Voltar | Empresas

Nvidia comanda a nova revolução industrial

por Abílio dos Reis (Texto) | 27 de Maio, 2024

A Nvidia voltou a alegrar os investidores ao anunciar um aumento de receitas de 262% em relação ao mesmo período no ano passado. Pelo meio do lucro, Jensen Huang, o CEO e líder da empresa de semicondutores, reiterou também que a próxima revolução industrial não está perto nem próxima: já começou.

Apesar de ter sido fundada há mais de 30 anos depois de os fundadores terem imaginado o negócio numa famosa cadeia de restaurantes (onde, curiosamente, Jensen trabalhou enquanto adolescente), o percurso estratosférico da Nvidia começou há um ano. Na altura, a empresa foi notícia por estar na iminência de ser a próxima “trillion-dollar baby” e por prever que a demanda pelos seus chips ia aumentar nos meses seguintes. Agora, voltou a fazer manchetes por ter fechado o primeiro trimestre fiscal do ano a superar (por muito) aquilo que eram as estimativas para os seus lucros e receitas.

Os highlights das contas (relatório)

  • Receitas na ordem dos 26 mil milhões de dólares (superou a estimativa de 24 mil milhões dos analistas);
  • lucro líquido aumentou sete vezes (para 5,98 mil milhões de dólares);
  • Triplicou as vendas em relação ao ano anterior pelo terceiro trimestre consecutivo;
  • Projeta receitas de 28 mil milhões de dólares para o trimestre em curso — número que já contempla as vendas do Blackwell, o mais recente e poderoso chipEste valor, lembra o The New York Timesé mais do dobro do valor de há um ano e está novamente acima das estimativas de Wall Street. 

Outros anúncios: a empresa vai avançar com um “stock split” (desdobramento de ações) à razão de 10 para 1 (que já se especula ser para dar entrada no Índice Dow Jones, seguindo o exemplo da Apple ou Microsoft) e vai elevar o dividendo a pagar aos acionistas de 0,04 dólares por ação para 0,10 dólares (um aumento de 150%) a partir de 28 de junho. 

Curiosidades

  • Este é o aspecto e o interior de uma sede de uma empresa avaliada em 2 biliões de dólares.
  • Em fevereiro, a Nvidia ganhou 276 mil milhões em valor de mercado num único dia. Como analisou o Jornal de Negócios, é mais do que PIB português.
  • Na última quinta-feira, o património líquido de Jensen Huang, de 61 anos, aumentou mais de 7 mil milhões de dólares. Nos últimos cinco anos, o seu o património líquido passou de 3 mil milhões de dólares para 90 mil milhões de dólares em cinco anos.

A próxima revolução industrial

Como se o mundo não o estivesse a sentir e a ver, Jensen Huang, o CEO desta tecnológica que faz parte das “sete magníficas”, explicou durante a apresentação de resultados financeiros que “a indústria está a passar por uma grande mudança” e que “a próxima revolução industrial já começou”. 

A liderar esta revolução está o mais importante negócio da empresa: as vendas de data center, que incluem os seus chips de IA, bem como muitas das peças adicionais necessárias para operar todo a tecnologia que as empresas precisam para treinar a sua IA. 

O poder do chip: só este departamento gerou 22,6 mil milhões de dólares de receitas no último trimestre. Tradução: mais 23% do que no último trimestre de 2023 e mais 427% do que há um ano.

A ação mais importante do planeta

Escrever que as ações da Nvidia têm estado “em alta” fica parco para uma ação que subiu 200% nos últimos 12 meses e 87% desde o início de 2024, segundo a Fortune. Na última quarta-feira, depois do anúncio dos resultados, a ação ultrapassou a fasquia dos 1.000 dólares.

Esta erupção absurda em forma de crescimento catapultou a Nvidia para a terceira maior capitalização de mercado do mundo, passando por pares tecnológicos como a Amazon, Google e Meta. Resumindo: atualmente, neste capítulo, maior do que a fabricante de chips, só mesmo a Microsoft e a Apple. 

Não admira, portanto, que a Goldman Sachs tenha catalogado a ação da Nvidia como “a ação mais importante do planeta Terra”.

À hora de escrita desta newsletter/artigo, a ação da Nvidia vale 1,065 dólares. Mais valiosas, de acordo com os dados do site Companies Market Cap, só encontramos duas: a da marca de luxo Hermès (2,389 dólares) e da Broadcom (1,408 dólares), uma empresa que não cresce tanto e não é tão mediática mas que também desenha chips (e lida com a Apple).

Vida além dos chips

Num episódio recente do 60 Minutos, Jensen Huang é catalogado como sendo um líder exigente, perfeccionista e com quem não é fácil de lidar no dia-a-dia. Questionado se ressoava com a realidade, respondeu “perfeitamente”. E justificou: “e deve ser assim, se quiseres fazer coisas extraordinárias”.

E na hora de fazer coisas extraordinárias a inovação tem de andar de mãos dadas com a ambição de liderar. Especialmente quando a concorrência e o investimento no setor é cada vez maior.

“A questão é saber se queremos ser repetidamente a empresa que fornece uma IA inovadora ou a empresa que fornece 0,3% melhor. É por isso que esta corrida, tal como todas as corridas tecnológicas, é tão importante”, salientou.

Para se manter na crista da onda, Huang tem um plano: expandir o seu negócio para além dos chips e criar todo um ecossistema através do NIM (integra o AI Enterprise, o serviço da nuvem da Nvidia).

Na prática, o NIM vai simplificar o desenvolvimento de aplicações alimentadas por IA e a implantação de modelos de IA em produção. Ou seja, como notou um especialista à CNBC, o NIM pretende ser para a Nvidia aquilo que o iOS é para a Apple.

Subscreva a nossa newsletter NEXT, onde todas as segundas-feiras pode ler as melhores histórias do mundo da inovação e das empresas em Portugal e lá fora.