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A internacionalização no mercado IT 

por Ricardo Rocha

10 de Maio, 2024

Internacionalizar um negócio é muito mais do que “apenas” prestar serviços para alguns clientes internacionais. Pensamento estratégico, conhecimento dos mercados e dinâmicas locais e uma elevada capacidade de adaptação e resiliência, exige-se! 

A aceleração digital e tecnológica a que temos assistido nas últimas décadas e, em especial, nos anos mais recentes, abriu uma janela de oportunidade para as empresas portuguesas que prestam serviços de implementação e consultoria IT, para expandir e internacionalizar o seu negócio. 

A tecnologia é universal e muito pouco impactada por condicionantes “regionais”, o mundo é global e as necessidades de expertise técnica são generalizadas. 

A era da transformação digital trouxe-nos também a escassez de talento. A geração “mais qualificada e preparada de sempre” não é suficiente para acompanhar o ritmo de aceleração tecnológica e de inovação. Escasseia o talento especializado, novas tecnologias, soluções, linguagens surgem a um ritmo avassalador e a procura por competências técnicas supera largamente a oferta. Este é um mercado verdadeiramente global e altamente competitivo. 

Por outro lado, as Digital Nations como Israel, Estónia, Dinamarca…e também Portugal, tornaram-se fornecedores de talento e inovação, com excelentes capacidades tecnológicas, de conhecimento, infraestruturas e níveis de inovação cada vez mais apetecíveis, não tanto numa perspetiva de mercados locais (que são manifestamente pequenos) mas enquanto hubs para uma operação global. 

Alavancar o crescimento de uma operação internacional em fortes parcerias estratégicas locais, é um dos caminhos mais comuns e uma estratégia muitas vezes bem-sucedida. No entanto, obriga a uma gestão próxima e dedicada.

É neste contexto económico, tecnológico e geográfico que surge a oportunidade, que, no entanto, acarreta um conjunto de desafios: 

  • Legal e Regulatório

Iniciar a operação num novo mercado obriga ao cumprimento de um conjunto de requisitos legais e de compliance distintos (mesmo dentro da zona euro) e, em alguns casos, de elevada complexidade. Uma rede complexa legal e regulatória, que é necessário acomodar. 

  • Maturidade dos mercados e localizações-chave – Qual o driver? Mercado ou Talento?

Quando olhamos para a internacionalização, podemos fazê-lo de duas formas diferentes. Uma, na perspetiva de “onde está o talento que preciso para potenciar o meu negócio”, ou seja, uma lógica de internacionalização centrada na criação de Hubs/CoE (Centros de Competências) a partir de onde a empresa desenvolve as suas soluções e presta os seus serviços para os seus clientes globais. Ou, por outro lado, uma estratégia de internacionalização focada no negócio: “Onde está o meu mercado?” e “Onde posso obter mais negócio, mais clientes e rentabilidade?”. Ambos os caminhos são válidos e, provavelmente, ambos necessários a uma estratégia de internacionalização bem-sucedida.

  • Estratégia de investimento– Crescimento Orgânico ou Investimento forte?

O caminho mais “fácil”, especialmente para as empresas nacionais onde o capital para investimento escasseia, é uma estratégia de crescimento “orgânico”. Aposta numa internacionalização de baixo risco, com uma presença local mínima e alavancada por um projeto ou cliente conquistado além-fronteiras. Serviços prestados remotamente (nearshore/offshore), garantido, níveis interessantes de rentabilidade e baixo nível de risco. Uma estratégia mais segura, certamente, mas também lenta e insuficiente para ganhar efeito de escala e tornar “verdadeiramente” a operação numa operação global.  

  • Modelo de entrega – Offshore, Nearshore, Onshore – Think globally, act locally? 

No que toca aos serviços IT e no contexto referido de escassez global de talento, os mercados mais evoluídos e maduros (Estados Unidos, por exemplo) são recetivos a modelos de fornecimento de serviços remoto – nearshore ou offshore. É uma prática bem aceite e muito comum, em especial via LATAM (América Latina) e Índia. Ainda assim, se as vantagens deste modelo são inegáveis, quer para o cliente, quer para o fornecedor, são também limitativas, a partir de certo ponto, para uma verdadeira internacionalização e operação global.

  • Alianças estratégicas

Alavancar o crescimento de uma operação internacional em fortes parcerias estratégicas locais, é um dos caminhos mais comuns e uma estratégia muitas vezes bem-sucedida. No entanto, obriga a uma gestão próxima e dedicada. Encontrar parceiros de negócio fiáveis, alinhar expectativas e objetivos, proteger propriedade intelectual e talento, ou mesmo, estabelecer joint-ventures.

  • Cultura e Liderança Global

Internacionalizar um negócio é muito mais do que “apenas” prestar serviços para alguns clientes internacionais. Certamente, esse é o primeiro passo, são necessários clientes, negócios, revenue. Porém, à medida que a operação internacional ganha dimensão, é necessário transformar verdadeiramente a organização, para que adquira um mindset multinacional. A não implementação de procedimentos tão básicos como definir um idioma oficial na organização, adequar as ferramentas internas ou a integração bem-sucedida de equipas multinacionais e multigeográficas são barreiras a uma internacionalização bem-sucedida. 

  • Credibilidade e confiança

Vital para o sucesso de qualquer negócio, essa é a primeira “barreira” à entrada num novo mercado internacional, em especial, se se tratar de um mercado maduro e de muito maior dimensão do que o mercado nacional. Passar, por exemplo, de uma posição de liderança no mercado português, para ser “mais um”, com níveis de notoriedade baixo, no mercado global, é um passo gigante e que exige uma abordagem e uma alteração de comportamentos significativa na própria estrutura organizacional. 

A internacionalização está longe de ser um caminho fácil e de resultados imediatos. Pensamento estratégico, conhecimento dos mercados e dinâmicas locais e uma elevada capacidade de adaptação e resiliência, exige-se! 

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