poucos. A IoT Industrial está cada vez mais democratizada, com plataformas disponíveis e prontas a cumprir a promessas da Indústria 4.0. Este é um momento crucial para definir como utilizamos estas tecnologias: não apenas para evoluir negócios, mas para promover um avanço social amplo. A verdadeira revolução não está na tecnologia em si, mas na criatividade de como a utilizamos para criar sistemas melhores ao nosso redor. Com diferentes soluções a surgir como intermediários deste potencial, a sua exploração torna-se numa competência de competitividade.

Enquanto a IA continua a evoluir, desafia-nos a repensar a abordagem ao trabalho, à aprendizagem e à criatividade. Não só a adotar novas ferramentas, estamos a desenvolver novas formas de pensar e colaborar. A transformação digital está agora ao alcance de qualquer um, dependente da visão e criatividade que se conseguir incutir na sua base. A nível pessoal e organizacional, de que forma vai multiplicar o seu desempenho, para criar impacto positivo no seu ambiente? A resposta a esta questão torna-se central no nosso quotidiano, porque a mudança, essa, está a acontecer à medida que lê este artigo.