O Vaticano também já entrou no mundo dos NFTs e Web3
por The Next Big Idea | 19 de Maio, 2023
A Biblioteca do Vaticano juntou-se à NTT DATA para lançar um Projeto de Apoio Web3. Uma iniciativa que visa preservar peças valiosas da história humana, tornando-as mais acessíveis ao público através da sua primeira “Plataforma Comunitária Web3”.
Apesar de obras de arte com vários séculos, a biblioteca do Vaticano não é assim tão antiga como poderíamos achar. Formalmente conhecida por Biblioteca Apostólica Vaticana, está situada no interior do Palácio do Vaticano e é especial por ser considerada uma das maiores bibliotecas do mundo, graças ao trabalho de séculos, a colecionar livros, manuscritos, documentos e uma grande variedade de quase 20 mil obras de arte e 300 mil moedas históricas.
Em 2014, a Biblioteca do Vaticano iniciou um programa de conservação e digitalização de parte da sua coleção, de forma a garantir a preservação das várias peças valiosas que marcaram a história da humanidade, tornando-as também disponíveis a um maior grupo de pessoas. A solução encontrada para agilizar este processo é chamada de “AMLAD”. Esta é a sigla de Advanced Metadata Library and Digital Archive for Museums and Libraries (Biblioteca Avançada de Metadados e Arquivo Digital para Museus e Bibliotecas). Desenvolvida pela NTT DATA (ex-Everis), esta tem sido utilizada na Biblioteca para arquivar digitalmente cerca de 1.6 milhões de livros impressos, 80 mil manuscritos, 300 mil moedas e medalhas e 150 mil gravuras e desenhos.
Ainda que os museus e as bibliotecas se esforcem arduamente para conservar os seus bens culturais e obras de arte, estes estão constantemente em risco de deterioração e é por isso que projetos como a “AMLAD” são tão importantes. A digitalização representa uma oportunidade única para a manutenção e preservação dos itens e, com o desenvolvimento tecnológico, a NTT DATA criou uma solução para arquivar dados digitalmente em 2D e 3D.
Digitalização 3D, restauro digital e a gestão de metadados são formas de garantir a representação exata e detalhada de artefactos culturais em formato digital. É uma nova realidade que representa o futuro dos arquivos digitais, facilitando os sistemas de pesquisa através de uma localização mais rápida e eficaz de dados e documentos e promovendo a utilização e consulta dos mesmos, enquanto preserva a longo prazo os milhares de exemplares da coleção. Esta solução foi elaborada também com o objetivo de disponibilizar os arquivos a investigadores em qualquer parte do mundo, tornando a consulta mais acessível e promovendo o uso destes documentos entre o mundo académico e da investigação.
Asahi Hasebe, responsável pelo projeto AMLAD da NTT DATA, explica que “existe um grande número de bens culturais valiosos armazenados em instituições culturais de todo o mundo. No entanto, só conseguimos vê-los se formos até lá e, mesmo indo, é muito difícil encontrar o que se procura. No entanto, se os dados forem corretamente arquivados, é possível encontrar e consultar facilmente o que se pretende, independentemente do local do mundo onde estejamos”.
O Projecto de Apoio Web3 é uma iniciativa para criar a primeira Plataforma Comunitária Web3 da Biblioteca do Vaticano. Isto é possível através da utilização de tecnologia blockchain que vai conectar a Biblioteca com entusiastas e investigadores espalhados pelo mundo inteiro. A tecnologia blockchain é um tipo especial de base de dados descentralizada que é distribuída e mantém um número de registos protegidos contra interferências não autorizadas, fora e dentro da própria rede.
A tecnologia Web3, graças às suas características de permanência e utilização livre, é perfeita para criar ligações e comunidades baseadas em confiança. Desta forma, esta criação de relações com base em conteúdos digitais é facilmente atingida com os tão esperados arquivos digitais.
No mundo de incerteza em que vivemos, as instituições culturais têm de se adaptar para continuarem a ser relevantes para os seus públicos atuais e futuros. A Web3 cria possibilidades únicas, com tecnologias baseadas na descentralização, afastando-se de uma economia centralizada e privada. Esta deslocação para o mundo das artes e da cultura, não só garante uma gestão mais abrangente de todas as partes envolvidas, mas também implica novos tipos de interações com criadores, mercados e colecionadores. A Web3 nas artes é um novo espaço num ecossistema já existente, mas com muito potencial.
A solução da Web3 vem ainda introduzir o fator importante da experimentação. Não é segredo que, agora mais do que nunca, consumidores valorizam mais diversidade na forma como utilizam novas tecnologias. Contudo, para que isto aconteça é necessário que se testem essas tecnologias, por exemplo, criando ou comprando um NFT, vendendo a experiência de uma forma especial mas percetível. Comprar um NFT para doar a uma causa social ou usar tokens para votar num projeto comunitário são duas utilizações simples de tecnologia blockchain que podem mudar muito dos nossos sistemas sociais.
Como recompensa a quem compartilhar a iniciativa nas redes sociais ou mostrar seu apoio à Biblioteca do Vaticano, vão ser distribuídos NFTs que dão acesso a imagens de alta resolução de 15 itens do património cultural presente na Biblioteca. Juntamente com as imagens, vão ser também incluídos textos explicativos sobre o projeto e qual o impacto do mesmo. O uso de tecnologia blockchain garante um certificado de posse que ao ser distribuído um NFT, garante que aquele artefacto é da respetiva pessoa pois há algo na rede que o confirma.
Já existem outros exemplos de iniciativas como esta espalhados pelo mundo como no Royal Museum of Fine Arts Antwerp, na Bélgica, o ICA Miami, nos Estados Unidos e o Museu do Mar de Xangai, na China. Existem ainda exemplos que levam este tipo de projeto ainda mais longe, tal como, o Building Arkive, que foi o primeiro museu descentralizado do mundo. Contudo, apesar deste não ser o primeiro, nem provavelmente o último museu a apostar neste tipo de inovação, é um grande passo para a Biblioteca do Vaticano por várias razões, uma das mais importantes sendo que mostra que a religião e a tecnologia não têm de ser inimigas e podem, na realidade, ajudar-se mutuamente.