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O que 20 milhões de euros investidos em batatas nos dizem sobre o futuro do planeta

por Gabriel Lagoa | 31 de Julho, 2025

Financiamento do Banco Europeu de Investimento apoia batatas que nascem de sementes verdadeiras e resistem melhor às alterações climáticas.

 

As alterações climáticas colocam pressão crescente sobre a agricultura mundial. Temperaturas extremas, secas prolongadas e doenças das plantas são um risco para a segurança alimentar e a Comissão Europeia reconhece que “a perda de rendimento devido às alterações climáticas é uma ameaça para a União Europeia e o resto do mundo”

A batata, um alimento básico para milhões de pessoas em todo o mundo, não escapa a estes desafios. Doenças como a requeima, uma infeção fúngica destrutiva, causam perdas significativas nas colheitas. Os métodos tradicionais de cultivo através de tubérculos apresentam limitações no transporte e armazenamento, especialmente em regiões com condições climáticas adversas, segundo a empresa neerlandesa de biotecnologia Solynta. 

Face a este cenário, o Banco Europeu de Investimento (BEI) decidiu apostar na inovação. O banco assinou um acordo de financiamento de 20 milhões de euros com a Solynta para acelerar o desenvolvimento de variedades de batata mais resistentes. O investimento insere-se no programa InvestEU da Comissão Europeia, de acordo com um comunicado divulgado na página da instituição.  

Sementes verdadeiras substituem tubérculos tradicionais

A abordagem da Solynta representa uma mudança na produção de batata. A empresa utiliza sementes verdadeiras em vez dos tubérculos tradicionais para cultivo. Esta tecnologia oferece uma vantagem prática: as sementes verdadeiras não se deterioram durante o transporte e armazenamento a longo prazo, ao contrário dos tubérculos maiores e mais pesados.

O método desenvolvido pela empresa neerlandesa exclui organismos geneticamente modificados (OGM) e permite adaptar rapidamente as características da batata a diferentes necessidades. As variedades resultantes mostram maior resistência à requeima e melhor adaptação às alterações climáticas.

“Operação vencedora” nas alterações climáticas

“A ação e adaptação climática estão no centro do nosso financiamento, tal como o crescimento bem-sucedido de empresas europeias inovadoras”, afirmou Gelsomina Vigliotti, vice-presidente do BEI. “A operação Solynta é vencedora nesse sentido. As batatas são um alimento básico em todo o mundo.”

A tecnologia desenvolvida permite criar variedades mais robustas que necessitam de menos produtos fitofarmacêuticos (produtos que se aplicam para proteger as culturas, como os herbicidas e inseticidas). As novas variedades contribuem para os objetivos de desenvolvimento sustentável das Nações Unidas, nomeadamente o fim da pobreza e da fome.

“Bem posicionados para responder à procura”

Peter Poortinga, CEO da Solynta, sublinha a importância do apoio financeiro e afirma que “com esta contribuição significativa do BEI, estamos bem posicionados para responder à procura crescente de variedades de batata novas e robustas. Os produtores de batata em todo o mundo precisam de acesso a material inicial livre de doenças.”

As variedades desenvolvidas pela Solynta propagam-se através de sementes verdadeiras e necessitam de menos químicos para proteção das culturas. O objetivo passa por melhorar a segurança alimentar global, particularmente para comunidades locais em regiões vulneráveis.

A Comissão Europeia apoia esta iniciativa no âmbito do InvestEU, considerando que contribui para a competitividade a longo prazo e sustentabilidade do setor agrícola da UE. O programa mobiliza pelo menos 372 mil milhões de euros em investimento adicional através de uma garantia orçamental de 26,2 mil milhões de euros.

Inovação alimentar expande-se a outros cultivos

A inovação na agricultura resiliente não se limita às batatas. No Japão, a empresa Sanatech Seed lançou comercialmente um tomate editado geneticamente com níveis elevados de GABA, um aminoácido que ajuda no relaxamento e na redução da pressão arterial. O tomate contém quatro a cinco vezes mais GABA que um tomate comum.

No Bangladesh, país classificado em sétimo lugar entre os mais afetados por condições meteorológicas extremas nas últimas duas décadas, segundo o Índice de Risco Climático Global, a subida do nível do mar faz com que a água salgada invada progressivamente as terras agrícolas costeiras. 

O Instituto de Investigação do Arroz do país respondeu criando variedades resistentes ao sal, uma vez que “o arroz normal não cresce em água salina” e “a salinidade drena a energia dos caules de arroz”, explica um cientista à AFP. O novo arroz consegue crescer em água com o triplo dos níveis de salinidade que o arroz normal suporta, oferecendo “nova esperança” aos agricultores das regiões costeiras.

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