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O futuro da IA entre algoritmos e emoções

por João Cunha

24 de Abril, 2025

Embora não seja novidade, a Inteligência Artificial (IA) tem vindo a ganhar cada vez mais atenção e relevância. Apesar das dúvidas que ainda subsistem, é certo que se está a formar um novo equilíbrio entre homem e máquina, com um impacto duradouro. Com o desbloqueio das capacidades de hardware necessárias, a corrida ao ‘novo ouro’ – visível nos investimentos milionários anunciados semanalmente – demonstra claramente a enorme expectativa da sociedade em relação à IA.

Um dos dilemas fundamentais reside no facto de a inteligência artificial, tal como a generalidade das tecnologias disruptivas no passado, afetar uma lista infindável de stakeholders. Se metade do seu potencial for alcançado, praticamente todas as pessoas e entidades serão impactadas, seja de forma negativa ou positiva. Áreas como o serviço ao cliente e as tecnologias de informação, por exemplo, apresentam grande potencial de evolução.

É fundamental abraçar totalmente esta oportunidade, evitando a tentação de regular excessivamente como, a meu ver, já acontece na União Europeia. Para o sector dos serviços é fundamental a disponibilização e agregação de dados diversificados, para melhorar cada modelo e dar-lhe a robustez e pertinência desejadas. Nesse sentido, o equilíbrio entre o valor da privacidade dos dados, os mais diversos segredos empresariais, a capacidade de os estruturar e, acima de tudo, a interpretação das necessidades do negócio em cada momento é essencial para que a tecnologia possa ser mais do que um mero “gadget”.

Entre oportunidades e desafios, está e estará sempre o ser humano. Ainda que a superinteligência artificial esteja presente, não se tratará apenas de mais uma perspetiva na permanente luta entre o ser humano e as suas próprias criações? Afinal, a necessidade de mediação humana não será, na sua essência, semelhante à que existiu na Revolução Industrial? Podemos ainda não perceber totalmente como se estabelecerá esse encontro de forças, mas ele acontecerá inevitavelmente. Entre a certeza estatística que cada caso de negócio exige e a capacidade iterativa dos modelos, estará o ser humano a calibrar a direção. Entre o potencial de criação de conteúdo e as nossas necessidades, terão de surgir novas profissões e competências para moldar de forma cada vez mais perfeita a utilização das capacidades tecnológicas e os casos de uso que se querem implementar.

A interpretação das necessidades do negócio em cada momento é essencial para que a tecnologia possa ser mais do que um mero “gadget”.

Sempre que surjam problemas complexos – à luz da tecnologia, não necessariamente da perspetiva humana – uma das formas mais eficazes de acelerar a resolução é confiar no nosso discernimento. É essa confiança que deve motivar-nos a abraçar a oportunidade, pois nunca uma revolução tecnológica significativa foi travada pela resistência à mudança.

Por tudo isto, acredito que o futuro da produção de serviços passa, indubitavelmente, pelo desenvolvimento de aplicações de IA que nos permitam ser capazes de usar mais conhecimento, com mais rapidez, sempre que precisarmos. O impacto na formação profissional, na nossa capacidade de adaptação ao cliente e no foco na empatia traduz-se num valor comercial significativo, proporcional à predisposição das empresas para o adotarem. Além disso, a formação para a utilização da IA em ambiente empresarial é indispensável, uma vez que estão a nascer novas profissões que exigem novas skills, não só para desenvolver, integrar e personalizar soluções, como também para gerar valor tangível dos novos dados produzidos com auxílio de sistemas com IA. Este último aspeto, crucial, permitirá uma iteração virtualmente infinita em todos os setores de atividade.

É provável que a maioria das pessoas se assuste mais do que se encante quando observa o potencial da IA. No entanto, se conseguimos melhorar capacidades sensoriais vitais de forma tão expressiva, não podemos ignorar o potencial de disrupção positiva que temos à nossa frente. Arrisco-me a afirmar que, como aconteceu no passado, nada disto será possível sem a liderança da inteligência humana em todas as fases do negócio, e que, a longo prazo esse será o grande fator diferenciador no mercado.